'Aposentar? Eu? De quê?' -

Zeca Pagodinho conta que busca no samba o remédio para superar as perdas

Zeca Pagodinho tem certeza de que precisa mesmo encarar a vida cantando. “Aposentar? Eu? De quê?”, exclama o músico, quando a pergunta é se ele planeja descansar dos estúdios e dos palcos. Se depender da quantidade de versos surgidos despretensiosamente nos encontros boêmios que regularmente faz com colegas, o trabalho nunca vai cessar. No novo disco, “Ser humano”, o carioca de Irajá volta a entoar canções inéditas, compostas por parceiros do samba, coisa que não fazia há cinco anos.

— Já estava na hora, né!? Estava com vontade de fazer um disco assim, pois estou sempre com a rapaziada, ouvindo samba novo. Tem música que estava guardada há três anos ou mais! Se tivessem 30 faixas, ainda sobrava canção. Deus é quem sabe! — comemora Zeca, que apresenta o disco nos dias 28 e 29 de maio, no Citibank Hall.

Sem qualquer regravação de sambas clássicos, o novo CD traz minutos sincopados por histórias amorosas, tema com o qual o músico já está habituado a versar. Na canção que dá título ao trabalho — uma homenagem escrita por Claudemir, Marquinho Índio e Mário Cleide —, o sambista afirma que “sabe chegar pra somar” e tem “esperança e fé no ser humano”. É tudo o que ele faz e pensa, admite.

— Sou um cara que prega o amor, porque adoro o amor. Eu gosto do bem-viver, da paz. E tenho que falar do que sou, né? — justifica ele, no tom despachado de sempre: — Tenho, sim, esperança! Tem que ter, né? Acontece muita coisa ruim no mundo, é verdade. Mas ainda tem eu e um monte de gente do bem. Olho para os meus amigos e vejo que existe um caminho. O mal não pode vencer o bem, pô!

“Sempre junto e misturado com seu povo” — como reiterado na canção que celebra o espírito generoso do músico —, Zeca tem propriedade para falar do assunto. Ele não tem dúvida, por exemplo, sobre quem são os autores das mazelas planetárias.

— Os verdadeiros culpados dessa violência toda que a gente vê, de todo esse mal, não estão nem aí... Eles estão lá no paraíso fiscal, em seus helicópteros, em carros blindados! Não é no ser humano que falta algo! Está faltando mais dignidade no poder.

O problema é que, sem saber contra quem se revoltar, o povo acaba se voltando contra o próprio povo... É assim que está, infelizmente!

Não à toa, Zeca segue cantando, sem vislumbrar qualquer aposentadoria. Com a voz no microfone, ele transforma as dores da vida — como a morte do filho Elias, em janeiro, e de seu pai, Jessé, no mês passado — em alegria:

— O samba é meu remédio. Perdi dois, mas ainda tenho mais de cem para cuidar. Tem que fazer do limão uma limonada, né?

Fonte: Com informações do Extra online

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