Liberação dos agrotóxicos -

Os dois mundos de Ribamar, um nordestino sertanejo

Ribamar, 68 anos, era um sertanejo valente. Não era magro. Era concentrado. Ribamar viveu dois mundos. Esclareço. Lá pelo início dos anos 80, um certo carteiro de Piripiri, Mariano Sousa dos Prazeres, radicado em Teresina resolve buscar suas origens. Se tacou pro Ceará.

A viagem foi bem diferente de quando, ainda bem jovem, veio sozinho a pé fugindo da seca, pedindo comida onde encontrasse uma casa, até chegar à cidadezinha de Piripiri.

Era um b-r-ó-bró daqueles. O caso é que Mariano foi bater lá nas suas origens. Eram suas raízes. E suas raízes estavam expostas à seca mais uma vez, tal qual quando arrancou-se do lugar, lá pelos anos de 1930.

A emoção foi grande. Mariano encontrou Ribamar o sobrinho remanescente vivinho da silva. Mas na maior penúria. Apesar de tudo, como bom cearense, sempre fazendo pilhérias com todos.

Com o passar das folhas do calendário, estabeleceu-se uma feliz troca de cartas até que Mariano, aos 64 anos, como se diz, fez a passagem em 1984. A corrente se desfez e as cartas cessaram. Este é o mundo inicial de Ribamar.

Recentemente, inclusive com ajuda das mídias sociais a comunicação foi restabelecida. Para surpresa e felicidade de todos, a situação era bem diferente. O povoado de Ribamar agora tem escolas, motocicletas, internet, e... água!

Ribamar em seu mundo
Ribamar em seu mundo    Álbum de família, via Facebook

Ribamar pode produzir na sua roça e garantir o sustento da família e, inclusive, fazer viagens para visitar os parentes redescobertos em Teresina. O segundo mundo de Ribamar lhe trouxe bons frutos, principalmente de poder ver filhos e netos na escola, “encaminhados” para uma vida melhor.

Ribamar estava feliz e ainda mais brincalhão. Mas Ribamar pagou um alto preço. Ele também fez a passagem com a vantagem de ter vivido 4 anos a mais que o tio Mariano.

O novo mundo trouxe suas bonanças e os seus males. Este novo mundo tragou Ribamar. O bravo sertanejo expôs-se, na sua inocência e desinformação, àquelas substâncias para proteger a sua lavoura. Ribamar contraiu dois tipos de cânceres causados pela exposição aos agrotóxicos.

A imagem de Ribamar vive clara como a de Mariano, bons sujeitos que eram.

Mas me choca, nesse justo momento, quando leio a notícia sobre a liberação de mais uma série de produtos agrotóxicos considerados tecnicamente “altamente tóxicos”, “muito perigosos” e “perigosos” tanto ao meio ambiente como aos humanos diretamente.

Os produtos liberados na primeira semana de janeiro de 2019, além de muitos outros já em uso no Brasil, são proibidos nos países desenvolvidos por razões óbvias.

Fica a pergunta: sendo tão nocivos e proibidos em países desenvolvidos, por que utilizamos aqui?

Com apalavra, as autoridades e os especialistas.

P.S.: Esta é uma história verídica. Mariano Sousa era meu pai e Ribamar era seu sobrinho. O local referido é um povoado no Município de Santa Quitéria, no vizinho estado do Ceará.

Trago uma matéria do jornal espanhol, edição Brasil, com detalhes sobre a liberação dos agrotóxicos.

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