Isso é uma confissão? -

Vice-prefeito interpreta como normal ter espancado a ex-esposa em casa

Por Rômulo Rocha

- Vice-prefeito confessa que agrediu a ex-esposa. Não negou uma só agressão, sejam as com chutes, sejam as que culminaram no empurrão que arremessou a ex-mulher contra uma prateleira de vidro. Ao contrário, classificou tais atos de "comum". E isso quando no último dia 7 de agosto os maiores órgãos públicos do país, em Brasília, comemoravam os 10 anos da Lei Maria da Penha. Está aí, Ministério Público: o documento está assinado.

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DE ONDE SAIU MESMO ESSE VICE?
O vice-prefeito de Esperantina Jânio Ferreira de Aguiar Filho, candidato no município à reeleição na chapa da prefeita Vilma Amorim, classificou como “comum” o que para um promotor do Ministério Público e três integrantes da Defensoria Pública do Estado, além da delegada de Polícia Vilma Alves, foi considerado gravíssimo.

Ao postar um direito de resposta em sua página na rede social, com os respectivos argumentos, o político foi ovacionado - até por mulheres, com incentivos e pedidos de abertura de ação judicial contra o titular do Blog Bastidores,por abordar o assunto início da semana, tido para alguns como algo que deve ficar entre quatro paredes, mesmo se tratando do espancamento brutal de uma mulher.

A posição oficial do candidato sobre o ocorrido também foi enviada para o 180 via e-mails e através de entrega pessoal por terceiro, que ocorreu na manhã da última terça-feira (9), na recepção do portal.

Na última segunda-feira, o 180 havia publicado matéria titulada “Esperantina: vice é réu por agredir ‘com chutes’ a esposa”. Nela foram expostos trechos do pedido de medida protetiva assinado por três defensores públicos onde é possível constatar fatos de estarrecerem.

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LEIA A, B e C separados do restante da matéria

- Esperantina já teve uma pseudo-crucificação, não?

A_Domingo: a mensagem enviada ao assessor de comunicação da prefeitura, antes da publicação da primeira matéria: pura atuação jornalística...


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ISSO É NORMAL?
Diz a peça: “ (...) o acusado encontrava todos os motivos para atingir moral, física e psicologicamente sua cônjuge, atacando de todas as maneiras, quando de suas crises de ciúmes. Em um dos rompantes de fúria, o agressor rasgou um vestido da vítima, que lhe desagradou por estar curto. Nunca tentou poupar a filha de apenas 8 (oito) anos de ver os abusos a que submetia a esposa”.

Mais: “Durante o episódio mais grave de violência perpetrado contra a vítima, motivado por uma simples ligação telefônica recebida por esta, o agressor descontrolou-se de tal modo que lançou a requerente contra uma prateleira de vidro lesionando-a seriamente pelo impacto e pelos estilhaços, nas maças do rosto, nas orelhas, no supercílio, nos braços e nas coxas com muitos cortes e hematomas (...)”.

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B_Domingo: o vice, 2h3min depois, ao tomar conhecimento sobre a apuração dos fatos por um jornalista, correu para a rede social e postou que estava sendo ameaçado. Era mentira. A suspeita é a de que já tentava se fazer de vítima perante o eleitor...


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Já o Ministério Público, sustentou que “entre a noite do dia 31 de março de 2013 e a manhã do dia 01 de abril de 2013”, o vice-prefeito teria agredido “violentamente” a vítima “com chutes” e a empurrado “contra prateleiras de vidro do banheiro da casa” onde moravam. Nos autos consta um laudo pericial feito naquela que passou a ser ex-esposa.

Na nota encaminhada ao 180 e publicada na sua página no Facebook, o homem público e candidato à reeleição não negou os acontecimentos, como o fez perante a delegada Vilma Alves.

Ao contrário, confirmou as possíveis práticas, mas claro, deu um tom eufemístico - demonstrando um uso gramatical 'melhorzinho' do que a primeira postagem na rede social, em que disse estar sendo “ameaçado”, pelo simples fato de um jornalista está tentando contatá-lo.

Inicia o vice-prefeito Jânio Ferreira de Aguiar Filho o seu direito de resposta: “É comum, na sociedade em que vivemos a ocorrência de discussões entre casais, principalmente em se tratando de casais jovens, pois isso foi o que aconteceu entre mim e minha ex-companheira e que foi a causa da nossa separação”, afirmou.
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C_A continuação do teatro ao falar com um "advogado", nos comentários do texto em que disse estar sendo ameaçado. O "print da mensagem" é o exposto (verde)...


