Exploração do gás impulsiona desenvolvimento do MA; vai ser assim também no PI?

O Piauí alimenta a expectativa de dar um salto gigantesco economicamente em decorrência das empresas que vêm explorar o gás natural. O Maranhão já vive essa realidade.

A reportagem do 180graus foi até os municípios de Dom Pedro e Santo Antônio dos Lopes conferir in loco o que mudou na vida dos maranhenses com a instalação de empresas do mega empresário Eike Batista.

É visível que a população dessas cidades vive uma nova realidade. Exemplos é o que não faltam: Dona Bia Cartaxo, 46 anos passou da condição de uma simples cozinheira para uma grande empresária, dona de um grupo que gera emprego e renda e é admirado por todos em Dom Pedro, no Maranhão. Será que isso irá acontecer no Piauí?

Claro que só haverá uma resposta para esse questionamento depois da vinda e instalação dessas empresas. Enquanto isso não acontece, tome especulações positivas e negativas serão feitas para esse assunto. A certeza é que para o Maranhão trouxe crescimento e desenvolvimento para cidades pequenas que tinham seu comercio ainda pequeno. A expectativa maior é que no Piauí aconteça o mesmo. Vale destacar que o 180graus não foi autorizado pela assessoria das empresas de Eike Batista a entrar por uma questão de, segundo a assessora Kássia, que atendeu o telefone celular do gerente Danilo, "fase do silêncio" por conta da "baixa na bolsa de valores". Mesmo assim a reportagem entrou no trecho em que era permitido fazer imagens das máquinas em funcionamento.

Santo Antônio dos Lopes é onde funcionam as empresas de Eike Batista. O município maranhense tem 14.288 habitantes e fica localizado a cerca de 300km da capital São Luís. De Teresina, a distância gira em torno de 250km. Com a descoberta de gás natural na região, bem como os investimentos da OGX, estima-se que, em 2020, a população de Santo Antonio dos Lopes será de 30 mil habitantes. Antes da descoberta do gás natural, cujas pesquisas começaram há cerca de cinco anos, a economia do município era basicamente a agricultura e pecuária. O prefeito Eunélio Macêdo (PSD) comemora a elevação dos números no município. 

Dom Pedro fica a apenas 22km de Santo Antonio Lopes e, por ser mais estruturado, beneficiou-se com a vinda das empresas de exploração de gás. Possui 22.673 habitantes e tem como prefeito Hernando Macedo (PCdoB). Sua economia é baseada nas empresas instaladas na cidade, como a Sintral, que fabrica móveis e abrange grande parte das regiões norte e nordeste, além da A Credinorte que são um conjunto de lojas de móveis, materiais de construção e variedades contribuem para o desenvolvimento da cidade. Com hoteis mais requintados, casas em melhores condições, tornou-se a base dos empresários, funcionários e investidores do gás na região. Acabou se beneficiando ainda mais que Santo Antonio dos Lopes, apesar de a arrecadação do ICMS não ser por lá. Além dessas duas cidades, Presidente Dutra, que é ainda maior, mas fica mais distante deste pólo, e Capinzal do Norte, se beneficiaram com os investimentos das empresas que exploram o gás na região. As informações foram repassadas pelo secretário municipal de Finanças  de Dom Pedro Wabster Pereira Krause. 

Conhecida como a região dos Cocais Maranhenses, tinha até alguns anos, como uma das principais fontes de renda a palmeira do babaçu, árvore que tem diversas serventias, onde se faz desde a cobertura das casas da população mais humilde da região, até sabonetes finos que são exportados para vários países de todo mundo. Mas o babaçu nunca foi aproveitado a contento, dos frutos das palmeiras pode ser feito carvão vegetal, que é renovável, de qualidade excepcional, porém nunca foi usado em larga escala.

Os últimos projetos que visavam o aproveitamento industrial das cascas do babaçu por alemães não teve o resultado esperado e o projeto foi abortado. A descoberta de gás natural na região surgiu como uma esperança. Na cidade de Dom Pedro por exemplo, o comércio foi aquecido de forma significativa e é perceptível os investimentos que são feitos em diversos setores. Para se ter uma ideia do quanto a região mudou, uma casa com padrão razoável de estrutura, com um banheiro, dois quartos, uma cozinha e medindo pouco menos de 10 metros é vendida por R$ 500 mil e se for alugada não sai por menos de R$ 800 por mês (na principal rua, a engenheiro Rui Mesquita). É no mesmo local onde ficam os principais hoteis. Um deles, o Fiori, o mais luxuoso, não cobra menos de R$ 200 a diária (para duas pessoas). Detalhe: não há vagas. Tanto que o dono está mandando construir outro.

