Não é apenas um 'joguinho' -

A importância dos Jogos de Tabuleiros

Quando eu era criança costumava jogar muitos jogos de tabuleiro. Sempre os tratei como uma mera opção de entretenimento, pois foi exatamente desta forma que eles me foram apresentados, como um brinquedo para me divertir nas horas livres.

O tempo passou, surgiram videogames com gráficos cada vez mais realistas (apesar de eu ainda manter uma relação um tanto saudosista com as primeiras edições de Age of Empires), celulares que cada vez menos são utilizados com a finalidade de telefonar para alguém e nos quais você pode instalar quantos apps seu aparelho aguentar.

Assim, jogar algo que vai na contramão desse desenvolvimento todo, que é um entretenimento medieval, parece algo impensável.

Nesse cenário onde praticamente tudo depende de uma boa rede 3G ou um wifi decente, aqueles que se dispõe a jogar um jogo de tabuleiro têm trabalho dobrado.  Desde conseguir reunir uma quantidade mínima de pessoas na mesma data, horário e local (o que por si só já é uma tarefa hercúlea), a convencê-las de que será algo legal de se fazer.

Eu consegui, depois de algumas tentativas frustradas, convencer um grupo de amigos a jogarem comigo. Senti como se estivéssemos atravessando o armário rumo a Nárnia, tamanho era o desconhecimento deles sobre o que iria acontecer.

Galera!!! Após as apresentações iniciais, meus amigos mudaram o status para “relacionamento sério com boardgames”, e me senti como aqueles cupidos clichês de comédias românticas. Fiquei seriamente interessada em descobrir o porquê de isso ter acontecido tão rapidamente e de maneira tão intensa.

É comum o mercado de boardgames apresentar os jogos como uma opção para as pessoas se desconectarem, remetendo à ideia da avalanche tecnológica em nossas vidas, mas na realidade esse amor à primeira vista ocorreu justamente pois fez meus amigos se conectarem, e não o contrário.

Como assim? Você, leitor, me pergunta. Nas próximas linhas vou contar alguns projetos dos quais participei, que me fizeram entender que os jogos de tabuleiro não são apenas joguinhos ou diversão, eles têm um poder muito maior, segue aqui comigo.

Quando você senta para jogar se conecta com as pessoas que estão com você, com a partida que está à sua frente e, principalmente, com você mesmo. Além disso, quando você joga você conhece de verdade aqueles que estão na mesa com você, todos conseguem se despir de quaisquer máscaras e passam a ser iguais de verdade. São apenas pessoas com suas qualidades e defeitos, como deveria ser em todas as situações. Se você tem problemas com seu chefe, jogue com ele, isso te permitirá tirar a máscara chefe-subordinado, e os colocará na mesma posição, permitindo assim se conhecerem de verdade. Qualquer pré-conceito existente acaba nesse momento.

Jogos de tabuleiro têm o poder de colocar todos em pé de igualdade como seres humanos. Participei de projetos com crianças especiais, idosos em casas de repouso, adolescentes, e o resultado foi fantástico em todas as situações.

As crianças especiais, que muitas vezes são incompreendidas justamente pela dificuldade na comunicação, descobriram nos jogos um veículo para transmitir aquilo que estavam sentindo. Os idosos, desanimados com a vida, que já se entregaram e parecem apenas esperar, têm sua energia despertada e parecem recobrar o ânimo da juventude que já se foi. Adolescentes, seres incompreendidos pela natureza da transição, são capazes de se reconectar com eles mesmos, ignorando o turbilhão emocional natural da idade, e desenvolvendo habilidades que muito em breve serão extremamente necessárias como auto controle, empatia, raciocínio lógico.

Jogos de tabuleiro não são apenas jogos, não são apenas uma opção de entretenimento. São ferramentas transformadoras que nos reconectam com algo que parece estar se esvaindo aos poucos, nossa própria natureza.

Texto incrível da Bruna Petrocelli

Fonte: Bruna Petrocelli

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