Campo Maior -

1905 - Enchentes de proporções diluvianas

“O rio [Surubim] que banha a cidade extravasou e transpondo o dique mandado construir no sangradouro da lagoa que lhe fica próximo, juntou suas águas às dela, indo-se depois reunir ao [riacho] Pintadas ...”

Essas foram as notícias sobre o alagamento ocorrido em Campo Maior no início do século XX. Essa referência da grande enchente de 1905 aparece na Gazeta do Prof. B. Lemos, em uma nota que foi enviada pelo campomaiorense Moisés Eulálio e publicada posteriormente no livro de Reginaldo Lima, Geração Campo Maior: anotações para uma enciclopédia, (1996).

Na enchente de 1905, o texto de Moisés Eulálio descreve como a cidade de Campo Maior ficou parcialmente alagada, principalmente as zonas Norte e Nordeste da cidade, que compreendem atualmente as imediações do bairro Califórnia (zona Norte), e boa parte da cidade situada às imediações da BR 343, ladeada pela avenida Heróis do Jenipapo, com mais de uma dezena de vielas e travessas submersas (zona Nordeste). As águas também atingiram a margem oeste do rio Surubim, onde hoje temos o bairro de Flores (zona Noroeste). Uma informação chama atenção: as águas do rio Surubim se juntaram à lagoa próxima e ao riacho Pintadas. A região tornou-se um grande mar d’água.

- A imagem mostra o rio Surubim (2017) com suas águas passando livremente por sobre as duas paredes de contenção, cobrindo árvores e dominando o cenário

O texto fala de uma “lagoa” próxima ao rio Surubim, o que parece descartar a ideia de que essa lagoa seja uma referência ao açude grande da cidade. Nessa enchente, o açude grande não é mencionado na nota da gazeta do prof. Lemos, mas ele transbordou em alguns pontos, onde as paredes estavam avariadas ou eram mais baixas. Suas paredes, com muito sacrifício devem ter contido o grosso das águas, pois uma aguada tão importante quanto o açude não deixaria de ser mencionada, caso suas águas tivessem invadido parte da cidade, ao menos, é claro, se ele ainda fosse tido por alguns como “lagoa”. Hoje, especialmente os mais velhos, ainda preferem chamar o velho açude de “lagoa”, talvez devido a um resquício linguístico que sobreviveu no imaginário de alguns. Se a referência é ao açude grande, o cenário da época foi devastador.

A lagoa citada por B. Lemos muito provavelmente é a lagoa da fazenda São Joaquim, situada cerca de 100 metros do rio Surubim. Contudo, pode ser também uma referência ao açude de Campo Maior, visto que o texto fala do dique e do sangradouro da lagoa que havia sido construído. A lagoa do São Joaquim não possui dique e nem sangradouro. É uma lagoa natural, posteriormente reforçada pelo proprietário do terreno. Outra observação: o açude grande de Campo Maior à época tinha sua área alagada muito maior do que a atual, que foi delimitada com a construção da Alameda Dirceu Arcoverde. Havia também um riacho sempre cheio no inverno, que deságuava no surubim, mas que também se ligava às águas do açude grande. Até hoje pode-se constatar as manilhas que foram postas na construção da atual avenida Santo Antônio, para dar vasão a água.

Se a lagoa, ao qual se refere o texto é mesmo o açude grande, suas águas devem ter encontrado o riacho Canudos, no ponto onde hoje está a BR 343, na época, a área mais baixa em volta do açude. Se a água do Canudos invadiu o açude de Campo Maior, tivemos uma inundação de proporções diluvianas na cidade. O centro histórico, ou, “cidade velha” ficou literalmente ilhado, com um mar d’água à sua volta. Grande parte da região do bairro Estação ficou alagada. O cenário, assim como seria mais tarde em 1924, foi assombroso e arrasador.

Documentos de meados de 1800 comprovam que as águas sempre causaram transtornos em Campo Maior. O Conselho Municipal (equivalente à prefeitura e câmara dos Vereadores) sempre alugava, numa espécie de pregão anual, a passagem dos rios. Em outras palavras, em bons invernos era quase impossível entrar ou sair de Campo Maior a pé. Os arrendatários das passagens atravessavam as pessoas em pequenos barcos, que cruzavam os rios Jenipapo, Longá e Surubim. Esse problema existiu devido a localização espacial de Campo Maior, que se desenvolveu entre rios e lagoas, numa região muito fértil para o gado, especialmente por ser uma região de grandes campos e pela fartura de água. Um grande atrativo para o português, que se estabeleceu aqui para criar gado.

Fonte: None

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