Tirinhas e animações -

Yohrán Araújo, criador do DevaneiosHQ: 'se você não posta todo dia o algoritmo te pega'

As tirinhas e animações de Yohrán Araújo, publicitário de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, falam sobre o cotidiano sob o olhar de Sigmund (um cachorro), Freud (uma raposa), Louise (uma capivara) e Alfred (um gato). No Instagram, perfil devaneioshq conta quase 400 mil seguidores. As informações são do Jovem Nerd.

Essa história toda começou em 2016: “O começo foi bem demorado, eu queria fazer algo na internet mas sempre achava que eu não seria bom naquilo, passei quase um ano pensando sobre isso. Um dia eu decidi fazer um zine virtual, quase como um gibi com várias histórias diferente, entre eles, o Sigmund e Freud”, conta Araújo.

Depois de ver uma página que compilava diversas obras como Peanuts, Garfield e Mafalda, resolveu enviar uma de suas tirinhas. Mesmo achando que nunca seria publicado, dez minutos depois a primeira aventura de Sigmund e Freud estava no ar. “Aí eu criei a página e posto tirinhas diárias desde 2014, no começo inclusive eu chegava a postar duas ou três tirinhas em um dia.”, complementa.

Sigmund e Freud ganharam amigos e o projeto ganhou corpo. Mas, a essência, que é refletir sobre o cotidiano, continua. “Nem sempre são tirinhas reflexivas, tem muita tirinha que é só uma piada boba, algo pra aliviar um dia no qual alguma notícia muito ruim foi muito falada no Brasil, por exemplo.” conta.

“Então, tem muito da minha vida, situações que eu passo, conversas que eu tenho, hipocrisias que eu vejo por aí.”

Adaptando-se às redes

O Instagram passou a investir muito no Reels, a versão do TikTok para a rede, digamos assim. Investir significa que dá mais visibilidade para quem produz os vídeos de até 30 segundos do que outros tipos de conteúdo.

“Eu curto as mudanças, mas o problema é que muitas das novas ferramentas te forçam a migrar para elas ou você perde seguidores ou alcance. Para artistas independentes, as redes sociais são importantes para a divulgação do trabalho, eu realmente acho muito legal as novas ferramentas, mas elas sempre favorecem o vídeo e isso é um trabalho a mais, principalmente para quem trabalha sozinho, que é o meu caso”, conta Araújo.

Todo o conteúdo produzido no devaneioshq é feito por ele. Isso significa que, para não perder alcance, além das ilustrações, tem que criar o roteiro da tirinha, o roteiro de animação, gravar as falas, editar e animar. Isso tudo sem falar na gestão da comunidade e seguidores.

“E ainda tenho que trabalhar por fora, já que o Instagram não monetiza e o Facebook só monetiza vídeos longos. Ou seja, quem trabalha com ilustração e quadrinhos sofre com isso e com a constância, se você não posta todo dia o algoritmo te pega, se você produz todo dia você quem te pega é o burnout”, desabafa.

Como quem aparecia em suas publicações eram seus personagens e não o criador, algo “inusitado” acontecia: “Depois que comecei a aparecer, eu recebi muitas mensagens falando que achavam que eu era branco, e não falavam isso de forma agressiva — embora seja, sim, uma atitude racista presumir que alguém que está por trás do trabalho seja branco. Se nunca me viu porque pensou logo que eu não fosse negro?”, revela.

“Foi aí que percebi que nos eventos quase não tem artistas negros, as marcas quase nunca trabalham com artistas negros. Falo por experiência própria, porque já tentei várias vezes. E não é porque um artista negro não tenha um trabalho de qualidade: até mesmo trabalhar com editoras é difícil, já tentei também. Eu me posiciono porque tenho seis anos de trabalho com essas tirinhas e se eu tenho cinco matérias em sites falando do meu trabalho é muito. E, em eventos, se eu não luto para me inscrever e pagar a mesa, não me chamariam para participar, como acontece com artistas brancos.”

“E não estou aqui desmerecendo o trabalho dos artistas brancos e sim questionando o motivo de ser mais fácil para eles, porque muitos conseguem mais reconhecimento em metade ou menos da metade do tempo. Falar que eles conseguem porque são melhores é uma forma cruel e um pouco preguiçosa de se pensar. Por isso eu me posiciono e questiono.”, completa.

Araújo divide a rotina entre trabalhos como designer freelancer e produtor das tirinhas. São dois livros publicados com financiamento coletivo: Devaneios: A Estrada Até Aqui (2018) e Devaneios: Conversas entre Animais (2019). Você pode conhecer mais sobre as histórias criadas por Araújo e apoiar a produção clicando aqui.

“Como eu falei, faço tudo sozinho, desde embalar, etiquetar e levar as encomendas, além de editar e produzir todo o meu conteúdo e responder mensagens e comentários. Não é fácil, eu vivo bem cansado, mas ficaria pior se abrisse mão do que eu gosto de fazer.”, conclui.

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