'Podemos fazer negócio', disse -

Exclusivo: Prefeito sugeriu suborno para tentar 'barrar' denúncia do 180

Por Rômulo Rocha
- Enviado a Dirceu Arcoverde

SECA, SOFRIMENTO E SUSPEITAS DE CORRUPÇÃO
O município de Dirceu Arcoverde, situado a cerca de 553 quilômetros de Teresina, é pertencente à microrregião de São Raimundo Nonato, abatido pela seca e pela falta d’água nas torneiras. Sua população é sofredora. Na cidade prolifera carros-pipa. Segundo dados do IBGE, há naquele município 6.675 habitantes.

Quando visitado, final do mês passado, havia trinta dias que a população da cidade estava sem água. Chegava a ser comovente ver senhores de idade contando, sob o domínio do medo, que nasceram assim e morreriam assim. Não queriam se expor. Era uma revolta contida, à espera de alguém que pudesse gritar por eles.

É nesse município, um dos mais corruptos do Estado, onde reinam impropérios administrativos e suspeitos. Não à toa, no último levantamento feito pelo Ministério Público Federal, sobre o índice de transparência dos atos públicos, o Portal da Transparência daquela prefeitura tirou 2,6, numa escala de 0 a 10.

"NÓS PODEMOS FAZER NEGÓCIO" "SINTO MUITO"...
A oferta do prefeito não chega a ser assustadora para a equipe de jornalismo que se deslocou àquele município. O que já se viu e se ouviu em território piauiense, é de fazer tremer o mais alto escalão do poder estadual. De toda forma é a primeira vez que um gestor, aparentemente, tem a coragem de fazer tal proposta de forma tão direta, a ponto de ser captada e comprovada.

_O gestor...

Só que o simples ato de aceitar uma propina para não divulgar algo na imprensa, seria o mesmo que contribuir com a perpetuação e as práticas do gestor à frente do posto, seria o mesmo que não dar voz àqueles marginalizados, seria o mesmo que compactuar, seria o mesmo que concordar com o sofrimento dos sertanejos sem água, desprovidos de bons gestores que os tirem dessa situação.

Seria o mesmo que dar permissão para que recursos fossem desviados da saúde, educação... Seria o mesmo que admitir a existência de uma geração perdida. Seria... ser corrupto. Mas há quem durma tranquilo em meio a isso aqui no estado. Outros... não.

A DENÚNCIA EM QUE SE ATUAVA
O caso que se apurava, dentre muitos que chamaram atenção na cidade, foi a suposta reforma de um prédio do Programa de Erradicação de Trabalho Infantil (PETI) e de um prédio do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Ambos seriam alugados, e embora com ao menos uma parcela paga, as reformas sequer foram iniciadas.

Ao se contatar o prefeito, ele deixou no ar a suposição de oferta. Depois recuou e pediu que o termo "negociar" não fosse interpretado de forma errônea.

Já quando do contato com um dos proprietários da empresa FORTI Construções e Serviços, responsável pelas reformas, o senhor Pedro Alcântara Dias Braga desconversou e encerrou a conversa sem falar onde foi parar o dinheiro repassado, ao menos R$ 25 mil comprováveis. A empresa é localizada, segundo o site da Receita Federal, em São Raimundo Nonato.

Mas segundo o documento que comprovaria o recebimento de dinheiro do Fundo Municipal de Assistência Social, a empresa possuiria endereço em Teresina.

_ Felizes para Sempre: o empreiteiro no centro e o prefeito à direita...

Foto: Divulgação.

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ENTREVISTA COM O EMPREITEIRO:
180: Boa Tarde! Tudo bem? Me chamo Rômulo, sou jornalista do Portal180. Gostaria de falar com o senhor, fazer algumas perguntas... É possível?
Pedro Alcântara: Sim! Sobre o quê? O conheço?

180: Não senhor. Mas sou jornalista do Portal 180 e estou produzindo uma matéria sobre a reforma do PETI e do CRAS, em Dirceu Arcoverde... Estive no município e, a primeira vista, foi constatado que esses [locais] não foram reformados...
Pedro Alcântara: Acho que você não foi em Dirceu Arcoverde...

180: O senhor é o proprietário da Forti Construções?
Pedro Alcântara: Se você foi lá e constatou que não foi executado, por que me pergunta?

180: Então o senhor confirma que não realizou as reformas? Isso porque estou de posse de um recibo com o que seria a sua assinatura e que comprovaria que o senhor recebeu R$ 25 mil para fazer essas reformas... Mas o valor recebido seria muito maior.
Pedro Alcântara: Silêncio...

180: Senhor Pedro, o senhor não acha que deve explicações ao povo de Dirceu Arcoverde?
Pedro Alcântara: Silêncio...

