Situação é meio polêmica -
Autoridades locais já questionam a eficiência de médicos cubanos no PI
E a polêmica com o programa mais médicos continua! O Piauí figura, no Ministério da Saúde, com 121 municípios que devem receber profissionais do programa "Mais Médicos". Porém, após médico formado no exterior ser recusado por prefeito no Piauí e de estrangeiros terem o registro de medicina cancelado pelo CRM piauiense, agora autoridades do Estado indagam que o programa não é do jeito que o governo federal apresenta.
Quem tem comprado essa briga é o deputado estadual Francisco Ramos (PSB), ao comentar que "a presidente Dilma engana a população com o programa 'Mais médicos' que, além de não ser o que parece, não é o que a população realmente necessita". O parlamentar, que também é médico, esclarece que não é contra o programa de saúde, mas sim discorda da execução. "A maneira como vem sendo desenvolvido no país não é a melhor, pois não precisamos de mais médicos, e sim de mais hospitais", contestou, alertando que daqui a 1 ano será possível perceber e quantificar as consequências "desagradáveis" para o país.
E não é só o político piauiense que pensa assim. O pré-candidato a presidência da República, Eduardo Campos que recentemente visitou o Piauí, também falou sobre o programa. O governador do Pernambuco disse que "o 'Mais Médicos', do governo Dilma Rousseff, é a constatação da falta de planejamento desse país”. A partir de declarações como essa, o 180graus foi até o interior, para conhecer mais a fundo como funciona, na prática, o programa, conversando com gestores e profissionais da área da Saúde.
CIDADES CONTEMPLADAS
No Piauí, 16 cidades foram contempladas com médicos na segunda fase do programa: Barras, Corrente, Cocal, Paulistana, Pio IX, União, José de Freitas, Esperantina, Luís Correia, Luzilândia, Oeiras, Parnaíba, Pedro II, São João do Piauí, São Miguel dos Tapuios e Miguel Alves. Em setembro, o Estado já havia recebido 19 cubanos e um brasileiro formado no exterior. No final de outubro, foi a vez de outros 27 profissionais desembarcarem no Estado, somando 46. Na primeira fase, vários municípios piauienses foram contemplados, como é possível conferir no quadro a seguir:
MAIS MÉDICOS, MAIS POLÊMICA
O Ministério da Saúde afirma também que, "além de pagar diretamente pelo médico, ainda repassa mais R$ 4 mil para o município compor a equipe de saúde da família, além de fazer o pagamento da bolsa diretamente ao médico, no valor de R$ 10 mil. Antes, os municípios que tinham que contratar os médicos diretamente e arcar com esse custo. Agora, esse custo será federal e os municípios ficam a cargo de alimentação e moradia desses profissionais". Mas não é isso que tem se encontrado pelo interior do Piauí. A cidade de Pio IX, por exemplo, que fica 438 Km a Sudeste de Teresina, foi uma das contempladas pelo programa. Vieram 3 médicos de Cuba. Pedro Luna, de 45 anos, é um deles. Ele conversou com o 180graus que tem gostado do Piauí, que conheceu após fazer curso de português em Fortaleza, no Ceará. Sobre a polêmica, ele defende os companheiros. "Dizem que não conhecemos os remédios, mas nós estudamos e conhecemos sim, até porque a substância ativa, conhecida aqui como 'genéricos' é igual em qualquer lugar do mundo", comenta.
PREFEITA ELOGIA MÉDICOS CUBANOS
A prefeita da cidade, Regina Coeli, vê pontos positivos para a vinda dos cubanos. "As visitas domiciliares aumentara, e com isso, a população se sente assistida. Eles entendem de Saúde coletiva". Já no aspecto político e sobre os efeitos colaterais do programa, a prefeita não tem medO de criticar. "Se por um lado os cubanos trabalham 4 vezes na semana, enquanto os anteriores vinha 2 vezes, fazendo a população sofrer, por outro lado, eles não realizam plantão. É por isso que, em muitos casos, os prefeitos ficam num impasse, em relação a decidir o que é melhor. Alguns demitem os médicos existentes para receber médicos do programa, enquanto outros precisam contratar um para fazer plantões na cidade e o governo federal não ajuda nesse aspecto", diz a prefeita.
