Após nota em blog -

PT lembra jornalista que seu marido tem 'bom cargo' no Governo Federal

A presidente estadual do PT, Regina Sousa, que é a coordenadora-geral de campanha do senador candidato ao governo do estado Wellington Dias (PT), enviou através da assessoria de campanha do petista, nota com um quê sexista e intimidadora ao 180graus - por sinal, cheia de grosseiros erros gramaticais; nem o nome da profissional escreveram correto - atacando expressamente o trabalho e a pessoa da jornalista piauiense Elisabeth Sá.

A nota lembra a jornalista - que recentemente lançou um blog político com seu nome - de que o seu marido, Henrique Pires (PMDB), ocupa um "importante cargo no governo federal". E vai mais longe. Ressalta também que o cargo pertence a um governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores.

Regina Sousa demonstrou chateação e indignação com as "suspeitas levantadas" pela jornalista de que o suposto atentado que o deputado e candidato à reeleição, Assis Carvalho (PT), teria sofrido seria uma encenação. O post publicado por Elisabeth Sá em seu blog, tenta explicar que o fato, anunciado por Assis na imprensa local, não teria razão de ser, porque os únicos beneficiados seriam seus companheiros de sigla Merlong Solano e Rejane Dias, que não têm interesse algum em tirar a vida de Carvalho. Porém, a cúpula partidária entendeu de uma outra forma, e fez duras insinuações sobre a vida profissional de Sá, envolvendo, inclusive, o seu marido.

COMO NOS TEMPOS DO EXTINTO PFL
"Aliás, a jornalista até mesmo cospe no prato que está comendo. Esquece até que o próprio marido dela, Henrique Pires, é o presidente da Fundação Nacional de Saúde, detentor, portanto, de importante cargo do governo federal que é liderado pelo partido ao qual ela levanta suspeitas e faz insinuações infundadas sobre seus parlamentares", diz o texto enviado por Regina Sousa.

Elisabeth Sá, uma mulher, sempre seguiu uma carreira às suas próprias custas e inovou e ousou no jornalismo piauiense. Foi, por exemplo, a primeira mulher no estado a ter uma coluna política em um jornal impresso. Desempenhou com maestria seu papel como comentarista política na TV, e voltou a inovar novamente ao lançar um blog com seu nome para divulgar informações exclusivas e análises políticas. Algo que o estado do Piauí não possui e é bem comum em regiões onde a imprensa é mais desenvolvida, como em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e na capital do país, Brasília.

Afirmar que ela come do prato do marido - que possui um cargo no ministério da Saúde -, como se dependente dele fosse, é uma avaliação extremamente grosseira e pré-histórica, que não condiz com os tempos atuais. É insinuar que ela não tem capacidade de caminhar com as próprias pernas. Uma declaração que traz em sua essência um quê de sexismo e machismo. Algo que não condiz com a trajetória partidária do PT. Sigla essa que tratava as minorias como prioritárias. A jornalista, em sua trajetória, tem se portado perante a sociedade como uma mulher ativa e autêntica, como sujeito capaz de mudar aquilo que nota à sua volta.

Procurar lembrar à jornalista Elisabeth Sá que ela tem um marido com um "importante cargo federal", em tom ameaçador, também traz em si um viés altamente ditatorial, que não atrai nada de positivo ao Partido dos Trabalhadores, hoje, arredio às pessoas que ousam contestá-lo publicamente. E atrai atenção desnecessária à sigla, principalmente, neste momento que o foco deve ser outro - mas é o que querem, segue a íntegra da nota do diretório estadual do PT logo abaixo.

A INDICAÇÃO É DO PMDB
O cargo, salvo engano, ocupado pelo marido de Elisabeth Sá, é indicação do PMDB. Partido ao qual, mesmo com todas suas mazelas, o PT recorre para poder se manter à frente do Palácio do Planato. Portanto, atacar a família da jornalista e o seu trabalho, é algo que não serve de exemplo a uma democracia e, portanto, não deve ser aceita pela imprensa livre.

Ainda segundo a nota, "a presidente do PT avalia que a jornalista, pelo seu longo afastamento da sua primeira atividade profissional, parece ter esquecido de fazer análises mais amplas do quadro político estadual, pois assim poderia dizer aos seus leitores que o grupo político a que ela serve não está apenas num embate eleitoral com o PT e outros partidos, mas sim numa guerra de vida ou morte".

UM TERMO USADO EM TOM PEJORATIVO: "BATENTE"
Num trecho anterior seguem os ataques. "Não é de se estranhar que Elizabeth (sic), depois de um logo (sic) período de afastamento da atividade jornalística, ela volta ao batente exatamente levantando suspeitas infundadas e que só poderiam se sustentar mesmo no fato dela estar prestando serviços aos que mantem (sic) seus interesses pessoais na Assembleia e no próprio Governo do Estado", sustenta.

A jornalista Elisabeth Sá, que recentemente deu à luz, afastou-se para ser mãe - muito embora nunca tenha deixado totalmente de atuar na profissão -, e exercer seu papel de mãe. E ao que se sabe, nenhuma mãe ao se afastar das suas funções profissionais esquece de realizar suas tarefas depois do prazo permitido por lei. Seria rebaixar o ser femino a um patamar desonroso.

Muitas, ao contrário, voltam até melhores após o sonho realizado. Se a profissional se afastou por um tempo muito longo, é uma questão de foro íntimo e que em nada contribui com o debate travado. Duvidar é e sempre deveria ser a essência primeira do jornalismo. Os fatos, teimosos, falsos ou verdadeiros, sempre vêm à tona, dignificando os honrosos e desonrando os levianos e mentirosos. Seja quem for.

Portanto, é extremamente infeliz a nota vinda de uma mulher, presidente estadual de uma sigla, e suplente de senador, que pretende assumir o posto - com a vitória do titular na disputa pelo governo do estado -, sem ter recebido sequer um voto nas urnas.

Esta sim, uma mazela que deveria fazer acordar todos os esforços e energia necessários para varrê-la desse país chamado Brasil.

E TEM MAIS...
Regina Sousa esquece ainda que o dinheiro que compõe o fundo partidário e alimenta as veias do partido cujo comando estadual está sob suas mãos pertence ao contribuinte, assim como, precisa aprender que o cofre do erário, hoje comandado pela sigla da presidente da República, também o pertence. E a eles, todos, seja Regina, Governo e partido, têm e precisam dar satisfações.

O PT precisa urgentemente aprender o que é Estado, o que é Governo e o que é País, antes de tentar achacar os outros com o chapéu alheio. Até porque tem telhado de vidro demais nesse assentamento, companheiro.

O melhor mesmo seria que essa nota não tivesse saído assim, assinada pela presidenta estadual do PT. Ou por qualquer outra pessoa do partido.

Fonte: None

Comentários

Trabalhe Conosco