Entenda sobre novo album -

Silpknot, os mascarados melódicos, lançam um dos melhores CDs do ano

Não, não se trata do Kiss, mas da amada – e odiada – banda de Iowa. Nunca fui fã do Slipknot. Sempre achei que as máscaras e o teatro dos shows serviam para mascarar – trocadilho infame – uma certa deficiência musical e melódica. Muita barulheira e muita gritaria para pouca música.

Entretanto, a forma como resolveram divulgar o novo trabalho,'' 5: The Gray Chapter'', colocando na internet o álbum inteiro antes do lançamento oficial, fizeram-me olhar mais de perto o quinto álbum da banda.

Uma inteligente jogada de marketing, sem dúvida. Nada de enfiar um disco goela abaixo, como fez o decadente U2 na sua péssima estratégia via iTunes. Ouvi de forma despretensiosa uma música, depois outra, depois mais outra. E, confesso, fui fisgado pelo som dos caras. Sou obrigado a dizer que'' The Gray Chapter'' é um dos melhores trabalhos lançados neste ano de 2014.

O nome do álbum é uma homenagem ao baixista Paul Gray, um dos pilares da banda, que foi encontrado morto em 2010. Começa com a climática “XIX''. Nada de iniciar com um grande hit, só uma introdução com destaque para o vocal forte de Corey Taylor. Simples e eficiente.

A porradaria vem a seguir com “Sarcastrophe'', que começa onde “XIX'' parou e depois descamba para os urros de Taylor e a bateria rápida e de Jay Weinberg, que substituiu Joey Jordison, um dos fundadores da banda. É uma das músicas que mais se aproximam dos álbuns mais antigos do Slipknot. Música honesta, que certamente agrada os antigos fãs.

O nível sobe com a faixa três, “AOV'', uma das melhores do álbum. Começa rápida e tem um belo trabalho de guitarras e de mudança de andamento. Aqui aparece o Corey que grita e canta também, o que é um dos diferenciais deste álbum em relação aos anteriores.

Dizer que o Slipknot virou uma extensão do Stone Sour é mimimi. As guitarras de Jim Root e Mick Thomson estão aqui, poderosas, com um belo trabalho de dois bumbos de Jay. E o conjunto é excelente, com uma quebra no meio da música como se fosse para o incauto ouvinte dar uma respirada. E tome mais porrada até o fim.

E o que falar de “The Devil in I?'' Bom, a melhor do álbum na minha opinião. A introdução das guitarras é primorosa. Novamente Corey não só grita, mas canta – graças a Deus ou ao diabo. O refrão é uma explosão e grudento – sim, grudento. Dá vontade de sair gritando “step inside, see the devin in I”. De novo os dois bumbos de Jay no refrão roubam a cena. Pesada e certeira.

E vem “Killpop'', música que dificilmente você encontraria em qualquer álbum anterior do Slipknot – e que é excelente, aliás. Começa com uma batida eletrônica e, pela primeira vez, o baixo de Alessandro Venturella, que substituiu o falecido Paul Gray, aparece com força. Outro ponto alto do disco, com mais um belo refrão. Parece que eles resolveram mesmo caprichar na melodia.

O álbum dá uma esfriada em seguida. “Skeptic'' não mantém a mesma ousadia de Killpop. Segue na mesma linha de Sarcastrophe e não conta com grandes desempenhos individuais ou coletivos. Mas tem força, é inegável. Lech é a próxima, conta com um vocal desesperado e guitarras idem. Também nada muito memorável.

“Goodbye'' entra para dar um descanso aos ouvidos, é a música-balada do álbum – se é que dá para se falar em balada num trabalho do Slipknot. Lá pela metade entram as guitarras distorcidas para dar peso à música, mas não funciona. Melhor se seguisse a linha “balada” – com aspas mesmo – até a conclusão. Ah, o final tem um solinho de guitarra rápido, o que não costuma ser regra nas canções.

E, é claro, depois de uma balada… mais porrada. “Nomadic'' retoma a velocidade e tem bastante peso. O refrão é interessante, mas longe dos outros pontos altos do álbum. “The One That Kill''s the Least também mistura bons momentos e um belo trabalho do baterista.“Custer'', por sua vez, lembra os antigos trabalhos do Slipknot: se você gosta, certamente vai curtir essa. Se não, não vai fazer falta. Assim como “Be Prepared for Hell'', que não dá para dizer que é uma música – é só falada, com um sampler ao fundo.

“The Negative One'', que foi o primeiro single do álbum, não tem a mesma força e inteligência musical de'' Devil in I?''. Mas também não compromete, longe disso.

“If Rain is What You Want'' fecha o álbum em grande estilo, novamente surpreendendo. O trabalho de percussão dá um clima todo especial à música, que começa lenta e depois ganha peso com a entrada da distorção.

Diferentemente de “Goodbye'', aqui as guitarras estão muito bem encaixadas. Sabe aquelas músicas que dão a sensação de que vão deslanchar? Pois é, essa deslancha, apesar de continuar lenta até o final – acredite, não é um paradoxo. Novamente Corey mistura bem os urros com o vocal melódico. A parte musical está impecável, uma canção que vale cada segundo.

Não é um disco para você ouvir com sua avó na sala. Em uma palavra, é um álbum poderoso, que soube misturar a violência usual das guitarras na distorção máxima e dos urros – às vezes irritantes – do Corey Taylor com belas melodias e momentos realmente memoráveis.

O álbum é recomendado a quem não é fã e que sempre torceu o nariz pra banda. Vale uma ouvida certamente. Desde que você esteja preparado para o inferno preparado pelos mascarados de Iowa.

Fonte: com informações de Fabrício Carareto

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