Fundação Baiana -

Exclusivo: 'eu recebia da Fundação Restaurar sem trabalhar'

Por Rômulo Rocha
- Enviado a Pedro II

__________

180:Senhor Pedro Café, em relação à Fundação Evangélica Restaurar, o senhor disse que recebia dinheiro sem trabalhar?
Pedro Café:Exatamente. A minha ida à Restaurar era apenas para pegar o contracheque quando saía o pagamento. Geralmente dia 10 de cada mês.

(...)

180:E o senhor ri?

_________________________________

O DELATOR
O 180 localizou no município de Pedro II o senhor Pedro Café. Ele é primo da prefeita Neuma Café (PT), derrotada nas últimas eleições. Com uma riqueza de detalhes, Pedro relatou como recebia o dinheiro da Fundação Evangélica Restaurar, que atua para prefeituras petistas, incluindo Campo Maior, Pedro II e Juazeiro do Piauí.

Quando do começo das matérias publicadas pelo 180, a fundação ameaçou processar cívil e criminalmente o jornalista que escreve sobre o caso. Praxe. Mas as informações estão se avolumando. E o Blog Bastidores pôs a mão em uma gama delas.

O Ministério Público também está em pleno vapor e o temor é que o enredo da fundação que atua em vários estados do Brasil venha a destoar no estado do Piauí. A Fundação Evangélica Restaurar, como seu próprio site anuncia, está na Bahia - estado sede, e ainda Sergipe e Tocantins.

A fundação recebe dinheiro do Poder Executivo municipal para contratar pessoas que trabalham como que terceirizados para as prefeituras com as quais possui convênios.

Em muitas delas os convênios são por pastas. As suspeitas nesse processo são enormes por parte do Ministério Público.

Os relatos abaixo, na entrevista concedida por Pedro Café, são gravíssimos. Ele é fonte do Ministério Público, tem documentos, acusa a prefeita, a Fundação Restaurar e o que é pior para todos: está disposto a falar.

O que está abaixo não é quase nada.

VEJA A ENTREVISTA:__________________

180: Senhor Pedro Café, em relação à Fundação Evangélica Restaurar, o senhor disse que recebia dinheiro sem trabalhar?
Pedro Café: Exatamente. A minha ida à Restaurar era apenas para pegar o contracheque quando saía o pagamento. Geralmente dia 10 de cada mês.

_O delator Pedro Café, que de 'maluco' não tem é nada...

180: Quanto é que o senhor recebia?
Pedro Café: Quando eu sai da prefeitura [de Pedro II] eu estava ganhando R$ 2.550,00. Nunca dei um dia de expediente. Nunca dei um dia de expediente na Restaurar. Ninguém nem conhece os verdadeiros representantes.

180: E quem lhe alocou na Restaurar aqui em Pedro II?
Pedro Café: Foi a própria prefeita [Neuma Café]. Quando a Restaurar veio para Pedro II, parece que foi no mês de outubro [de 2015], que ela começou a trabalhar aqui, aí o que a prefeita fez? Passou boa parte do funcionalismo da prefeitura para a Restaurar. A conversa que a gente sabia era de que a prefeitura iria economizar dinheiro. Depois a gente descobriu que a Restaurar descontava o INSS da gente, mas não repassava o INSS. Então é outro esquema, né?

180: Como o senhor descobriu que do dinheiro descontado não era repassado o INSS?
Pedro Café: Claro, eu fui com o meu contracheque no posto do INSS aqui.

180: Saber se estava sendo repassado...
Pedro Café: Nunca foi repassado um mês.

180: Isso foi quando?
Pedro Café: Esse ano. No ano da eleição.

180: Ok. Quer dizer que a Restaurar não tinha controle de ponto com relação à sua frequência?
Pedro Café: Não, não, com ninguém. E eu sai e ela está me devendo um mês. E a funcionária disse: ‘não, o senhor não tem direito a receber porque não tem livro de ponto’. Ai eu disse: ‘ah, agora estão falando em livro de ponto?’. E antes como me pagavam?

180: O senhor é classificado aqui como agente operacional III na folha da fundação. O que faz um agente operacional III?
Pedro Café: Rapaz, sinceramente eu não sei não (Risos).

180: E o senhor ri?
Pedro Café: Não sei. Ninguém sabe não é? E aí vem as gratificações. Eles botam bônus por meta alcançada. Mas que meta, se nem trabalhar a gente trabalha (Risos)?

