Campo Maior -

Questões conservadoras: histórico do Hino de Campo Maior

A história do hino de Campo Maior tem cerca de meio século. Foi nos idos da década de sessenta que ele surgiu, não como hino inicialmente, mas como uma música que foi cantada por algumas crianças numa escola de Campo Maior, enquanto se realizavam apresentações artísticas. Naquela época, crianças ainda eram ensinadas a respeitar os símbolos patrióticos, como a bandeira do Brasil. Um espírito conservador estava presente.

As professoras Valmira Napoleão e Maria Alves Pontes parodiaram uma música que ouviram num circo, que se apresentava em Campo Maior naquele período. Os circos, assim como acontece hoje, seguiam em caravana e apresentavam espetáculo em várias cidades. Esse circo fazia um tour pelo nordeste e estava naquele momento em Campo Maior. Durante o espetáculo uma música era cantada (Cidade Morena), e o nome da cidade de Campo Grande era substituía pelo nome de Campo Maior em dado momento na letra, numa forma de agradecer e de conquistar a público campomaiorense presente.

As duas professoras decidiram, numa apresentação escolar, apresentar a música, mas com alterações na letra original, incorporando temas relacionados a Campo Maior, como a Batalha do Jenipapo e temas da geografia e economia campomaiorense, além de destacar os aspectos da beleza inconfundível de Campo Maior. A apresentação foi um grande sucesso e a música foi muito bem recebida, sendo posteriormente cantada em outras escolas, que solicitaram a mesma apresentação. Onde as crianças se apresentavam, eram ovacionadas e a música começou a ser entronizada na identidade do campomaiorense, especialmente dos estudantes e das professoras, nesse primeiro momento. Campo Maior não tinha hino até então.

Comentava-se muito na cidade essa linda música que homenageava Campo Maior e retratava tão bem seus valores. Os primeiros anos se passaram, mas a música não foi esquecida. Nas apresentações do poder público municipal e da Polícia Militar, nenhum hino era entoado, pois não existia o "hino de Campo Maior", a única manifestação que existia era a música das duas professoras. O Capitão Geraldo de Sousa Câncio, na época o comandante da Polícia, começou a cantar a música em cerimônias militares e cívicas em que participava, pois a música cobria a ausência de um hino. O capitão começou a dizer que essa música deveria se tornar o hino de Campo Maior. Mais tarde, em cerimonias oficiais do município, a música começou a ser cantada, apenas de forma artística, pois era uma apologia à Campo Maior, seus heróis e sua terra. A esse tempo, onde quer que a música fosse ouvida, era cantada por muitos presentes. A música e a letra estavam gravadas na memória e as pessoas criaram forte laço de identidade com a canção. Mas, até aqui, Campo Maior permanecia sem um hino oficial.

Em 1983, com a música sendo cantada em todas as ocasiões próprias, celebrações e datas especiais, em escolas de toda a rede municipal de educação, a Câmara Municipal do município decidiu acatar o que já era comum e aceito por todos, e a música torna-se o hino oficial da cidade de Campo Maior, conforme a Lei Municipal Nº 004/83, de 23 de agosto de 1983.

O hino de Campo Maior não foi imposto de cima para baixo, como se a Câmara dos Vereadores, a revelia dos munícipes, tivesse ditado essa lei. O processo foi justamente o oposto disso: os campomaiorenses escolheram essa música e cantaram por pelo menos duas décadas (ou perto disso) essa música, antes que ela se tornasse, por vontade popular, o hino de Campo Maior. As professoras Valmira Napoleão e Maria Alves Pontes nunca tiveram a pretensão de tornar essa música o hino de Campo Maior, como vimos. Foi justamente essa força patriótica que a música carregava em sua letra que promoveu nos corações dos campomaiorenses esse sentimento de pertencimento e de identificação. O tempo tratou de forjar nos corações essa canção, que foi levada por vontade popular irresistível, até chegar a Câmara, onde a lei é criada e o prefeito, naquele momento, César Ribeiro Melo, sancionou a lei.

Hoje debate-se, na mesma Câmara, a remoção do hino de Campo Maior e a revogação da lei que o instituiu. As pessoas que estão promovendo a proposta esquecem dos malefícios que a exclusão de um símbolo cívico pode provocar numa cidade. Um hino é uma identidade, é como um nome pessoal. Quando alguém chama o nome de outro, a resposta imediata é olhar em direção à pessoa que chama, pois sua identidade foi provocada. Quando o hino de Campo Maior é cantado na cidade, os campomaiorenses se identificam imediatamente com ele. Quando miramos a nossa bandeira ou o nosso brasão municipal, nos identificamos também, mas os laços de identidade são ainda maiores com o hino, por se tratar de música e promover mais emoção. retirar o hino de Campo Maior significa não respeitar a identidade e os símbolos adotados pelo povo.

Para encerrar esse texto, acrescento que é perceptível os malefícios que uma educação não patriótica e o reducionismo dos símbolos patrióticos podem causar em uma sociedade. A falta de patriotismo, de zelo pelas tradições, e um espírito não conservador podem promover mudanças radicais e danosas a toda uma sociedade. A Câmara de Campo Maior terá que ter um espírito muito patriótico para enfrentar todos os desafios que lhe estão sendo impostos nesse tempo.

Fonte: None

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