Apontado por morte de criança -

Justiça revogou ainda em 2016 liminar que garantia ingresso de soldado à PM

Por Apoliana Oliveira

Ainda em setembro de 2016, a liminar que garantiu o ingresso do soldado Aldo Luis Barbosa Dornel à Polícia Militar foi revogada pelo juiz Rodrigo Alaggio Ribeiro, da 1ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública. Ainda na condição de candidato do concurso realizado pela Nucepe, Aldo foi reprovado na fase de exame psicológico, e acionou a Justiça, sendo convocado para o Curso de Formação de Soldados ainda em condição sub judice.

O soldado é apontado como autor dos disparos que atingiram a menor E. C., de 9 anos, que estava com a família em um carro que foi perseguido pela PM na madrugada de segunda para terça-feira (26/12). Os pais, temendo serem multados, chegaram a negar ordem de parada, mas quando finalmente encostaram o veículo, foram surpreendidos pelos tiros efetuados pelos militares. Dois deles acertaram a criança, que morreu no hospital após passar por cirurgia. Os pais de E. C. também foram feridos à bala.

Com a liminar que garantiu o ingresso de Aldo à PM revogada, a permanência do soldado nas fileiras da corporação trata-se de decisão meramente administrativa, como reforçou a Associação dos Magistrados Piauienses em nota encaminhada à Redação. “Portanto, ao revogar a liminar anterior, o juiz afirma que o edital regente do processo seletivo da Polícia Militar observou critérios objetivos quanto à aplicação do teste psicológico, além de ter conferido aos candidatos - dentre eles, Aldo Luís Barbosa Dornel -, acesso à documentação e aos laudos técnicos que os consideraram não recomendados”, acrescenta a nota.

Reprovação em exame psicológico
Documentos obtidos pelo 180grausmostram que, em sua avaliação psicológica na 4ª etapa do concurso, o então candidato Aldo Dornel foi considerado insuficiente nos quesitos “controle emocional, ansiedade, impulsividade, flexibilidade e disciplina”.

Junto com outros candidatos também reprovados, entrou na Justiça sustentando que foram avaliados a partir de um perfil profissiográfico, não previsto em Lei, e considerando critérios subjetivos, pedindo assim a nulidade do exame aplicado e a realização de um novo. Em razão de liminar concedida, o então candidato foi convocado para o curso de formação, conseguindo entrar na PM.

O soldado Dornel, que está preso, teria efetuado pelo menos cinco disparos contra o veículo onde estava a menina E. C., os pais dela - também feridos à bala - e mais duas crianças. A informação sobre os disparos foi dada, segundo o Coronel Vagner Torres, em depoimento prestado pelo Cabo Francisco Alves, que fazia ronda junto com o soldado na madrugada de segunda para terça-feira (26/12).

De acordo com este depoimento, assim que a família parou o veículo em frente a uma concessionária da Avenida João XXIII, o soldado Dornel desceu da viatura, efetuou cinco disparos, e seu companheiro deu mais dois tiros para cima. Esta versão foi confirmada por testemunhas e pela mãe da criança, a dona de casa Daiane Caetano, que foi atingida no braço. Disparo este que por pouco não acertou o bebê de 8 meses que estava em seu colo.

"Abordagem mal feita"
Em entrevista à TV, o comandante do Policiamento Metropolitano da Região 1 da capital, Coronel Vagner Torres, reconheceu a ação que terminou na morte da criança como uma "abordagem mal feita". "Poderia ter pedido reforço, ter aguardado um local mais adequado para fazer essa abordagem e com certeza ter evitado essa tragédia", disse o militar.

Os dois policiais envolvidos estão presos e a responsabilidade pelo ocorrido será agora investigada em um inquérito militar, cuja conclusão deve ocorrer no prazo de 20 dias.  A morte da menina também está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios de Teresina, em procedimento presidido pelo delegado Higgo Martins.

A Polícia Civil já solicitou exames de balística, o laudo do exame cadavérico realizado no corpo da criança, exames de corpo de delito do pai e da mãe da menina, e também imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos próximos ao local da ocorrência.

Pai da menina continua internado
Evandro Costa, que é cantor sertanejo, continua internado no Hospital de Urgência de Teresina, e apesar de estável, seu quadro de saúde inspira cuidados. Diferente do inicialmente noticiado pelo 180, ele sofreu um disparo na cabeça e está com uma bala alojada no crânio. Evandro sofreu traumatismo craniano e está em observação.

Mãe diz que PM recolheu cápsulas
A mãe da menina disse à TV que saiu de casa com a família rumo à região do Grande Dirceu, já que a filha estava com fome. Ao tentar fazer uma rotatória, Evandro Costa, seu esposo - que também foi baleado -, acabou subindo no meio-fio, momento em que a viatura começou a segui-los. 

Ao reparar que estavam sem o bebê-conforto, Daiane logo disse apreensiva ao marido que os dois poderiam ser multados. Seguiram em fuga, mas assim que viu a sirene da viatura ligada a mulher pediu ao marido que parasse. "Assim que parou a polícia ficou um pouquinho distante e começou a atirar", contou. A dona de casa disse ainda que "todo mundo que estava ao redor viu" quando um dos policiais começou a recolher as cápsulas provenientes dos disparos. Relatou inclusive que os militares pediram a chave do carro e levaram para fazer a perícia.

Caso semelhante
A história do soldado semelhanças com o caso do militar Allisson Wattson da Silva, réu pela morte da estudante de Direito, Camila Abreu, crime ocorrido em outubro deste ano. Ele também foi reprovado na fase de exame psicológico no processo de ingresso à Polícia Militar, e garantiu a farda com ajuda de uma liminar. Wattson foi aprovado em um concurso da PM realizado em 2006, mas só ingressou na corporação em 2008.

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