MAS ONDE ESTÃO OS TUTORES?
Ainda sobre os problemas do programa, o 180graus não encontrou os tutores prometidos pelo Ministério da Saúde, alvo de crítica do CRM do Piauí, pois os médicos cubanos não têm sido acompanhados regularmente por tutores, como alegou a presidente Dilma Rousseff, para justificar a falta do Revalida. Com isso, sobre o governo federal, Regina Coeli também aproveite para criticar e desmente o que é divulgado sobre o programa. Ela revela que os médicos vêm ao município, que tem que arcar com tudo e reclama também que os médicos chegam, mas não é dada estrutura para eles trabalharem. "O governo trabalha com um contraponto, com isso, eles enviam o médico, mas a prefeitura é que tem que se responsabilizar pela estrutura, ou seja, máquinas e locais para eles trabalharem".
Endossando as palavras da prefeita Regina, a enfermeira Andreia Sousa, de Alegrete do Piauí, 386 Km a Sudeste de Teresina, também questiona o programa. "Fica sempre faltando algo, pois as cidades que recebem médicos, não possuem e nem conseguem estrutura, como local e instrumentos de trabalho, por outro lado acontece casos como aqui na cidade, onde há 2 UBA's (Unidades básicas de Saúde) sendo construídas, mas sem médico para trabalhar. Além do fato que o governo federal não dizer que para cada médico do programa que chega, o município tem que se desfazer de outro, ou ficar com 1 equipe do PSF (Programa Saúde da Família) a menos", revela a entrevistada.
Outro fato que levanta polêmica é que os médicos cubanos não recebem integralmente o valor divulgado pelo governo Dilma. De acordo com o secretário de Saúde de Pio IX, Jônatas Leite, "o salário que eles ganham é repassado para o governo cubano e, depois, chega até eles. Perguntei para um deles com quanto eles ficam, ele me respondeu que com apenas R$ 900,00". A prefeita Regina também confirmou que o que é pago para os médicos, primeiro vai para o governo cubano e depois chega às mãos deles.
ESTRANGEIROS TÊM REGISTRO CANCELADO
Depois de toda polêmica causada com a chegada dos médicos estrangeiros, o CRM (Conselho Regional de Medicina) do Piaui resolveu cancelar o registro provisório dos médicos que chegaram no Estado. O motivo alegado teria sido a Revalida (teste exigido para atuar no Brasil). Os profissionais que vieram do exterior não possuem.
PREFEITOS DO PIAUÍ RECUSARAM MÉDICOS
O prefeito de Bocaina, José Luis (PTB), foi um dos mais veementes em não querer um médico vindo de fora para a cidade dele. "Estamos atendendo o povo quase de graça aqui, aí eu tenho que gastar com quem vem de fora e nem conhece a cidade. Eu prefiro gente daqui mesmo, que está sobrando, e custa bem menos", reclamou o gestor, que também é médico.
Para se fazer entender, Zé Luis explicou, "Eu sou médico, tenho 2 filhos médicos, além de mais 4 sobrinhos e 1 genro. São médicos daqui, que ganham R$ 1.200,00, mas não têm lugar para trabalhar. Aí eu tenho que arcar com 1 médico de fora, com casa, carro, comida. Tudo sai por R$ 20 mil, enquanto os daqui ganham R$ 1.200,00. Se quiserem que ela venha, a Dilma é que mande o dinheiro!", reclama o prefeito. A
A Rede Globo destacou ainda outra recusa no Piauí. Foi o caso do município de Caxingó, no Norte do Estado, um dos 320 dos 1.400 municípios com piores índices de desenvolvimento (baixo e muito baixo), que não se inscreveram para receber os médicos (sendo que o programa é voltado para eles).
