Marvel se reinventou -

Crítica | Os Heróis Retornam (Marvel)

 

Texto Thiago Ribeiro
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Houve um tempo como nenhum outro para a editora Marvel. Um tempo onde as únicas publicações que vendiam eram as franquias dos X-men e Homem-Aranha. Foi um momento em que Capitão América, Quarteto Fantástico, Homem de Ferro, Thor e Vingadores só eram publicados por obrigação da editora, já que não eram tão rentáveis, mas tinham sua parcela de fãs.

Nos anos 90, levando em consideração que o trabalho do desenhista era mais importante que a história a ser contada, a editoraMarvel tomou uma decisão: os personagens que não vendiam iam sofrer um reboot total após a saga MASSACRE, sendo os responsáveis pela reformulação os desenhistas Rob Liefeld e Jim Lee, os superstas dos anos 90. Assim nasceu a fase HERÓIS RENASCEM na Marvel.

 Porém, a iniciativa foi um desastre de crítica, não houve aceitação pelos fãs e as vendas foram abaixo do esperado, pois, apesar das revistas venderem muito bem, os altos custos para manter os dois desenhistas/roteiristas não compensava o trabalho feito. Foi um momento conturbado para a editora, tendo inclusive decretado falência, vendendo os direitos de seus heróis no cinema para estúdios como Sony, Universal e Fox.

Passado 01 ano dos títulos sendo publicados em cronologia diversa da regular, e percebendo a má recepção dos fãs, a editora Marvel resolveu trazer todos de volta em outra saga chamada HERÓIS RETORNAM, pelo escritor Peter David e desenhada por Salvador Larroca. Infelizmente, esse é o retrato que os leitores tem sobre a Marvel na famigerada década de 90.

 

Porém, pouco se fala sobre a fase pós-HERÓIS RENASCEM, muito porque foi nesse período que uma leva considerável de leitores abandonou os quadrinhos.

Vendo a necessidade de reestruturar as franquias que participaram da fase HERÓIS RENASCEM, a Marvel decidiu chamar artistas que se destacavam na própria editora e no mercado de quadrinhos para alavancar seus personagens.  Assim veio HOMEM DE FERRO por Kurt Busiek e Sean Chean; QUARTETO FANTÁSTICO por Scott Lobdell (logo substituído por Cris Claremont) e Alan Davis (substituído depois por Salvador Larroca); THORpor Dan Jurgens e John Romita Jr; CAPITÃO AMÉRICA por Mark Waid, Ron Garney e Andy Kubert; e VINGADORES pela dupla Kurt Busiek e George Perez.

O trabalho dessas equipes criativas pouco é lembrado pelo fã Marvel, pois, para muitos, parece existir um vácuo na história da editora entre a saga MASSACRE e o período de maior efervescência nos roteiros Marvel, com Grant Morrisson nos X-men, Brian Michael Bendis no Homem-Aranha Ultimate, Mark Millar nos Supremos, além de outros destaques.

 

A situação se agrava para os leitores brasileiros, já que os materiais foram publicados ainda pela editora Abril em 2000 e 2001, principalmente nos finados títulos GRANDES HERÓIS MARVEL e na coleção (caríssima na época – R$ 10,00) PREMIUM. As republicações que aconteceram desse período são tímidas em sua maioria, sendo o maior exemplo a publicação de THOR por Dan Jurgense John Romita Jr na coleção capa preta da Salvat, nº 16, onde a editora Salvat publicou apenas as 08 primeiras histórias, sem se importar nem mesmo em lançar o final do arco EM BUSCA DOS DEUSES, havendo uma quebra de narrativa brutal.

Foi nesse período que Mark Waid desenvolveu a fase até hoje lembrada do Capitão América. Diga-se de passagem, fazendo uma INVASÃO SECRETAmelhor do que Brian Bendis fez. O título foi publicado em Marvel 2000 e Grandes Heróis Marvel PREMIUM.

Kurt Busiek trouxe a essência de Tony Stark/Homem de Ferro de volta, já que o personagem estava extremamente desfigurado pelas decisões errôneas dos escritores anteriores, tendo se tornado um assassino e substituído por uma contra parte jovem de um universo alternativo. Aqui, vemos o famoso playboy, milionário e gênio da Marvel como o personagem complexo que é, não o piadista mostrado nos cinemas por Robert Downey Jr. A publicação brasileira ocorreu em Grandes Heróis Marvel formatinho nº 05 e Grandes Heróis Marvel PREMIUM, ambos pela editora Abril

O Quarteto Fantástico foi o título que mais sofreu turbulência no período, já que o escritor Scott Lobdell foi substituído por Cris Claremont, o xamâ das histórias dos X-men, e Alan Davis foi trocado porSalvador Larroca. Apesar de ser um título extremamente difícil de ler, principalmente pelo excesso de texto típico de Claremont, há seus momentos, em especial a nº 17de Grandes Heróis Marvel PREMIUM, onde é mostrado o casamento do Doutor Destino com Susan Richards, mulher do Senhor Fantástico. O título foi publicado originalmente em Grandes Heróis Marvel formatinho nº 04 e continuou, mas de forma irregular, em Grandes Heróis Marvel PREMIUM.

