Riscos são eminentes -

Estado faz 'ouvido de mercador' sobre caos nos presídios

O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários José Raimundo afirmou em entrevista ao 180graus que o secretário de Justiça Daniel Oliveira presta um “desserviço à sociedade” ao negar a existência de facções criminosas atuando dentro dos presídios do Piauí. Ele garante que o estado não está fora da zona de risco de rebeliões e não descarta a possibilidade de que massacres como ocorridas em Manaus (AM) possam acontecer aqui a qualquer momento.

“Recentemente o secretário de Justiça falou que ‘não há facções criminosas’. Quando ele falou isso, ele prestou um desserviço à sociedade”, ressalta.

Assim como o Setor de Inteligência do Governo Federal, o sindicato reconhece a presença de ao menos seis facções dentro das unidades prisionais piauienses. Além de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital - de São Paulo), Bonde dos 40 (do Maranhão), Primeiro Comando de Esperantina e Primeiro Comando de Campo Maior, e Facção Criminosa de Teresina, José Raimundo cita ainda o PCM (Primeiro Comando do Maranhão) e, mais recentemente, a descoberta de membros do Comando Vermelho.

“Há possibilidade de ocorrer algo nas mesmas proporções [do que ocorreu em Manaus], pode acontecer sim. E isso pode acontecer em virtude de tudo que já foi dito. E a responsabilidade de tudo que ocorrer é do Estado. Alertamos e fazemos requerimento pedindo providências, mas o poder público faz vistas grossa, faz ‘ouvido de mercador’”, ressalta o presidente.

Ele rebate ainda as declarações do secretário, sobre não legitimar estes grupos. “[O crime] não é um poder constituído, é um poder paralelo. Não é algo para ser ‘legitimado’, mas sim para ser combatido”, diz José Raimundo.

SUPERLOTAÇÃO
Ao afirmar que o sistema prisional do Piauí está sim um “caos”, o representante do sindicato menciona que hoje o principal é a superlotação. “Do outro lado há baixo efetivo de servidores, agentes penitenciários. Quando você tem preso de mais e servidores de menos, vira uma bola de neve. Temos 15 unidades prisionais, cada uma tem a sua ‘superlotação’. Na Irmão Guido existem pavilhões em que as celas, onde caberiam quatro presos, temos 15. (...) Como é que esses presos vão sobreviver? Fere-se aí, a dignidade da pessoa humana, é uma imoralidade. E o causador disso é o Estado”, ressalta.

Sobre o risco de rebeliões, José Raimundo diz que elas podem acontecer a qualquer momento. Os próprios presos, que sabem da presença de rivais, tentam se resguardar. “Infelizmente diante do que está exposto hoje, o agente penitenciário ele tem que ter uma conversa preliminar com esse preso, saber o crime que ele cometeu, e se inteirar da situação dele. Muitas vezes o preso entra no presídio e já sabe como funciona lá e diz que não pode ficar em determinados pavilhões, por que dentro deles existem os desafetos”, relata.

Mas há casos onde o preso não tem onde ficar, senão cercado de desafetos. O presidente explica que, nestes casos, opta-se pela transferência para outra cidade, gerando um outro problema, desta vez com a família, que muitas vezes não tem como visitá-los. “Nós não fazemos isso porque queremos, mas porque o sistema exige, senão vai ser mais um morto. Uma das funções do agente penitenciário é livrar o preso da morte. Em Esperantina, onde eu trabalhei por muito tempo, às vezes chegamos ao pavilhão, aí o preso olha pra gente e nós já sabemos o que ele quer, pelo semblante, ele pede socorro. Teve um deles, que um dia mudei de cela, ele disse ‘muito obrigado, eles iam me matar hoje durante o banho de sol’”.

Fonte: None

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