Maçonaria -

Ordem DeMolay, Maçonaira e Igreja

José Narciso do Monte (*)

Ordem DeMolay

A Ordem DeMolay não é parte integrante de uma Loja maçônica, apesar da convergência dos princípios que norteiam a vida de um DeMolay e de um Maçom, na busca do bem-estar social e na defesa da cidadania, sob a égide da moral e da ética, baseados na plataforma da trilogia Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Maçonaria e DeMolay são instituições com estruturas organizacionais distintas e autônomas, tanto sob o aspecto simbólico-administrativo quanto financeiro, sem subordinação hierárquica direta entre os dirigentes da segunda sob os da primeira.

Nesse sentido, a Maçonaria funciona apenas como patrocinadora, cedendo espaço físico (Templos) para as práticas DeMolays e disponibilizando recursos humanos de apoio logístico e de assessoramento.

As “Iniciações” nesses organismos não se comunicam.

A organização DeMolay é estruturada em Unidades denominadas de “Capítulos”, onde recebe adeptos no Grau Iniciático e os eleva ao Grau de DeMolay. Os Capítulos, por sua vez, são vinculados a um Supremo Conselho.

Há também os Conventos ou Prioratos, destinados a trabalhar os Graus da Ordem de Cavalaria.

Atualmente convivem no Brasil dois Supremos Conselhos: o Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil (SCODB), fundado em 1985 por Alberto Mansur, mediante tratado com o International Supreme Council of the Order of DeMolay (ISC), criado por Frank Shermann Land, em Kansas City (USA). Posteriormente, o SCODB se proclamou independente e soberano em terras brasileiras, sem nenhum tipo de submissão ao ISC. Tem atuação em área de influência do Grande Oriente do Brasil (GOB).

A partir de 1997, fruto de divergências administrativas entre Alberto Mansur e o então Grão-Mestre da Grande Loja de São Paulo, Salim Zugaib e outros, foi criado o Supremo Conselho da Ordem DeMolay para a República Federativa do Brasil (SCODRFB), que recebeu Carta Constitutiva do DeMolay Internacional, órgão americano sucessor do ISC, tornando-se seu representante no Brasil e único reconhecido. Goza de apoio da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil – CMSB (Grandes Lojas) e de parte do Grande Oriente.

São divisões meramente administrativas que em nada comprometem os nobres ideais dos jovens DeMolays.

A Vida de Frank Shermann Land (foto)

O norte-americano Frank Sherman Land (1890 — 1959) foi o idealizador e fundador da Ordem DeMolay, no dia 18 de março de 1919 em sua cidade natal, Kansas City.

Logo cedo já demonstrava o seu espírito de liderança. Teve uma vida religiosa muito intensa. Desde criança, na Igreja, e junto com os ensinamentos de sua mãe, Frank Land conheceu a importância de uma filosofia de vida repleta de virtudes.

Ao completar 21 anos e recebeu um envelope de sua avó com uma mensagem que mudaria sua vida para sempre. Nela estava escrito: “Seu avô era maçom, ele amava a maçonaria e eu ficarei feliz se você entrar. Em memória do seu avô e como meu presente, você encontrará o dinheiro necessário para sua iniciação. Faça o que seu coração mandar, mas ficarei muito feliz se você fizer isto”.

No dia 25 de abril de 1912, Land fora iniciado e rapidamente exaltado ao Grau de Mestre.
Aos 35 anos chegou ao Grau 33 da Maçonaria (Rito Escocês Antigo e Aceito).. Seis anos depois foi eleito Grão-Mestre da Grande Loja do Missouri.

Frank não teve filhos, mas deu a milhões de jovens o que todo pai gostaria de dar ao seu filho: “um ideal, um sonho e a vontade de fazer do mundo algo melhor”.

Maçonaria

Definitivamente, a Maçonaria não é uma religião como muitos imaginam, nada obstante o viés de religiosidade nela existente, em função da crença em um Ser Superior e na alma imortal. É bem verdade que muitos de seus princípios éticos, ritos e símbolos receberam inspiração do Antigo Testamento, mas isso não faz dela uma religião.

Para uma ideologia ser considerada uma religião são necessários 3 pré-requisitos básicos: garantir, acreditar e converter. As religiões garantem a salvação, acreditam em uma teologia específica e convertem os infiéis.

A Maçonaria não se enquadra em nenhum desses critérios. Os maçons não fazem promessas de salvação, não professam uma teologia específica e não se propõem a converter ninguém.

Utilizam a Bíblia Sagrada em suas reuniões como símbolo de um Código de Moral, mas jamais discutem sobre religião, visto que esta não é a sua missão institucional. Daí a sua definição clássica:

“A Maçonaria é uma Instituição que tem por objetivo tornar feliz a humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade, pelo respeito à autoridade e à crença de cada um”.

A Maçonaria cuida da racionalidade humana, convive harmonicamente com todos os credos lícitos e não vê quaisquer incompatibilidades nessa comunhão.

Igreja Católica

Nos tempos atuais em que predomina o ecumenismo e a aproximação dos ideários em favor da paz entre os homens, não há justificativas para que setores ultraconservadores da Igreja continuem a combater, de forma radical, a Maçonaria e as associações que lhe são correlatas, impondo aos seus membros de fé católica proibições de acesso aos sacramentos.

Nesse contexto, em recente episódio, o Bispo da Diocese sediada em Campo Maior (PI), Dom Eduardo Zielski, se negou a oficiar a confirmação do batismo, pelo sacramento da crisma, a uma plêiade de adolescentes, por serem estes pertencentes à Ordem DeMolay, que têm como um dos preceitos básicos a crença em Deus e o cultivo das coisas sagradas.

A inusitada decisão, evidencia que o Bispo Zielski integra a banda ultraconservadora da Igreja, em descompasso com a pregação progressista do Papa Francisco que, em sermão de 12.05.14, disse que batizaria até alienígenas se um deles viesse ao seu encontro e fizesse o pedido (O Globo).

Acrescente-se a esse fato, o périplo que o Sumo Pontífice acaba de fazer pela Turquia, oportunidade em que, ombreado com muçulmanos, rezou em uma Mesquita, bem como participou de encontro com a autoridade da Igreja Ortodoxa Grega, tudo em busca da união.

O Bispo de Campo Maior foi além: retirou do pó do arquivo e exibiu como válida, uma Declaração do Vaticano assinada em 26.11.1983, pelo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o então Cardeal Joseph Ratiznger (hoje Papa em retiro permanente), pela qual ratifica a condenação da maçonaria e a excomunhão dos maçons.

Em regra, esse documento vem sendo considerado letra morta nas relações clericais com a Ordem Maçônica.

(*) José Narciso do Monte é membro da Academia Piauiense de Mestres Maçons.

(Matéria publicada originalmente na Revista Nossa Gente, de Campo Maior, edição do mês de dezembro/2014)

Fonte: None

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