Dom Pedro era marcada pela presença de grandes empresas, conhecidas em todo o Maranhão e Piauí. Grandes empresas da cidade, como a A Credinorte, ampliaram suas instalações e novos funcionários foram contratados. O grupo pertencente ao empresário Francisco Totô, ainda possui lojas de construção, que lucra com a venda de materiais das diversas obras pela cidade. A reportagem do 180graus o procurou para entrevista, mas ele estava em viagem e disse que só quem fala sobre suas empresas é ele mesmo. Seu grupo A Credinorte, é um dos maiores e mais rentáveis do Maranhão. Disputa espaço com grandes outros grupos no interior daqueles dois estados. A Credinorte é referência em vários municípios maranhenses e piauienses. E é em Dom Pedro que o empresário mora.

Outras empresas como o Armazém Paraíba, também usufruem do bom momento que vive a região. A loja, que tem sede em Teresina, saiu de um local menor e instalou-se mais próximo do Centro da cidade, num local mais amplo e com uma nova e moderna loja. Além disso, empresas como a Audiolar, Eletronews, Exata Magazine, entre outras, investem cada vez mais nos municípios da região. Empresas conhecidas nacionalmente também chegaram ao município, com franquias de investidores locais, como O Boticário, Hering, entre outras. "As pessoas aqui estão com mais dinheiro sim. Quem se mexeu uma coisinha de nada, se beneficiou", o depoimento é da empresária Bia Cartaxo, que abriu esta reportagem. Ela é um dos maiores exemplos do que aconteceu em Dom Pedro no quesito crescimento.

Ao entrar na sua empresa, a recepcionista lhe atende com um largo sorriso: "Ah, querem falar com a dona Bia?! Ela chega em quinze minutos. É só aguardar". No tempo previsto, Bia Cartaxo chega, em seu veículo, um Corolla prata, 0km, e atende a reportagem do 180graus. Simpática, ela atende e fala um pouco de sua vida e admite o quanto mudou após a chegada das empresas de Eike Batista. "Com uma carta de cliente como essa, a MPX do Eike Batista, a Petrobrás, claro que estamos preparados para crescer", brinca a empresária, que é enfática: "Meu segredo acho que é porque não tenho medo de investir".

Bia Cartaxo, ou simplesmente Bia, é cearense, mas morou em São Paulo. Casada, tem três filhos e participa ativamente das atividades do seu grupo empresarial. Dá expediente todo dia. Aos 46 anos, tem um patrimônio de fazer inveja a grandes empresários, seja de São Luís (MA) ou Teresina (PI). "Eu cheguei em Dom Pedro há 15 anos, abri um restaurante aqui, pequeno. Era o Bia Grill. Aí comecei a fornecer comida para o pessoal que fazia pesquisas, antes mesmo de se instalar. Eles foram mostrando os caminhos, o que podia fazer para fornecer mais alimentação para eles. Me regularizei, e o negócio ficou grande. Fechei com Eike Batista, Petrobrás e outras empresas grandes. Aí criei o Bia Cozinha, com uma cozinha industrial que leva para os funcionários dessas empresas desde o café da manhã, ao almoço, jantar e lanches. O meu negócio cresceu, eu não tive medo de investir. Tenho hoje mais de 130 pessoas empregadas, tenho duas vans, uma Fiorino, um caminhão, um ônibus pra levar os funcionários e agora comprei uma caçamba pra alugar. Além do Bia Gril e do Bia Cozinhas, tenho o Bia Lavanderia, que lava as roupas dos funcionários dessas empresas do gás, e tenho Bia Serviços, em que forneço trabalhadores da construção civil, carpinteiro, porteiro e serviços gerais para a MPX do Eike Batista. Este, aliás, nunca conheci pessoalmente. Mas ele  já veio aqui. Conheci o filho dele", diz Bia, que não para de pensar em investir e agora pretende ter a sua própria construtora.