Talvez, o personagem mais beneficiado nesse período, porém, teve as histórias menos reconhecidas foi THOR, por Dan Jurgens e John Romita Jr. A dupla faz um épico de aventura de primeira linha, levando o Deus do Trovão a buscar os asgardianos aprisionados pelos deuses negros. Colocando frente a frente Thor e Thanos, em uma história cósmica para deixar Jim Starlin com inveja.

Após a saída de John Romita Jr., sendo substituído por outros desenhistas sensacionais, como Stuart Immonen, Tom Raney, e o brasileiro Joe Bennett, o roteirista ainda matou Odin, tornando Thor o regente de Asgard o que o levou a tomar a decisão de levar o reino dourado para a terra, muitos anos antes da fase de J. Michael Straczynski.

Apesar de ter um final apressado e que não faz jus ao conteúdo mostrado até então, a passagem de Dan Jurgens merece mais reconhecimento dos leitores, principalmente, daqueles que sempre citam Walt Simonson, J. Michael Straczynskie Jason Aaron como os melhores roteiristas do Deus do Trovão. O título foi publicado em MARVEL 2000, Homem-Aranha PREMIUM e Grandes Heróis Marvel PREMIUM da editora abril, passou para a editora Panini Comicsem MARVEL 2002, e finalizou em OS PODEROSOS VINGADORES, também, da panini.

 

Fica a torcida para que seja republicado no Brasil, haja vista a Marvel em 2017 ter lançado uma coleção em formato Omnibuscom quase metade da saga de Thor.

E, por último, mas não menos importante, os Vingadores de Kurt Busiek e George Perez. Título esse que recebe agora o devido reconhecimento, devido às republicações pela editora Salvat, sendo publicado A VINGANÇA DE ULTRON na ediçãonº 01da coleção Salvat capa vermelha, e a coleção MARVEL EDIÇÃO ESPECIAL LIMITADA OS VINGADORES, com a fase em que Busiek e Perez trabalham juntos. Infelizmente, parece não ser interesse da Salvat publicar o final da fase de Busiek (tomara que eu esteja errado!), com a luta dos Vingadores contra a dominação mundial de Kang.

É um título que merece uma análise mais apurada no momento correto, já que é muito bem escrito, bem desenhado e um sucessor digno dos trabalhos das lendas dos quadrinhos Stan Lee, Jack Kirby, Roy Thomas, Roger Stern, John Byrne, assim como muitos outros que escreveram o título dos maiores heróis da terra.

O quadrinho é envolvente, mostrando muitos dilemas com os personagens, principalmente para a Miss Marvel (atual Capitã Marvel) que está sofrendo os efeitos do alcoolismo. Merece ser lido como parte importante do universo Marvel, apesar da própria editora quase não citar essa fase.  O título foi publicado em Grandes heróis Marvel formatinho nºs 01 e 06, em MARVEL 2000, Homem-Aranha PREMIUM e Grandes Heróis Marvel PREMIUM da editora abril, tendo a editora Panini Comics assumido na revista MARVEL 2002, mostrando a saga SEGURANÇA MÁXIMA em X-MEN EXTRA, finalizando a passagem de Busiek, já sem Perez, em OS PODEROSOS VINGADORES.

 

Os fãs Marvel, em especial os brasileiros, devem dar uma conferida nessas ótimas fases deCapitão América, Quarteto Fantástico, Homem de Ferro, Thor e Vingadores. Mostrando que a refundação da casa das ideias veio muito antes da gestão do editorJoe Quesada, que trouxe nomes de peso e alavancou as vendas em queda da editora. Pois, ainda sofrendo da ressaca moral da iniciativa HERÓIS RENASCEM, os títulos dos heróis Marvel tiveram um salto de qualidade espetacular.

Agora, é torcer para que as editoras sigam o exemplo da Salvat e republiquem esse material para os fãs brasileiros. Afinal, a Panini republicou até MASSACRE então não tem desculpas para republicar a obra de escritores como Busiek, Jurgens, Lobdell, Clamonet, Waid, Perez, Romita Jr, Davis, Larroca, Garney e Kubert.

     

 

  

Fonte: Thiago Ribeiro

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