180: Quer dizer que o senhor não tinha nenhuma meta?
Pedro Café: Foi mais de um ano recebendo da Restaurar sem...

180: E não estabeleceram meta nenhuma para o senhor?
Pedro Café: E teve gratificação de dois mil [reais], por último ficou a gratificação de mil [reais] mesmo.

__Fachada da Fundação Evangélica Restaurar em Pedro II

180: O senhor relatou isso ao Ministério Público?
Pedro Café: O promotor até disse: ‘o senhor ganha sem trabalhar?’. Eu disse: 'não foi opção minha não'. A prefeita foi quem quis. Quando eu era diretor de esportes [da prefeitura] eu trabalhava e trabalhava muito. Tanto é que ela nem gostou, tirou, porque gerava gastos para a prefeitura.

180: O senhor chegou a comunicar à prefeita que estava recebendo da Restaurar sem trabalhar?
Pedro Café: Não precisava, se ela mais do que ninguém sabia, não é?

180: Quantos funcionários o senhor acha que tem na Restaurar em Pedro II?
Pedro Café: No mínimo uns 600 funcionários.

180: E o senhor recebia o dinheiro em qual conta?
Pedro Café: Na minha conta particular do Banco do Brasil.

180: Algum outro funcionário que o senhor conhece relatou que recebia sem trabalhar?
Pedro Café: Não me relatou não, mas eu conheço gente que recebia sem trabalhar.

180: O senhor podia apontar essas pessoas, com tranquilidade, para as autoridades públicas?
Pedro Café: Na hora, na hora.

180: Seria um grupo de mais ou menos quantas pessoas?
Pedro Café: Sem trabalhar são os chamados privilegiados, que só pegam o dinheiro mesmo. Mas a maioria exerce uma função lá na prefeitura. Mas eu e alguns realmente recebiam sem trabalhar. Tem gente que recebe e mora até fora do estado.

180: Da Restaurar?
Pedro Café: Não, da prefeitura.

180: O senhor não tem medo de que esse dinheiro que o senhor recebeu da Restaurar sem trabalhar tenha que ser devolvido?
Pedro Café: É um período de um ano. Se for, a gente dá um jeito de devolver. Mas acho que o problema maior é para a prefeita. Não foi a minha vontade ficar lá sem trabalhar. Ela quis assim. Me botou assim, tipo na geladeira.

180: Mas aí o senhor aceitou, no caso, não é?
Pedro Café: É que eu não podia abrir mão do salário.

180: O que fez o senhor romper com a prefeita? O senhor é primo dela, não é isso?
Pedro Café: Sou primo bem próximo.

180: O que fez o senhor romper com a prefeita?
Pedro Café: O problema já vinha se arrastando desde 2014. O que fez romper mesmo foi salário atrasado, dois meses de salário atrasado.

_Prefeita Neuma Café

180: Mas ela disse que o senhor estava gerando gastos à frente da diretoria de esportes...
Pedro Café: Porque a maioria dos prefeitos que não tem afinidade com Esportes eles não gostam. Eles tem a secretaria só para ter mesmo. Eles não gostam de quem gera despesa.

180: A prefeita Neuma Café, ano passado, registrou um B.O onde relata que o senhor teria algum problema psicológico. O senhor tomou conhecimento, claro. O que o senhor pretende fazer diante disso aqui. O senhor tem algum problema psicológico?
Pedro Café: O que aconteceu, na verdade, é que quando foi feita as denúncias por mim, a prefeita ao invés de se defender, de dizer que eram mentiras as denúncias - o normal era que ela dissesse que iria me desmentir, que iria me processar -, mas ela fez o contrário. Ela passou a me desqualificar, dizendo que eu era uma pessoa com problemas psicológicos, que tomava remédio controlado...

180: O que o senhor quer me dizer é que ao invés dela rebater através de ideias e fatos, ela tentou lhe desqualificar, é isso?
Pedro Café: Dizendo que eu tenho problema psicológico, que eu tomo remédio controlado, que sou uma pessoa frustrada...E que eu queria espaço nas contas públicas. Isso aí foi o que mais me indignou.

______________________________

VEJA MATÉRIAS JÁ DIVULGADAS SOBRE A RESTAURAR

-Exclusivo: contrato da Restaurar com Pedro II é uma ‘simulação’

-Exclusivo: ‘Folha Secreta’ em Campo Maior tem quase 1.000 nomes

- Restaurar também atua na cidade de Juazeiro do PI, mas não cita no site

Fonte: None

Comentários

Trabalhe Conosco