Luto -

Pires de Sabóia, um mestre do jornalismo político piauiense

Teresina amanheceu ontem cheia de lugar-comum em torno de um fato extraordinário. Nas redações, nas rodas políticas, nas redes sociais, sempre as mesmas expressões: “A imprensa do Piauí está de luto”, “Era um dos ícones do jornalismo piauiense”, “Ele foi um mestre em sua profissão”, “Um grande amigo”....

Além destes e de outros atributos profissionais, ele tinha outros, pessoais – inúmeros – que o distinguiam como cidadão, companheiro e amigo. Arguto, bem informado e invejável fluência verbal... Sempre gentil com as fontes e atencioso com os colegas de trabalho, sobretudo com os que ainda não haviam acumulado experiência.

Versátil – ou multimídia, como se diz no jargão da comunicação – atuou intensamente em jornal, televisão e rádio. Também - e por que não? – no jornalismo on-line. Trabalhou em praticamente todos os veículos de comunicação do Piauí, como repórter, analista político ou editor. Em todos eles, deixou sua marca de dedicação, zelo e independência jornalística.

Pois é. O jornalista personagem central desta crônica, Pires de Sabóia, falecido ontem, aos 68 anos, chegou ao Piauí em meados da década de 70, vindo do Ceará. Jovem ainda, já havia trabalhado nos mais importantes veículos de comunicação de Fortaleza. E veio trazer sangue-novo para a imprensa piauiense, num período em que ela buscava se renovar.

É de uma geração antes da minha. Quando me iniciei no jornalismo, no jornal O Dia, ele era editor-chefe do Jornal da Manhã, recém-fundado. Comandava uma redação que reunia consagrados, jovens e promissores talentos do jornalismo piauiense. Vários deles vieram a pontificar depois na imprensa local.

Era também – e por que não? – chegado à boêmia. E aí mais um lugar-comum para definir a sua personalidade: “Só fazia mal a ele mesmo”. Mas as noitadas e os copos em conversas de mesa de bar com os amigos já haviam ficado para trás. Há anos ele havia se aposentado da boêmia.

Acompanhei-o em muitas de suas noitadas, mais pela companhia e pelo papo do que pela bebida. E aquelas incursões noturnas pelos bares e pelos botecos da cidade acabavam sempre quando ele começava a cantarolar, já com a língua embolada – talvez lembrando as praias da Fortaleza de sua juventude: “Marinheiro, é hora/ É hora de viajar...”

Quem o conheceu tem sempre pelo menos uma boa história com ele para contar. Uma história – quase sempre alegre – que agora vira uma boa recordação. Breve passa a ser saudade. Uma saudade que é tão grande que Dorotéia, Ubiracy e Ubiratan têm que dividir com todos nós, seus amigos.

Vá em paz, mestre Pires!

Fonte: (Diário do Povo - http://www.diariodopovo-pi.com.br/)

Instagram

Comentários

Trabalhe Conosco