Usar vape equivale a fumar até 120 cigarros por dia, afirma pesquisa
Um estudo brasileiro revelou que o uso de cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes, pode expor os usuários a níveis de nicotina equivalentes a fumar 120 cigarros por dia. A pesquisa foi conduzida pelo Instituto do Coração (Incor), em parceria com a Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo e a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e divulgada na última segunda-feira (25/11). As informações são do Metrópoles.
Os pesquisadores analisaram os níveis de nicotina em 417 usuários de vapes em espaços públicos e de entretenimento de São Paulo. Além disso, investigaram as substâncias tóxicas presentes nos líquidos inalados. Entre os participantes, 60% relataram dificuldade em abandonar o hábito, sendo que, desse grupo, a maioria nunca havia fumado cigarros tradicionais antes de usar os dispositivos eletrônicos.
O estudo encontrou um caso extremo: um voluntário que utilizava o vape há pouco mais de um ano apresentou 2,4 mil nanogramas de nicotina na corrente sanguínea, seis vezes mais do que o valor médio encontrado em fumantes de 20 cigarros diários por mais de 20 anos. A média geral de nicotina nos usuários de vapes foi de 400 µg/ml, maior do que em pessoas que consomem um maço de cigarros por dia.
A cardiologista Jaqueline Scholz, líder do estudo e diretora do Núcleo de Tabagismo do Incor, explicou que o uso prolongado dos vapes, mesmo em períodos relativamente curtos, já provoca dependência significativa. "Já atendi pessoas que nunca fumaram cigarros convencionais, mas que apresentaram níveis de nicotina superiores aos de fumantes de longa data", destacou.
Os líquidos usados nos dispositivos eletrônicos podem conter até 57 mg de nicotina por mililitro, muito acima do limite de 1 mg permitido por cigarro convencional. Mesmo voluntários que relataram usar versões supostamente sem nicotina apresentaram altos níveis da substância no sangue, o que os pesquisadores atribuíram à composição dos dispositivos mais comuns, como os descartáveis ou recarregáveis, ricos em sais de nicotina.
A exposição elevada à nicotina pode causar alterações no funcionamento do coração e do sistema respiratório, aumentando os riscos de arritmias, infarto e doenças oportunistas, como gripe e tuberculose. Esses impactos ampliam as preocupações sobre os efeitos dos cigarros eletrônicos na saúde pública.
O crescimento do uso de vapes tem motivado um aumento significativo no número de estudos sobre os malefícios desses dispositivos. Países como Inglaterra, que inicialmente incentivaram o uso de cigarros eletrônicos como alternativa ao tabagismo, revisaram sua posição diante das evidências de que eles podem causar doenças graves.
Esses resultados reforçam debates globais sobre a regulamentação dos cigarros eletrônicos. O Brasil, que já proíbe a comercialização desses dispositivos, vem enfrentando desafios com o uso crescente entre jovens e adultos, impulsionando a discussão sobre estratégias mais eficazes de controle e conscientização.