INTROspectiva 2018 -

Feliz Ano Novo, apesar de nossas velhas ideias e de ainda vivermos como nossos pais

O que ficou deste ano? Pra mim ficou o paradoxo humano de ser, ao mesmo tempo, tão avançado e tão primitivo a ponto de “editar” os genes de um embrião para que nasça uma geração imune ao vírus da Aids, como fez o cientista chinês He Jiankui, embora assombrando companheiros de profissão do mundo todo. Mas, como humanos, podemos ser um príncipe árabe que manda matar e esquartejar um jornalista que virou inimigo. E tudo com gravações testemunhais.

Podemos reinventar as comunicações, substituindo a poderosa televisão por um contato mais direto entre mensagem e receptor, como as mídias sociais, onde o receptor também pode expressar sua opinião, apesar das evidentes manipulações.

Podemos curar pessoas sendo um João de Deus e, ao mesmo tempo, esconder um demônio durante décadas, até sua espetacular morte midiática ante centenas de mulheres abusadas e um país atônito.

Podemos prender o presidente mais querido pelo povo e manter no cargo até o fim o mais desprezado entre seus antecessores. Podemos encarcerar alguns corruptos e continuarmos assaltando o dinheiro público em cada um dos mais de 5 mil municípios do nosso país.

Podemos eleger a valente Marielle vereadora da cidade maravilhosa e assassiná-la a tiros em uma esquina qualquer...

Podemos ter sido um Obama e, logo a seguir, ser um Trump...

Podemos matar pelo petróleo, invadir países, dizimar populações. Mas podemos ser Médicos Sem Fronteiras, limpando o rastro de sangue deixado pela ganância e pela violência.

Somos norte-americanos dominando o mundo pelo comércio ou pela força e morremos pelos incêndios generalizados e, mês depois, morrer soterrados pela neve.

Podemos produzir o alimento em escala, mas seguimos morrendo de fome como populações abandonadas ao redor do planeta.

"Retirantes" de Cândido Portinari, 1944    Foto: Google

Podemos construir uma empresa de 1 trilhão de Dólares vendendo computadores e smartphones e sermos miseráveis sem acesso à comida e à água, condições mínimas da vida humana.

Podemos ir a Marte ou montar uma estação espacial e, ao mesmo tempo, vivermos à míngua em completo isolamento longe dos olhos dos governos.

Podemos construir qualquer coisa que sonharmos e, em seguida, destruir meio mundo.

Eis o nosso paradoxo mais que exposto em 2018.

Resta-me acreditar que nos tornaremos maioria os que desejamos construir, já que encontramos na “democracia” a forma menos pior de convivermos com todas as nossas gritantes diferenças. 

Feliz 2019.

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