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Médicos mudam de especialidade para atuar no combate à covid-19

A alta quantidade de pacientes com covid-19 tem provocado uma mudança de escala em vários hospitais. E fazendo médicos de várias especialidades reaprenderem temas da medicina para atuarem no atendimento direto à doença. A reportagem é do R7.

Ortopedistas, cardiologistas, gastro, neurologistas, entre outros, acabaram tendo de se aprofundar novamente em temas como infectologia e pneumologia para darem suporte no atendimento de urgência, conforme conta o fisiatra Sérgio Akira Horita, 40 anos, um dos muitos que foram temporariamente deslocados de setor.

"O momento exige de nós atitude diante da gravidade da pandemia, não dava para ficar de braços cruzados. Nossa experiência na área é bem menor do que a de profissionais da especialidade, foi assustador neste sentido, mas tenho a disposição de contribuir", ressalta.

A situação tem feito o verdadeiro conceito da medicina vir à tona, conforme afirma Horita. Nesta visão, o médico deve ter um olhar para o todo, e não apenas para a sua especialidade.

O oftalmologista, por exemplo, tem de se preocupar com todos os aspectos clínicos do paciente, a pressão, o bom funcionamento de seu organismo, e não apenas com os olhos.

Há quase 20 anos formado, dr. Horita conta que esta situação está fazendo ele voltar para os tempos de Residência, quando começou a aprender a medicina mais na prática.

"Sinto-me um pouco como nos tempos em que era interno, na faculdade, revendo coisas que aprendi antes", lembra.

Em geral ele costuma dar suporte àqueles que estão mais acostumados com os procedimentos emergenciais, como a intubação e o preparo para a ventilação.

Mas há situações em que, diante da alta demanda, ele mesmo tem de decidir o rumo do atendimento, para salvar vidas.

"Em alguns momentos eu mesmo tive de conduzir casos, rever quantidade de medicamentos, estratégias para ventilação mecânica, são situações desafiadoras. A primeira coisa é buscar manter a calma, já que são situações extremas que eu geralmente não vivencio. Mas, como tenho revisto vários temas e o que se aprende não se esquece, tem dado certo", conta.

Outra profissional, de 33 anos, que preferiu não ter seu nome revelado, afirmou que as enfermarias em seu hospital também tiveram de se adequar para o atendimento de pacientes com o novo coronavírus.

"Para mim foi mais assustador, pois sou mãe, tenho um filho de 2 anos e tenho medo de ficar doente e passar para ele", conta.

Gastroclínica por especialidade, ela lembra com orgulho o momento em que salvou a vida de um paciente com covid-19.

"Tive um paciente idoso que estava em desconforto respiratório na enfermaria, e com medidas clínicas consegui que ele ficasse estável. Por que pela idade e comodidades, a intubação traria menos chances deste paciente sair bem. Isso para mim foi gratificante", diz.

Para ela, esse momento ficará marcado para sempre.

"A medicina é um eterno aprendizado. Apesar do medo do contágio, é uma profissão que me estimula a cada dia, por ter sempre novidades tanto nos tratamentos quanto no surgimento de novas doenças. Futuramente será muito interessante lembrar que fiz parte de um momento importante da história, e que de alguma forma contribui para um mundo melhor", comenta.

Para o dr. Horita, os aprendizados também são muitos.

"Tenho percebido nestes momentos a importância da resiliência para tolerar as adversidades e de não ser influenciado por pensamentos negativos durante esses atendimentos. Também levarei comigo a importância de rever doenças clínicas e dos cuidados médicos no dia a dia. Tudo isso ficará de legado para mim", completa.

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