Assim como Bia, ela mesmo diz que "quem se movimentou ganhou mais dinheiro", a população de Dom Pedro, que é a cidade pólo, melhorou economicamente. O município de Dom Pedro vive um momento de supervalorização imobiliária. Enquanto esteve na cidade, a reportagem do 180graus verificou o preço de vários imóveis a venda, o que se constata é que outro um aumento significativo nos valores. Um pequeno terreno 5mx17m já afastado do centro da cidade, custa R$ 35 mil, preço fora da realidade nos municípios maranhenses. O mesmo acontece com o aluguel de imóveis. Uma quitinete, constituído muitas vezes por um quarto, sala e banheiro, custam R$ 500 reais por mês. Pequenas casas , como informado anteriormente, a partir de R$ 800. O preço médio do aluguel de uma casa na região mais movimentada ultrapassa R$ 1 mil. Por toda cidade várias construções são destinadas aos novos moradores, que trabalham nas empresas de extração de gás.

Outra vantagem que o município de Dom Pedro obteve foi o aquecimento do setor hoteleiro. A cidade possui cinco hotéis formalizados, todos sempre lotados. Até a reportagem do180graus teve dificuldade para encontrar vaga para estadia na cidade. Segundo uma funcionária do Hotel Fiori, o maior e mais estruturado da região, o estabelecimento está sempre lotado e já há contratos com as empresas que trabalham na extração de gás, onde os funcionários ‘moram’ no hotel, que já construiu e inaugurou uma nova sede, e está com a construção de mais um anexo para acomodar a demanda. No Hotel Canaã a situação se repete. Carros de vários estados estacionados na porta do estabelecimento mostram que há funcionários de diversos lugares do Brasil que trabalham na região. A propósito, com a migração de centenas de novos moradores na região, bares, casas noturnas e outras estabelecimentos também lucram com a movimentação. Segundo os moradores, festas acontecem diariamente, mas no final de semana, tradicionalmente acontecem shows, e os ‘paredões’ de som também comandam o ritmo da badalação nas ruas da cidade. Próximo a casa de shows 'Avenida.com', no centro da cidade, é onde está localizada a maior concentração de bares e é o polo de diversões no município. Moradores e funcionários das empresas de extração de gás se misturam no novo estilo de vida que o desenvolvimento trouxe.

Na volta ao Piauí, após constatar a nova realidade vivida pelos maranhenses de Dom Pedro e Santo Antonio dos Lopes, a reportagem do 180graus ouviu o governador Wilson Martins sobre o que acha desta nova realidade. Ele disse ter acompanhado a cobertura que o portal fez pelo Facebook de como estava a apuração da reportagem. Categórico, ele diz: garantimos o surgimento de um grande polo econômico no Piauí a partir da exploração do gás e petróleo. Para Wilsão, "é um caminho sem volta". Segundo ele, o empenho pelo leilão valeu a pena. "Como poder público, nos empenhamos pelo leilão, que foi um sucesso. E estamos criando a infraestrutura necessária para que a iniciativa privada faça seu papel da melhor forma. E nossa convicção e empenho é para que esses recursos privados cheguem o mais rápido possível", disse Wilson.

O governador revelou que tem mantido conversações com empresas que arremataram lotes no Piauí para que possam antecipar os investimentos. Também está fazendo gestões junto à própria presidente Dilma Rousseff para que a Petrobras - que arrematou 4 lotes - antecipe o cronograma de investimentos no Estado. No governo do Estado, há grande expectativa para o setor mineral em geral e particularmente para o setor petroquímico. Conforme o secretario de Mineração Edson Ferreira, as projeções mais conservadores apontam para a possibilidade de investimentos superiores a R$ 12 bilhões nos próximos cinco a seis anos, somente no setor petroquímico. Esses investimentos estarão vinculados à exploração direta do gás e petróleo, bem como de empreendimentos complementares. Além disso, a exploração do gás no Piauí viabiliza a construção de um gasoduto integrando Piauí, Maranhão e Ceará. Edson acrescenta que o êxito do leilão aumenta o interesse no Piauí como alternativas para grandes negócios. "O governador Wilson Martins esta colocando a atracão desses novos investimentos por entender que a exploração de gás e petróleo marca uma nova etapa na economia e nas condições sociais de nossa gente", diz Ferreira.

REPORTAGEM:Allisson Paixão, Jhone Sousa e Karine Santana - Enviados à Dom Pedro e Santo Antonio dos Lopes-MA