Maior Série Britânica do Mundo -

Análise | Doctor Who — 54 anos de ousadia

Todos os 14!
Todos os 14! 

Toda geração cresce com heróis que os maravilham e os inspiram. Seja no esporte, na TV, no cinema, nos quadrinhos ou videogames, não importa: todas as gerações crescem suspirando por um herói. Não são todas as nações que podem se orgulhar de terem criado um mito que inspirou gerações, tanto em seu país como fora dele. Os Estados Unidos e o Japão parecem ser campeões: quem não consome avidamente os quadrinhos, filmes e animações vindos destes dois países? Imagine você, um geek vindo destes dois países e se orgulhando de ter nascido no país que gerou coisas tão maravilhosas, que emocionam e empolgam o mundo todo…e aqui no Brasil mesmo, crescemos maravilhados por tudo isso.

E a Inglaterra? A terra natal da rainha Elizabeth II não fica muito atrás na produção de material multimídia: grandes autores e artistas dos quadrinhos vieram de lá e a produção cinematográfica e televisiva também são forças a ser respeitadas. Este país deu ao mundo o duríssimo Juiz Dredd e também deu uma grande contribuição à ficção científica mundial. Um homem excêntrico e genial, com uma caixa fabulosa, maior por dentro do que por fora, que viaja no espaço e no tempo; e nessas viagens, com seus companheiros, ele vive grandes aventuras, na série mais duradoura da história da TV: Doctor Who!

A série, que inicialmente tencionava misturar aventura com conteúdo educativo a respeito de história e ciências em geral, acabou conquistando os corações britânicos em pouco tempo. Várias gerações cresceram assistindo à série: a própria rainha da Inglaterra é fã confessa desta e muitos dos que hoje trabalham com a mesma, também foram grandes admiradores. O ator David Tennant, que hoje é famoso pelo papel de Killgrave na série Jessica Jones, teve seu destaque como o décimo Doutor. O ator foi um jovem que cresceu OBCECADO pela série e realizou o sonho de não só viver o papel, como também de ser o genro do ator que interpretou o mesmo papel na década de oitenta.

Tem como ser mais feliz?
Tem como ser mais feliz? 

Para quem não conhece a série, um grande resumo: ela trata de um alienígena oriundo de uma raça muito avançada e tão velha quanto o universo chamada de Senhores do Tempo. Uma raça peculiar, com dois corações, quase imortal e capaz de, quando mortalmente ferido, passar por um processo de regeneração que renova seu corpo, mas com um efeito colateral: ele o modifica completamente, até mesmo afetando sua personalidade. Tal recurso foi criado pelos roteiristas porque o ator original (William Hartnell) já tinha idade avançada e vários problemas de saúde, tendo sido melhor explicado após o terceiro ator a interpretar o papel (Jon Pertwee) ter deixado a série.

O vídeo abaixo é uma compilação das muitas regenerações da série. Se preferir conferir na série, não clique:

A série prosseguiu muito bem da década de setenta até metade da década de oitenta, quando a audiência começou a cair, além de vários outros problemas de bastidores. A série seria cancelada em 1989, ironicamente quando a mesma completaria 26 anos. Em 1996, uma tentativa de revive-la com um telefilme voltado para o mercado americano fracassaria: várias mudanças não agradaram aos fãs, como o uma revelação de que ele seria meio humano e de seu envolvimento romântico com uma companion (como são chamadas as parceiras do Doutor), fato impensável pois o personagem nunca demonstrou interesses românticos. Apenas em 2005 a série voltaria, mas não como um reboot: ela continua de onde a outra série parou, introduzindo novos elementos e tornando-se mais dinâmica, moderna e atraente para o público atual, tudo isso sem perder seu charme.

Matt Smith, o 11º Doutor, famoso por sua obsessão por gravatas borboleta
Matt Smith, o 11º Doutor, famoso por sua obsessão por gravatas borboleta 

Desde sua concepção, o personagem sempre foi uma força movida por curiosidade e sempre a favor da razão e contra as forças da ignorância e que procuravam dominar, destruir e submeter tudo ao seu redor. A nova série continua isso e adiciona novos elementos: há um grande foco não só em divertir o telespectador mas em emocioná-lo. Os especiais de natal, tradição atual, dão um grande destaque a isso. O episódio Vincent and the Doctor é um dos episódios regulares que são grande referência no fator emoção.

