
Resenha do filme "Mary Shelley"
Sinopse: Filme de época baseado na história verídica de Mary Wollstonecraft Godwin, mais conhecida com Mary Shelley, e na sua relação com o poeta romântico Percy Bysshe Shelley.
No início de século XIX, Mary Godwin conhece um amigo do pai, Percy Shelley, um homem casado por quem se apaixona. Acabam por fugir os dois para viajar pela Europa e Mary engravida. De volta a Inglaterra, são ostracizados pela relação e pelas ideias progressistas que passam a defender. Em 1918, após dois anos e a morte prematura da filha de ambos, para escapar à crescente marginalização e opressão de que vão sendo vítimas, decidem fugir para a casa de Lord Byron, no Lago Genebra. Durante a estadia, este poeta lança o desafio aos hóspedes para que escrevam contos de terror. Surgiria assim o célebre romance gótico "Frankenstein". Mais do que a história de um amor e da génese de um dos clássicos da literatura, "Mary Shelley" apresenta-nos o retrato de uma sociedade e reflecte sobre o papel da mulher e das suas lutas, como escritora em busca de reconhecimento. Um filme realizado pela saudita Haifaa al-Mansour ("O Sonho de Wadjda") e escrito por Emma Jensen, com Elle Fanning no papel de Mary Shelley, Douglas Booth como Percy Blysshe Shelley e Tom Sturridge como Lord Byron.
Mary Shelley cresceu cercada por livros. Filha de dois escritores, tinha constante contato com a leitura, e foi assim que descobriu sua paixão pelo terror. Vivia mergulhada nessas histórias, ávida, insaciável, e, justamente pelo ambiente que se encontrava, era esperado que a escrita aflorasse a ela da mesma forma que acontecera com os pais, entretanto, poemas de terror e textos não muito originais era apenas o que conseguia produzir.
O tempo foi passando, ela conheceu um jovem poeta por quem se apaixonou, vivenciou experiências diversas, excêntricas, alegres e desastrosas, frutos da ânsia e da rebeldia, até que uma dessas acabou a levando a passar um período em uma casa com Lord Byron, o marido e alguns amigos. Foi em uma noite chuvosa que surgiu a ideia, todos entediados pela limitação de entretenimento que a casa proporcionava, resolveram fazer uma aposta: cada um iria produzir algo que passeasse pelo universo sobrenatural. E foi assim que Frankenstein foi concebido.
O filme, disponível na Netflix, é extremamente aconchegante e inspirador. Relata a criação de um dos livros mais conhecidos e comentados da literatura mundial e coloca em foco algo que é extremamente importante e que muitas vezes não damos a devida atenção: o processo. Foi naquela casa do lago que Frankenstein passou a existir, mas foi resultado de anos de vivência que caminharam e moldaram o que a obra viria a ser, e este filme explana de maneira poética a construção da primeira obra de ficção científica que o mundo conheceu, e a luta de uma mulher para realizar o sonho, ter a liberdade de escrever sobre o que deseja e ser reconhecida por isso.