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ICMBIO abre Pedra Furada para visitas sem a presença de guias turisticos

 Desde que se viu envolvida numa polêmica com a doação de madeira apreendida nas proximidades do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, a chefe da unidade de conservação, Marian Rodrigues não consegue normalizar a sua administração. Nomeada ainda no governo Temer, a gestora vive numa espiral de problemas. Ela não faz parte do quadro de analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ao contrário, ocupa o cargo de forma politica, uma indicação do deputado federal Paes Landim (sem partido).

Nas últimas semanas Marian esteve em destaque na mídia com problemas diversos como uma suposta tentativa de assalto, o atraso no pagamento dos funcionários do parque, o descontrole na caça de animais silvestres na reserva, entre outros. No entanto, a decisão mais polêmica, com certeza, envolve a abertura de dois pontos turísticos do Parque Nacional Serra da Capivara, Patrimônio Cultural da Humanidade, para visitas sem a presença, até então obrigatória, de um condutor de visitantes.

Apesar da ata ainda nem ter sido assinada, a proposta foi aprovada com 14 votos numa reunião do Conselho Consultivo do parque em 20 de agosto de 2019, mas os condutores de visitantes e suas diferentes associações não foram ouvidos de forma ampla, específica. A chefia do parque aparentemente não teve tempo para discutir o projeto com a categoria, ao contrário, quando o “circo pegou fogo” Marian Rodrigues teve que marcar uma reunião de urgência com eles em dezembro passado.

A repercussão negativa nos diferentes grupos de whatsApp dos guias reverberando a decisão foi tão grande que Marian pediu uma “chance" para mostrar que a ideia seria positiva, inclusive para os condutores. Agora, o áudio que nossa reportagem teve acesso e, você, leitor, pode ouvir na íntegra aqui no site, mostra que o conflito se acirrou.

Pior. Marian Rodrigues é acusada de prejudicar o trabalho de centenas de profissionais que vivem da condução de visitantes na Serra da Capivara. “Bom dia, pessoal. Estou aqui na guarita do BPF (Boqueirão da Pedra Furada – grifo nosso). Eu acho interessante, a chefia do parque disse que os prevfogo (brigadistas do ICMBio – grifo nosso), era só para conduzir o pessoal do entorno do parque que não tinham condições de pagar. Aqui está cheio de carros de luxo parados, só gente de fora para entrar de graça!!! Quer isso rapaz! Não tira o pão da boca dos guias não", desabafa um dos condutores que gravou o áudio nesse sábado 15 pela manhã na portaria do parque.

Técnicos divergem

Para a atual gerente da CR5 (Coordenação Regional do ICMBio), com atuação nos estados do Ceará, Piauí, Maranhão e Tocantins, Ana Célia, a decisão de abrir os dois sítios mais acessíveis foi adotada após ampla discussão no Conselho Consultivo do Parque. “Nenhuma decisão unilateral! A questão foi trazida inclusive pela administração do Museu da Natureza, que levou as queixas dos seus visitantes. Esses reclamavam de ter que pagar um valor integral da taxa (R$ 180,00) cobrada pelos guias apenas para visitar um trecho curto”, explicou.

Faltou deixar claro que a taxa diária de R$ 180,00 cobrada pelos condutores se refere a grupos com até 8 pessoas, totalizando um valor unitário de R$ 22,60 para cada visitante. Além disso, o trabalho do guia é fundamental em lugares como a Serra da Capivara, repleto de informações técnicas e científicas que os condutores são obrigados a enfrentar durante o curso de capacitação para depois repassar aos visitantes. A frase “Triste do Homem que desconhece as maravilhas que vê", espalhada pelos principais museus do mundo, mostra a importância das informações. Além, é claro, do "controle" dos visitantes e suas ações.

Para a ex-chefe do Parque Nacional Serra da Capivara, engenheira agrônoma por formação e analista ambiental já aposentada do ICMBio. Eugênia Vitória e Silva, que trabalhou durante décadas na Serra da Capivara, a decisão é polêmica. "Nossa preocupação em ter os guias sempre foi relacionada a proteção, lembrando que os sítios são Patrimônio da Humanidade, os danos por ventura causados, são irreversíveis", alertou ela.

Com a sua experiência Eugênia ainda acrescentou: “No Peru não tem guia acompanhando, mas têm vigilantes estratégicos em diversos lugares para controle. Seria interessante avaliar o valor cobrado pelos guias, ter uma tabela com valores mais baixos para grupos menores". Para finalizar ela deixou uma questão em aberto: "Quem vai se responsabilizar pelos danos: o chefe da UC ou o ICMBio?".

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