Na reportagem, o secretário de Saúde, Antonio Bruno Fontinele da Silva, alega que falta arrecadação no município, enquanto a prefeita Rita Sobrinho comentou que mal dá para arcar com o gasto necessário para a área da Saúde. Com isso, os casos de urgência seguem encaminhados para o hospital de Parnaíba, município de 150 mil habitantes, a cerca de 1h30 de distância, que atende outras nove cidades vizinhas. e que fica a 333 Km de Teresina.
POPULAÇÃO NÃO QUER POLÊMICA, QUER SOLUÇÃO
Donas de casa e com necessidade de atendimento médico, Maria e Ana falam sobre a questão. “É uma honra para nós termos um médico na cidade. Não interessa se veio de fora”. De acordo com elas, não há um médico que more na cidade, apenas doutores que atendem como clínico geral.
De acordo com funcionários do Samu da cidade, disse que, praticamente todo dia, há médico na cidade, porém não plantonista. "Quem ficar doente à noite tem que ir para Picos ou esperar o dia seguinte para se consultar", disse uma funcionária, sem querer se identificar.
O prefeito da cidade ao conversar com a reportagem, disse que falou como médico, por outro lado, a população fala como população mesmo, ao reclamar de briga política e de um atendimento ruim na cidade, por conta de filas para ser atendido e pelo fato de ter que ser, corriqueiramente conduzida a Picos, ou até Teresina.
Até mesmo manifestações pelas redes sociais têm ocorrido, desde que o secretário de Saúde Francisco Macedo iniciou a recusa ao médico vindo de fora.
MORTE DE JOVEM
A primeira polêmica surgiu após a morte do jovem Jefferson de Jesus Lima sofreu um acidente com a moto, ao voltar de uma festa de vaquejada em Parnaguá, 825 Km ao Sul de Teresina. Na época, o jovem, ao ser conduzido para a ambulância numa maca, caiu porque o motorista deu partida, sem o rapaz estar acomodado no veículo, com isso, o Jefferson caiu novamente e morreu ao chegar em Bom Jesus. A família do jovem reclamou tanto do motorista da ambulância quanto da médica cubana que atende na cidade. Depois da tragédia, houve uma manifestação na cidade.
REGRAS DO PROGRAMA
Para participar do Mais Médicos, as cidades devem atender a um dos requisitos definidos pelo Ministério da Saúde: demostrar que 20% de sua população é vulnerável; estar entre os cem municípios com os mais baixos níveis de receita pública per capita; estar situado em distrito especial indígena, ser capital ou estar em região metropolitana.
O Ministério da Saúde afirma que o Programa Mais Médicos tem como objetivo ampliar o atendimento nas unidades básicas de saúde. “O programa é uma resposta à demanda dos próprios prefeitos, que não conseguiam contratar médicos para atuar nos municípios, principalmente municípios do interior” e “até o momento, 4.025 municípios já aderiram ao programa”, diz em nota. A pasta também afirma que não detectou problemas de inscrição de cidades, mas que ainda apura o que ocorreu nesses municípios.
Especificamente no Piauí, foram investidos R$ 67,7 milhões para obras em 507 unidades de saúde e R$ 18 milhões para compra de equipamentos para 98 unidades. “Também foram aplicados R$ 26,3 milhões para construção de 12 UPAs e R$ 93,7 milhões para reforma/construção de 10 hospitais”, de acordo com números do governo federal.
Os três mil médicos cubanos, que chegaram recentemente ao Brasil, vieram para trabalhar em 1.745 municípios e 15 distritos indígenas. Em dezembro, quando o novo grupo começa a atuar, o número de brasileiros atendidos chegará a 22,9 milhões. Serão mais de 6 mil médicos no total até o fim de 2013, de acordo com a estimativa do Ministério da Saúde.
VEJA VÍDEOS DA CHEGADA DOS MÉDICOS AO PIAUÍ
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