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Primeiros episódios de Y: The Last Man expandem HQ original, mas pesam na tragédia

No início dos anos 1990, a DC Comics percebeu que havia um grande mercado para explorar na publicação de quadrinhos originais direcionados ao público adulto. Esse foi o início do selo Vertigo, onde foram publicados verdadeiros clássicos das HQs, que agora inspiram filmes e séries de TV. A mais recente adaptação dessa safra é Y: The Last Man, que nos primeiros episódios se esforça para expandir a HQ original e subir o tom na parte trágica da história. As informações são do Jovem Nerd.

A produção, que já está disponível no catálogo brasileiro do streaming Star+, é uma adaptação do cultuado quadrinho Y: O Último Homem, de Brian K. Vaughan e Pia Guerra. A história acompanha um mundo pós-apocalíptico onde todos os mamíferos com cromossomo Y morreram simultaneamente e de forma misteriosa. A exceção é o jovem Yorick Brown e seu macaquinho de estimação, Ampersand, que juntos lutam para sobreviver.

Desde o início, o seriado toma a sábia decisão de expandir o foco da história. Tanto o primeiro episódio, quanto a primeira edição da revista, estabelecem o mundo onde esse conto distópico vai se desenrolar. Porém, enquanto a HQ precisa fazer isso em aproximadamente 20 páginas, o FX pôde dedicar 50 minutos, o que possibilita uma conexão mais profunda com os personagens que conduzem essa história.

Essa expansão é muito bem aproveitada por não apenas mostrar, mas aprofundar diferentes perspectivas do evento que matou aproximadamente metade da população mundial. Ter olhos desde as difíceis decisões do alto escalão da Casa Branca, até a vida dos mais pobres nas ruas do Brooklyn ajudam a imaginar como o mundo em que vivemos seria impactado por um acontecimento dessa magnitude.

E muito desse encantamento pode ser creditado ao inspirado elenco da produção. Ben Schnetzer se mostra uma ótima escolha para o papel de Yorick ao conseguir traduzir perfeitamente a natureza “fracassado de bom coração” do personagem. O mesmo pode ser dito de Diane Lane, mãe de Yorick, que vive uma política dos EUA que se torna a presidente do país em seu momento mais sombrio, após anos lutando para ser respeitada.

Ben Schnetzer e Diane Lane em Y: The Last Man

Outro grande destaque é Ashley Romans, que aproveita cada segundo em tela para tornar a enigmática Agente 355 em uma das personagens mais interessantes da produção, esbanjando carisma através de toda a frieza de um agente secreto. Nesse quesito, Olivia Thirlby vai quase na contramão com Hero, a problemática irmã do protagonista, que aqui ganha uma origem mais sombria e dramática.

Ashley Romans e Olivia Thirlby em Y: The Last Man

Ao fim dos três primeiros episódios, a proposta de expandir Y: O Último Homem traz grandes avanços para adaptação. Além de amplificar a ligação do público com os personagens logo no início, a série traz questões de gênero e sexualidade que o próprio quadrinho não abordou há quase 20 anos. Um claro exemplo é a transexualidade, que não chega a ganhar muito destaque neste início, mas já se mostra presente com a inclusão de Sam Jordan. Interpretado pelo ator trans Elliot Fletcher, o personagem é inédito da produção e traz dilemas próprios para o contexto da produção. Somado à citação textual que há outros homens além de Yorick com a diferença de que “nenhum com o cromossomo Y”, o roteiro confirma a fala da showrunner Eliza Clark de que a série teria a visão de que “gêneros são diversos e cromossomos não são iguais a gênero”.

Elliot Fletcher em Y: The Last Man

Outro ponto positivo da série está na parte visual. Por se tratar de um mundo próximo do real, a construção desse universo pode parecer simples, mas é na atenção aos detalhes que a série ganha vida. Todos os traços de um mundo arrasado estão lá: ambientes destruídos, carros abandonados, cadáveres por toda a parte e afins. Mas a união entre design de produção e direção não pesam a mão e conseguem mostrar essa degradação de maneira crível. Isso inclui também as cenas em que a computação gráfica é necessária, seja em explosões ou na presença digital do macaquinho Ampersand.

Por outro lado, o terço inicial de Y: The Last Man também amplifica a sensação de luto e tragédia do evento original. É claro que a morte repentina de tantas pessoas seria fonte de dor e sofrimento, algo que está presente desde o quadrinho original. Porém, os primeiros episódios da série batem muito nessa tecla, ao ponto de que por vezes a história deixa de andar para mostrar novamente o sofrimento de determinados personagens.

Certamente esse foco tem uma função narrativa para explicar determinadas atitudes e situações no futuro, mas nisso o roteiro atrapalha o próprio ritmo e abre mão da progressão narrativa. Considerando o momento de pandemia que atravessamos no mundo real, esse tom sombrio pode acabar afastando parte do público — uma pena já que o próprio quadrinho original lidava com o drama de forma apropriada sem deixá-lo de lado.

Yorick faz truques de mágica em Y: The Last Man

Ainda assim, o saldo é positivo. Y: The Last Man se mostra uma produção interessante não apenas para os fãs de apocalipses, mas também para quem gosta de drama, intrigas, segredos e reviravoltas. Resta esperar pelo restante da temporada para saber se a temporada vai entregar o que prometeu nos convincentes episódios iniciais.

Os três primeiros episódios de Y: The Last Man estão disponíveis no Star+. A produção ganhará novos capítulos às segundas-feiras.

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