Estratégias para mudar de atitude -

Como as reclamações diárias afetam nossa saúde mental, emocional e até física

Texto escrito por Maria J. Garcia-Rubio, professora da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Internacional de Valência, Espanha, publicado na plataforma The Conversation Brasil.

As queixas constantes estão frequentemente associadas a sintomas de ansiedade e depressão, como pensamentos intrusivos, ruminação, baixa autoestima, cansaço e fadiga mental. Pessoas que reclamam constantemente tendem a ser mais pessimistas e menos resilientes diante das dificuldades da vida.

Vamos imaginar uma situação cotidiana: duas pessoas caminhando rapidamente se encontram na rua. Elas podem ser amigos, colegas ou conhecidos. Uma delas diz "oi, tudo bem?" ou "como vai?" e, automaticamente, a outra responde: "tudo indo" ou "vamos indo". Logo, cada uma segue seu caminho. Esse breve encontro já começa marcado por um ato de reclamação.

Nas sociedades modernas, esse tipo de atitude é aceito como uma interação social comum. Reclamações sobre trânsito, clima, trabalho ou problemas financeiros são recorrentes. Para muitos, essas queixas podem parecer inofensivas e até terapêuticas, funcionando como uma válvula de escape emocional. No entanto, pesquisas demonstram que o ato de reclamar constantemente pode ter um impacto negativo na saúde emocional, mental e até física tanto para quem reclama quanto para quem ouve.

A Repetição das Reclamações: Um Fenômeno Cotidiano

Aqui, discutiremos o comportamento de expressar frequentemente insatisfação ou desconforto em relação a situações percebidas como negativas. Esse comportamento está presente em diversos contextos familiares, profissionais e sociais. Embora reclamações esporádicas façam parte da experiência humana, o problema surge quando o mau humor se torna constante, invadindo as rotinas diárias e gerando exaustão emocional e física.

Mas o que leva as pessoas a reclamar tanto? Alguns especialistas sugerem que as reclamações funcionam como um mecanismo de enfrentamento para liberar tensões ou buscar validação. Ao reclamar, as pessoas geralmente buscam aprovação para suas opiniões ou percepções, criando um ciclo repetitivo. Isso pode ser visto como uma estratégia social adaptativa. No entanto, quando se torna um comportamento crônico e se espalha para diferentes áreas da vida, especialmente nas redes sociais, o problema se agrava. Nesses meios, figuras influentes, especialmente entre os mais jovens, frequentemente compartilham seus desabafos como uma forma de atrair seguidores ou gerar debates.

Impacto no Cérebro e na Saúde Mental

Embora a neurociência ainda esteja investigando os efeitos das reclamações crônicas, já se sabe que o cérebro humano foi projetado para focar em ameaças e problemas, o que explica a tendência de algumas pessoas se concentrarem mais nas situações negativas. Esse mecanismo protetor, herdado de tempos antigos, ajudava na sobrevivência diante de perigos. No entanto, o viés de negatividade pode ser prejudicial no mundo atual, pois focar demais no negativo altera a percepção que temos do mundo e pode reforçar comportamentos baseados em reclamações.

Estudos indicam que as queixas diárias podem causar mudanças estruturais no cérebro, afetando a capacidade de resolver problemas e a função cognitiva. Como resultado, as pessoas que reclamam constantemente podem enfrentar dificuldades na tomada de decisões e planejamento, o que gera ainda mais frustração.

Além disso, as reclamações estão frequentemente relacionadas a sintomas de ansiedade e depressão, como pensamentos intrusivos, ruminação, baixa autoestima e fadiga mental. Por isso, indivíduos que reclamam excessivamente tendem a ser mais pessimistas e menos capazes de lidar com as adversidades.

Foto: Pexels

Estratégias para Mudar de Atitude

Aqui estão algumas das abordagens mais recomendadas na psicologia para lidar com esse comportamento:

Pratique a gratidão: Focar no que temos ou conseguimos ajuda a cultivar a gratidão. Registrar diariamente motivos para ser grato pode mudar nossa perspectiva.

Procure soluções: Fazer uma lista de ações possíveis para melhorar uma situação oferece uma sensação de controle e diminui a frustração.

Atenção às palavras: A psiconeurolinguística ensina que a linguagem usada influencia nosso pensamento. Modificar nossas palavras para um tom mais positivo ou neutro pode mudar o padrão de pensamento.

Estabeleça limites: Defina limites com outras pessoas, evitando conversas focadas no negativo e propondo soluções construtivas para os problemas.

Reconhecer o hábito de reclamar e trabalhar para mudá-lo é essencial para melhorar a qualidade de vida. Esse é um objetivo de crescimento pessoal que pode ser alcançado com o apoio da terapia psicológica. Antes de reclamar novamente, considere os efeitos que isso pode ter no cérebro, nas emoções e nas relações sociais. E lembre-se: a reclamação não é necessariamente negativa, desde que não se torne crônica. Afinal, não somos perfeitos, somos humanos.

Fonte: Metrópoles

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