“Paradoxo do colesterol” -

Por que algumas pessoas com taxas altas de colesterol vivem mais?

O artigo, assinado por Estefanía Díaz del Cerro, pesquisadora associada ao grupo de investigação sobre Envelhecimento, Psiconeuroimunoendocrinologia e Nutrição da Universidade Complutense de Madri, foi publicado originalmente na plataforma científica The Conversation. Ele aborda o papel do colesterol na saúde humana e questiona as abordagens tradicionais, especialmente em idosos.

Foto: Reprodução

“Quando meu médico me disse que eu estava com colesterol alto, fiquei assustado. Sempre ouvi dizer que é fator de risco para doenças cardíacas”, afirma Juan, de 56 anos. “No entanto, meus parâmetros de saúde eram excelentes. O médico me disse que algumas pessoas com colesterol alto podem até viver mais. Eu não entendi, isso não deveria ser ruim?”. Esse exemplo ilustra o chamado "paradoxo do colesterol", um fenômeno que sugere que, em certos grupos, níveis altos de LDL podem estar associados a uma maior longevidade.

O colesterol é uma gordura essencial encontrada em todas as células do corpo. Ele desempenha funções vitais, como reparação celular, produção de hormônios e vitamina D, além de participar da digestão. Apesar de ser classificado como “bom” (HDL) ou “ruim” (LDL), estudos recentes indicam que essa classificação simplista não reflete toda a complexidade da substância, especialmente no contexto do envelhecimento.

Os limites clínicos para colesterol LDL e HDL têm sido tema de controvérsia, especialmente pela influência da indústria farmacêutica. A redução dos valores recomendados aumentou o número de pessoas tratadas com estatinas, beneficiando o setor farmacêutico. Pesquisas, como a do dinamarquês Uffe Ravnskov em 2016, questionam se níveis altos de LDL realmente elevam o risco de mortalidade, sugerindo que, em muitos casos, indivíduos com colesterol elevado vivem mais.

Ainda assim, é importante destacar que essa relação não é uniforme. Em jovens e adultos de meia-idade, o colesterol LDL elevado continua sendo um fator de risco significativo para doenças cardíacas e mortalidade. Para idosos, no entanto, a teoria mais aceita é que o LDL pode ter um papel protetor, ajudando o sistema imunológico ao combater infecções. Outros fatores de risco, como hipertensão e tabagismo, também podem influenciar mais do que o colesterol em si.

O "paradoxo do colesterol" levanta questões sobre os limites do tratamento medicamentoso. Na prevenção primária – ou seja, em pessoas sem histórico de doenças cardíacas – os benefícios das estatinas são incertos e podem não justificar os efeitos colaterais. Já na prevenção secundária, os benefícios são comprovados. Por isso, especialistas sugerem personalizar os tratamentos, equilibrando riscos e benefícios, especialmente para idosos com perfis de saúde variáveis.

Fonte: Metrópoles

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