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Milhares de médicos são contra a vacinação infantil? entenda!

Em gravação publicada em sua página oficial no Instagram e que se tornou uma mensagem classificada como "muito compartilhada", a médica Luciana Monteiro se diz contra a campanha de vacinação de crianças contra a Covid-19. Logo no início, ela fala sobre um manifesto que teria sido assinado por "mais de 15 mil médicos e cientistas", com esse mesmo posicionamento. As informações são do R7.

Em seguida, Monteiro diz que a tecnologia mRNA, usada em algumas das vacinas contra a Covid-19, injetaria "um gene viral" que força o organismo a criar "proteínas tóxicas", que causariam danos "permanentes aos órgãos das crianças". O vídeo termina com a médica declarando que "crianças são naturalmente protegidas e quase imunes à Covid".

O vídeo chegou ao MonitoR7 por meio de um pedido de checagem feito por um leitor, no WhatsApp. Em busca pelo vídeo nas redes sociais, é possível encontrá-lo também em outras plataformas. No Instagram da própria médica, a postagem contabilizava mais de 67 mil visualizações até o momento dessa checagem. Já no Telegram, aplicativo de troca de mensagens, uma publicação com o mesmo vídeo teve pelo menos 30 mil visualizações. 

Nessa mensagem no Telegram, a legenda disponibiliza um atalho para um site no qual médicos poderiam aderir ao manifesto citado por Luciana Monteiro. Mas o manifesto que está nesse site não trata de vacinação infantil. A defesa exposta nele é do chamado "tratamento precoce" contra a Covid-19, que usa substâncias que não tiveram sua segurança e eficácia contra a doença comprovadas cientificamente. 

No site, também não é possível encontrar nenhuma evidência de que as assinaturas realmente chegam a 15 mil. Há apenas um aviso no topo da página que afirma que "mais de 15.000 médicos e cientistas assinaram a Declaração de Roma". Porém, mais abaixo, existe uma área com o nome dos médicos que participam do manifesto. E ali conseguimos localizar o registro de 65 profissionais de saúde.

Entramos em contato com a médica, para ter acesso ao manifesto com a assinatura de 15 mil médicos, que consta na mensagem. Ela nos enviou outra declaração. Nesta, de outubro passado, o texto trata realmente de vacinação infantil. Segundo a declaração, existem riscos clínicos insignificantes da infecção pelo Sars-CoV-2 em crianças saudáveis com menos de 18 anos e, por isso, elas não deveriam ser vacinadas.

No entanto, verificamos que esse novo site enviado por Luciana Monteiro é uma extensão da "Declaração de Roma" já antes citada aqui. Esse manifesto sobre a vacinação infantil não apresenta nenhum número de signatários. Na primeira vez em que checamos, o único dado citado era o mesmo, de 15 mil assinaturas. No dia seguinte, verificamos que os autores aumentaram o número para 17 mil assinaturas. Mas não conseguimos localizar nenhum documento que comprove esse novo número nem o anterior.

Em relação aos possíveis efeitos das vacinas com tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) no organismo, citados por Luciana Monteiro, eles são os mesmos propagados em vídeos pelo médico e pesquisador Robert Malone, creditado como "inventor da tecnologia de mRNA".

Monteiro e Malone afirmam que as vacinas com essa tecnologia podem injetar um gene que acaba desenvolvendo uma proteína tóxica no organismo humano, que afetaria inclusive os órgãos das crianças. Isso não é verdade. O MonitoR7 já checou mais de uma vez essa informação e outras semelhantes, e você pode conferir os resultados nos textos abaixo.

Quanto ao título concedido a Robert Malone, verificamos que ele não é considerado o "inventor das vacinas mRNA". Malone foi muito importante no desenvolvimento dessa tecnologia. Mas não foi o único a contribuir para o seu desenvolvimento.

Por ter um papel importante na produção de proteínas que determinam o funcionamento das nossas células, o RNA sempre foi um candidato a instrumento para ensinar as células imunológicas a desenvolver defesas contra invasores. O problema sempre foi que o RNA é muito instável e não se mantinha viável durante as experiências.

Robert Malone desenvolveu, em 1989, um método para proteger o mRNA com um lipossomo (gordura). Foi um grande progresso científico, mas essa transferência gerava uma reação inflamatória. Só em 2004 foi encontrada uma solução para esse problema, com um método viável para injetar mRNA no organismo, desenvolvido por Katalin Karikó, vice-presidente da empresa BioNTech.

Robert Malone usa, em seu site pessoal e sua conta no Twitter, o título de "inventor das vacinas de mRNA". Quando confrontado pelo site de checagens Logically com essa história do desenvolvimento da tecnologia, ele admitiu que não inventou as vacinas. Mas afirmou que se considera responsável pela "plataforma tecnológica das vacinas". 

Robert Malone é figura constante em publicações de agências de checagem. No começo de janeiro, ele teve sua conta permanentemente suspensa no Twitter, no qual tinha mais de 520 mil seguidores. A justificativa para a suspensão foi a divulgação frequente de informações falsas sobre as vacinas.

Luciana Monteiro também segue o mesmo padrão do médico americano. Em outubro do ano passado, a médica gravou um vídeo em que dizia que o Brasil era o único país que ainda exigia o uso obrigatório de máscara como medida de combate à pandemia de Covid-19. Não era verdade.

Na época, alguns países, como Estados Unidos e Portugal, já tinham flexibilizado o uso de proteção facial, mas em diversas situações e ambientes o equipamento ainda era obrigatório. No Chile, país com vacinação mais avançada que o Brasil, por exemplo, na época e até o momento a utilização de máscara facial é obrigatória em todos os espaços públicos.

MonitoR7 entrou em contato com Monteiro e a questionou sobre as contestações que as declarações dela receberam de especialistas e de autoridades de saúde. "Quanto às contestações contra as afirmações que sustentamos, eu prefiro me apegar aos fatos", disse a médica. 

Como foi mostrado aqui, as alegações da médica não são verdadeiras e vão no sentido contrário do que provaram cientistas, médicos e autoridades de saúde. O MonitoR7, recentemente, falou sobre a importância da vacinação infantil. Portanto, o conteúdo do vídeo é de teor falso.

Ficou em dúvida sobre uma mensagem de aplicativo ou postagem em rede social? Encaminhe-a para o MonitoR7, que nós checamos para você (11) 99240-7777

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