Não veja o vídeo abaixo:

Chorando, não é?

A décima temporada, que se encerrou em julho com o episódio The Doctor Falls, representa uma grande virada: o ator Peter Capaldi deixaria a série e outro ator tomaria o seu lugar. Muito se especulou sobre esta substituição: muitos fãs clamavam por um ator que fosse de outra etnia ou uma mulher. A série já havia dado sinal de que isso era possível: um dos maiores vilões do Doutor, o Mestre (que também é um Senhor do Tempo), havia regenerado como uma mulher (e passado a se chamar Missy); outro Senhor do Tempo sofreu o mesmo ao ser atingido por uma arma. A produção, por algum tempo, lançou várias cortinas de fumaça. Chegou até mesmo a plantar a informação que o ator Kris Marshall (Simplesmente Amor). Um boato crível, já que o ator é ruivo e é uma piada recorrente na série que o Doutor sempre quis regenerar como ruivo.

Você viajaria no tempo e no espaço com este homem???
Você viajaria no tempo e no espaço com este homem??? 

Em 14 de julho foi informado que, após a final do torneio masculino de tênis em Wimbledon, a pessoa que substituiria Peter Capaldi seria anunciada. No dia 16 de julho, na final do torneio, nunca se viu tantas pessoas interessadas por tênis antes no Twitter. Após todas as formalidades e discursos, o vídeo que anunciaria a grande novidade foi transmitido.

A revelação pegou os fãs de surpresa pois a BBC nunca demonstrou ter interesse em ter um Doutor diverso do tradicional. A atriz Jodie Whittaker, que já havia participado de um episódio da série Black Mirror, atuado no filme Ataque ao Prédio e também atuar no drama investigativo Broadchurch foi escolhida e muito bem elogiada e parabenizada por colegas, tanto da série quanto fora. Alguns fãs resistiram à escolha, alegando que o personagem sempre foi um homem e que a série iria morrer, mas a reação em geral tem sido positiva. A ideia de uma Doutora tem sido debatida desde a década de oitenta mas só agora pôde virar realidade.

“Mudança, meus caros e já não era sem tempo — ela É a Doutora, gostem vocês ou não!” — Colin Baker, o sexto Doutor, parafraseando a si mesmo.
“Mudança, meus caros e já não era sem tempo — ela É a Doutora, gostem vocês ou não!” — Colin Baker, o sexto Doutor, parafraseando a si mesmo. 

E hoje a série, que sempre foi ousada e fez a ousadia máxima, completa 54 anos. Décadas inspirando, entretendo e emocionando, ela finalmente passa por uma grande mudança: sai o roteirista chefe e produtor executivo Steven Moffat (também criador da série Sherlock) e entra Chris Chibnall (que também trabalhou com Doctor Who) e este tem a pesada responsabilidade de continuar o legado e o peso extra de mostrar que Whittaker está a altura dele. A série, que mostra uma ousadia que contradiz sua idade, agora chega a um novo patamar de representatividade. A ansiedade de vê-la em ação ao fim deste especial de natal aumenta à medida que mais notícias aparecem sobre as filmagens da nova temporada. E este especial de natal promete: o atual Doutor reencontra sua primeira versão, interpretada por David Bradley (o senhor Filch, de Harry Potter) em uma última aventura antes da derradeira regeneração. Esta que é inevitável, promete ampliar horizontes e trazer novas possibilidades para uma série que tem como mote a mudança. Mudança esta que é boa para a série, boa para os fãs que estão e que virão. Nas sábias palavras do 11º Doutor:

“Nós todos mudamos. Se você parar pra pensar, nós somos todos diferentes pessoas ao longo de nossas vidas. E isso é bom, isso é legal. Você tem que continuar avançando. Contanto que, você se lembre de todas as pessoas que você costumava ser.”

Texto do Érico Campos

Fonte: Medium/Érico Campos

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