180: O senhor casou depois que ganhou da prefeitura essa obra?
Pedro Alcântara: Encerra o contato.

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O RECIBO E O CASAMENTO
O recibo de pagamento feito pela prefeitura, pelo menos um deles, no valor de R$ 25 mil, traz além da cifra expressa, a data, a marca da empresa e a agência do Banco do Brasil em que teria sido depositada a quantia. O pagamento para as reformas ocorreu no final do ano de 2015, no dia 12 de dezembro.

Nesse comprovante está expresso: “(...) referente à primeira parcela de execuções dos serviços de engenharia de reforma dos prédios do CRAS e PETI, conforme Contrato nº 028/2015, no município de Dirceu Arcoverde – PI”.

No último dia 20 de maio, segundo uma fonte, o prefeito de Dirceu Arcoverde, Carlão do Feijão, presenteou o empreiteiro com uma visita digna de nota e foto. Foi ao casamento de Pedro Alcântara. O prefeito é o do lado direito, e aquele que teria embolsado o dinheiro público - sem a devida contrapartida - é o outro em destaque.

No dia em que o 180 esteve no município foi à casa do prefeito, ele não se encontrava e nem retornou as ligações para um número que fora deixado com aquele que seria uma das pessoas que trabalhava para a prefeitura. O objetivo era que o gestor respondesse a outras questões.

Procurado para falar sobre a reforma do PETI e CRAS, o prefeito falou que só tratava do assunto pessoalmente e disse que estava em Brasília. Em meio ao diálogo foi se revelando.

_ Recibo do que seria a primeira parcela...

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PREFEITO: 'NÓS PODEMOS FAZER NEGÓCIO'
180: Prefeito, tudo bem com o senhor? Estive aí na sua cidade... Mas não o encontrei. Me chamo Rômulo, jornalista do Portal 180. Queria lhe fazer algumas perguntas. É possível?
Carlão do Feijão: Boa Tarde...

180: Boa Tarde, tudo bem com o senhor? É sobre uma obra de reforma no PETI e no CRAS... O senhor sabe dizer porque elas não foram feitas?
Carlão do Feijão: Só trato disso pessoalmente.

180: Por qual motivo, prefeito?
Carlão do Feijão: Estou em Brasília.

180: O senhor conhece o dono da empresa Forti Construções, o senhor Pedro Alcântara?
Carlão do Feijão: Sem resposta.

180: Eu queria algumas explicações públicas sobre isso... Até porque o senhor tem muitos eleitores e não tem como falar com todos pessoalmente... E estou produzindo uma matéria sobre isso... É possível? Por favor, algumas respostas!
Carlão do Feijão: Foi feito reforma no CRAS e PETI também, tenho fotos do antes e do depois.

180: O senhor pode me mandar [as fotos], por favor? jornalistaromulorocha@uol.com.br...
Carlão do Feijão: Hoje é impossível.

180: Quando é possível?
Carlão do Feijão: Sem resposta.

180: O senhor pode destacar um assessor para fazer isso. Eu falo com ele agora... Até porque nos locais do PETI e CRAS não foram detectadas reformas...
Carlão do Feijão: Sem resposta.

180: Em que foi as reformas? Foi em algo subterrâneo?
Carlão do Feijão: Sem resposta.

180: O senhor está em Brasília a trabalho?
Carlão do Feijão:É sim.

180: Aguardo as fotos.
Carlão do Feijão: Semana que vem estou em Teresina. Falo Contigo.

180: A matéria será publicada amanhã [esta segunda].
Carlão do Feijão: Rapaz, me aguarde.

180: Peça para algum assessor do senhor enviar as fotos da reforma até a manhã desta segunda, por favor.
Carlão do Feijão: Nós podemos fazer negócio.

180: Eu não negocio, prefeito. Sinto muito.
Carlão do Feijão: Ah, tá.

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OUTROS EPISÓDIOS DIGNOS DE NOTA
Quando da visita à cidade, se constatou que o motor de um trator do PAC simplesmente havia sumido (VEJA PUBLICAÇÃO), que um ônibus do programa Caminho da Escola se deteriorava ao lado da casa do prefeito (VER A PUBLICAÇÃO), e que um aterro sanitário em situações precárias funcionava sem a devida higiene e regras vigentes para a matança de animais (VER A PUBLICAÇÃO).

Também se verificou que uma creche foi abandonada na gestão do atual mandatário de Dirceu Arcoverde. (VER PUBLICAÇÃO).

E olha que para o empreiteiro, que casou recentemente, o 180 não foi à cidade.

O que resta saber é por que ele não foi fazer as obras com as quais se comprometeu e recebeu para isso?

CADÊ AS REFORMAS?

CRAS

PETI

Fonte: None

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