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AS BRIGAS NÃO SERIAM “NENHUMA NOVIDADE” PARA ESPERANTINA
Continua, confessando o ocorrido, em um documento assinado: “Esse assunto é do conhecimento de toda a sociedade esperantinense pois o fato aconteceu em 2013, portanto já se passaram 3 anos e que não é nenhuma novidade para a nossa comunidade”.

Ora, ora, ora, ora... há praticamente aqui a confissão de um crime. O vice-prefeito é réu. Há uma certidão datada de 9 de junho de... vejam só... 2016, portanto, bem recente, assinada pela escrivã Letícia Pires Alves, em que diz que uma audiência sobre o caso não foi realizada, concluindo os autos para despacho do juiz titular da 5ª Vara Criminal. Detalhe: a pena para esses casos é de detenção de 03 meses a 03 anos. A coisa, como se vê, está bem atual para os órgãos envolvidos e corre na Justiça.

Outra questão é que alguns crimes, quando julgados, realmente já não são mais novidade para ninguém - o que não é o caso desse. Isso, no entanto, não afasta a culpabilidade de supostos envolvidos. Caso contrário, por essa ótica, o mensalão não teria sido julgado, já que quase prescreveu, e foi preciso a imprensa dar uma 'forcinha' - e mesmo expondo o caso durante anos.

ALHOS COM BUGALHOS: ELE NASCEU NO DIA 21/12/1983. TINHA 30 ANOS.
Mas segue a nota enviada ao 180: “O que não é comum é jornalista se interessar por uma separação entre um casal de jovens que ocorreu há 3 anos como se fosse matéria nova, numa busca ferrenha para requentar uma notícia dessa ordem, escolhendo o momento solene de uma convenção que homologou meu nome como candidato à reeleição como vice-prefeito do município, fato esse que deixou algumas figuras da política local e regional bastante incomodadas, e que certamente oferecem a matéria em resposta ao grande êxito e o brilho de nossa convenção”, afirma, procurando, sem nenhum constrangimento, captar apoio eleitoral mesmo usando para isso um fato como o narrado.

O “jovem”, à época das violentas agressões - aqui reconhecidas por ele, tinha 30 anos. No Brasil, embora queiram reduzir a maioridade penal, ela é ainda de 18 anos. Esperantina faz parte do Brasil. O que soa estranho também é só um jornalista se interessar por um caso que, a princípio, vai de encontro à Lei Maria da Penha, o que mostra o atraso em que se encontra a sociedade piauiense no tocante a essa questão.

A CONFISSÃO ASSINADA PELO VICE...

Quando um dos braços direitos do prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes, Pedro Paulo, atual candidato a prefeito do Rio, foi acusado de, olha só, também bater na mulher com “socos e pontapés”, a revista Veja – uma das mais respeitadas do país, fez duras denúncias. E assim seguiu outros grandes meios de comunicação. Paulo pediu desculpas públicas. Não considerou o fato "comum", mas sim, lamentável. Jânio, o vice de Esperantina, preferiu se vitimizar e tentar conseguir apoio político.

Consta em uma das redes sociais, em sua página Facebook, que o vice-prefeito cursou Comunicação Social na faculdade CEUT, então deve saber - se concluído o curso - o interesse da imprensa pelo quesito proeminência. Homens públicos, que querem continuar públicos, despertam naturalmente a atenção de órgãos de comunicação e dos seus eleitores. Alguns por feitos elogiáveis. Outros, não.

A vitimização do candidato faz parte do jogo, mas não quer dizer que seja compatível com a realidade. Ele próprio, ao ser procurado pelo titular do Blog Bastidoresno domingo, escreveu em seu Facebook que estava sendo “ameaçado”, “intimidado”, e chegou a afirmar que iria tomar providências para a “proteção da sua vida”, o que acabou por culminar com a publicação de um artigo titulado "Calma, Vice, deve ser só o vento lá fora", exposto ao final da primeira matéria publicada (VEJA AQUI).

