Pré-candidata do PSOL -

Embora não acredite em unidade via Wellington Dias, Sueli diz: ou se une, ou esquerda se arrebenta!

Na primeira parte da entrevista de Sueli Rodrigues, pré-candidata do PSOL ao governo do Piauí, ela fez uma crítica ao modelo de desenvolvimento do Estado. Segundo ela, o governo só tem pensado em exploração de recurso naturais. A psolista diz que as pessoas foram esquecidas no desenvolvimento proposto pelo PT. 

Hoje publicamos a segunda e ultima parte da entrevista, em que Sueli Rodrigues fala da estratégia de investimento no setor de serviços, da questão racial e sobre política. Segundo ela uma unidade das esquerdas seria "fantástico". Confira:

OSCAR: No evento do PSOL, que te apresentou como pré-candidata, você falou muito do setor de serviços do Piauí, me parece que o PSOL quer trabalhar esta tese na campanha. Fala para mim ai desta estratégia.

SUELI: É preciso que qualquer projeto de desenvolvimento considere a produção de serviços. Os serviços têm uma participação significativa em nosso PIB. Sem entrar no mérito dos serviços, mas eles apresentam uma vocação deste povo. Como você tem um projeto de desenvolvimento onde você só pensa em recursos naturais e deixa de lado vocação tão relevante como a de serviços? A impressão que dá é que o setor de serviços está apenas nas mãos do mercado sem nenhuma coordenação do Estado – como por exemplo, a questão da saúde. Ultimamente com a melhora da saúde no Maranhão, o serviço aqui no Piauí começa a sentir o efeito disso. Sei que muitas pensões estão fechando as portas. Nem diagnóstico para esta área tem no Piauí. Qualquer projeto de desenvolvimento tem que levar em conta a produção de riqueza pelos serviços e tem que dialogar com a sociedade para potencializar isso cada vez mais.

OSCAR: Voce também tem destacado questões da área da desigualdade racial. Afirma que isto tem que ser um forte na discussão da candidatura do PSOL. O que você vai trazer para o debate nesta área?

Sueli: Nós vivemos desde 1888 uma abolição incompleta. A lei a Abolição é ridícula, só diz “está abolida a escravidão” e não diz mais nada. Não deu uma garantia sequer de inclusão destas pessoas. E tudo que o Estado fez a partir de então foi para excluir essas pessoas. O governo brasileiro favoreceu a imigração de europeus, muito nesse sentido de eliminar o povo negro. Isto está dito textualmente por Monteiro Lobato. Na Argentina, mataram os negros, aqui criou-se as condições para que morressem, sem trabalho, sem inclusão, etc. A escravização do povo africano nas Américas é o maior crime que a humanidade já cometeu, maior que o holocausto da segunda guerra. O debate da reparação da escravidão é extremamente necessário.

OSCAR: Ok! Mas esta é uma análise mais global, nacional. E o Piauí, e a pré-candidatura da Sueli Rodrigues, como estadualizar este assunto?

Sueli: A historiografia oficial do Piauí ou dizia que quase não havia escravos no Piauí ou então que a escravidão aqui foi branda porque era uma escravidão pública, por conta das Fazendas Nacionais. Falso para as duas coisas. Em seu trabalho de mestrado Luis Mott fez um levantamento da quantidade de escravizados que tinham nas Fazendas Nacionais, eram poucos porque a povoação era pouca, percentualmente, eram muitos. Outra coisa, a carta da Esperança Garcia é uma prova que não era branda coisa alguma. Lá ela narra coisas que mostram os maltratos daqueles negros. Não houve escravidão branda. O Piauí não conhece a história da sua própria escravidão. Exemplo: a própria Esperança Garcia. Luiz Mott encontrou, por acaso, a carta dela e, até hoje, ela é quase uma desconhecida no Estado. Eu presido a Comissão da Verdade da Escravidão Negra na OAB e, no ano passado, pedimos para ela ser reconhecida como advogada, foi uma tentativa de traze-la para o debate e seja considerada como heroína. Assim o povo preto pode pensar: “nós não tivemos só chicote, nós tivemos resistência, olha aqui a Esperança Garcia como nosso modelo de resistência”. É uma vergonha, você entrar num museu do Piauí, só tem homem e homem branco. Vou desaconselhar o povo preto a ir a museus no Piauí que ele vai pensar que nem gente é. O povo preto precisa saber que foi escravizado, chicoteado; mas lutou, resistiu de todas as formas. É essa resistência que vai alimentar a autoestima do povo negro. Hoje temos as mulheres pretas do Lagoas do Norte sendo expulsas das suas casas. Isso é um legado de como a escravidão aconteceu no Brasil. Quando o poder público descobre que uma região é importante vai e: “isso aqui não é lugar para vocês”! Como bem tem feito o prefeito Firmino Filho.   

OSCAR: Vamos falar de política. Como é que a professora Sueli Rodrigues está encarando este momento? Seus confrontantes, muito provavelmente serão Wellington Dias, Luciano Nunes, Elmano Ferrer, João Vicente Claudino. Como se imagina no debate com estes nomes?

SUELI: Para mim é um terreno extremamente novo. Mesmo quando fui militante do PT, nunca fui da linha de frente, sempre fui mais dos bastidores, trabalho de formação política, trabalho de base. Até depois que sai do PT, continuei nos trabalhos de base, nas comunidades, neste momento, com um enfoque nas comunidades quilombolas. É um cenário estranho para mim, mas junto com os companheiros do PSOL encontraremos os caminhos.

Oscar: Me diga uma outra coisa. O PSOL nasceu de uma divergência com o PT, muitos psolistas hoje, foram petistas, antes. Como fazer o enfrentamento com o PT agora? E aproveite e analise a questão nacional também. Houve o golpe em 2016, Lula foi preso e há um aceno para a unidade das esquerdas. Como você vê tudo isso?

SUELI: Eu voltei para um Partido político numa tentativa de enfrentar isto que está acontecendo, a demonização das esquerdas. Fiquei assustada quando ouvi expressões de puro fascismo com relação à esquerda e isto me motivou a uma participação mais orgânica. Com relação ao golpe de 2016, assim que ele se anunciou, militei fortemente contra, nos meus espaços, ainda não havia entrado no PSOL. Com relação ao movimento Lula Livre gostei muito da posição do PSOL nacional de estar junto apoiando o movimento. A prisão do Lula é arbitrária, é uma violação dos Direitos Humanos. Se a gente conseguisse fazer uma unidade das esquerdas seria fantástico. Mas vejo dificuldades. Por exemplo: o governador Wellington Dias vai lá em Curitiba abraça todo mundo e volta para cá e vai conciliar com os partidos golpistas. Aí é complicado. Como é que você concilia com Ciro Nogueira e com o MDB que é o pior câncer deste país? É muito difícil construir unidade assim. Mas estou convencida: ou a esquerda se une ou se arrebenta.

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