Até hoje, nunca apresentou as ameaças proferidas pelo jornalista para tomar tamanhas providências. Porque era mentira. E se, sob essa ótica, apurar fatos jornalísticos for uma ameaça contra a vida, os membros do Congresso Nacional, da cúpula do judiciário brasileiro e do Poder Executivo nacional precisam tomar sérias precauções, porque lá fora, a imprensa é mais implacável ao apurar fatos e não ajoelha-se como a daqui.

MATÉRIA DO 180 ATINGIU AUTORIDADES, DIZ O VICE
Segue a autoridade pública, o vice-prefeito dizendo em sua nota: “Lamento que a nota não tenha se referido só a mim como cônjuge varão de uma separação que se perdeu no tempo e ora requentada mas procurou envolver nossos ilustres convidados, senadora Regina Sousa, deputado Francisco Lima, ex-deputado Ismar Marques, a quem aproveito para agradecer a presença e a consideração que dispensaram a mim e a prefeita Vilma Amorim”. Nem ao tratar de um assunto grave deixa de fazer política.

O vice-refeito se referiu ao trecho em que a publicação citou os presentes na convenção de homologação da chapa à qual pertence, entre eles uma senadora da República, Regina Sousa, que em seu mandato solicitou já inúmeras audiências públicas para debater a violência contra a mulher, sendo ela mesmo, membro de uma Comissão do Congresso Nacional que trata do combate a esse mal.

Esqueceu-se também o vice, que o ato que ele diz ter atingido os parlamentares, e foi noticiado, teria sido praticado por ele e não pelo noticiante, que só reportou os fatos. Ademais, como é sabido de muitos - talvez não seja o caso do vice, mas o titular do Blog Bastidores não está a trabalhar para os governantes, mas pelos governados e em defesa do cumprimento da lei. Então pode ser declinado o nome do presidente da República, com sua tosca popularidade.

Quase por último, ainda no direito de resposta, o vice-prefeito aconselha o que para ele seria conveniente: “Melhor faria esse veículo de comunicação se interessasse pelas belezas de Esperantina, como nossa Cachoeira do Urubu, um dos mais belos pontos turísticos do Estado, os avanços que Esperantina vem experimentando nos últimos anos, seja na boa prestação de serviços rigorosamente em dia, melhoria nas estradas, seja na melhoria do aspecto urbanístico da cidade, na mobilização urbana e no bom tratamento dispensado ao povo de Esperantina”.

Finalmente encerrando, o político volta a se vitimizar, e anuncia sua luta, quase como um Dom Pedro I naquele famoso e questionável grito às margens do Rio Ipiranga: “Se o propósito do ilustre jornalista tenha sido me intimidar, denegrir minha imagem ou ofuscar o brilho da nossa convenção, acho que perdeu seu precioso tempo, pois continuarei a minha luta trabalhando com os meus companheiros pelo povo da minha terra”.

NA NOTA, O VICE NÃO PEDIU DESCULPAS, EMBORA PAREÇA ASSUMIR
Embora pareça assumir as agressões, o ex-prefeito não pediu, em nenhum momento, em seu direito de resposta, desculpas públicas a esse povo de Esperantina.

- Qual dos eleitores dessa cidade suportaria assistir a uma mulher sendo empurrada violentamente contra uma prateleira de vidro dessa forma - como está nos autos?

- Qual pai gostaria de ver a filha em uma situação dessas?

- Qual filha, de oitos anos, gostaria de ver a mãe passar por isso?

A VÍTIMA SIM MERECE SER OVACIONADA
E se tem alguém que merece e deve ser aplaudida é a vítima, que teve a coragem de denunciar, mesmo tendo à época 23 anos, mesmo sob ameaças – como também relatam os autos, mesmo com uma filha de 8 anos e sendo dependente financeiramente do então marido.

Ela sim encheria de brio aquela que deu o nome à lei nº 11.340/06: Maria da Penha.

14 OU 15, VICE-PREFEITO?
Se a vítima nasceu em 29/11/1989, e casou com o seu ex-marido em 2004, ela teria na época do matrimônio entre 14 ou 15 anos. Ele já teria entre 22 a 23. O espancamento ocorreu quando ele tinha 30 anos, ela 23.

FOI COM QUAL DAS DUAS MÃOS MESMO, VICE? OU FOI COM AS DUAS?


- Na convenção - Regina Sousa, Jânio Filho, prefeita Vilma Amorim, Francisco Limma e Ismar Marques: felizes.

B.O: O REGISTRO DA VÍTIMA PERANTE A DELEGADA VILMA ALVES

Fonte: None

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