
PF investiga brasileiro que abriu “fábrica” de criptomoedas na Ucrânia
A Polícia Federal (PF) investiga, por meio da Operação Fortuito 2, a atuação do empresário Carlos Fuziyama (foto em destaque), conhecido como Kaze, que chegou a inaugurar uma “fábrica” de mineração de Ethereum, um tipo de criptomoeda, na Ucrânia.
A operação foi desencadeada no final de janeiro, com agentes cumprindo oito mandados de busca e apreensão nas seguintes localidades: Rio de Janeiro (RJ), Armação dos Búzios (RJ), Uberaba (MG) e São José dos Campos (SP).
São alvo da investigação os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, emissão de valores mobiliários sem registro, laudo ou autorização, gestão fraudulenta e atuação em instituição financeira sem permissão.
A Justiça ordenou o bloqueio de R$ 300 milhões em bens pertencentes à organização investigada. Entre os ativos, foi confiscada uma mansão no Rio de Janeiro, supostamente de propriedade de Fuziyama. O imóvel está avaliado em R$ 100 milhões, informou a PF em comunicado.
A unidade de mineração ligada ao investigado está situada em Kirovogrado, a aproximadamente 300 km da capital Kiev. Batizada de Mining Express, segundo Kaze, a empresa nasceu de um investimento milionário, com origem nos US$ 50 milhões obtidos em lucros com outra criptomoeda, a Dogecoin.
“Chegou um momento que estava com bastante dinheiro na mão e não sabia o que fazer, quando comecei a pesquisar se existia alguma mercado real, que daria pra ganhar um dinheiro sossegado, sem ter dor de cabeça, eu encontrei a mineração”, disse em entrevista de 2020 ao canal A era digital crypto.
No vídeo, Fuziyama afirma que, apesar de já ter conquistado grande patrimônio, almejava um padrão de vida ainda mais elevado. Para isso, decidiu abrir seu próprio empreendimento. “O que estava gerando lucro naquele momento era a mineração”, declarou.
Na época da entrevista, a Mining já operava há 3 anos e 4 meses, segundo ele. Naquele período, o investimento na empresa teria alcançado US$ 280 milhões.
Durante a conversa, ele classificou sua mineradora de Ethereum como a 13ª maior do mundo e declarou ter se tornado bilionário aos 35 anos, embora dissesse que “a ficha ainda não caiu” e que não era uma pessoa famosa.
De acordo com o empresário, a escolha da Ucrânia para estabelecer a empresa se deu devido ao clima frio e ao baixo custo da energia elétrica, um fator essencial para o setor de mineração de criptomoedas.
No vídeo, ele explica que a energia na cidade ucraniana é mais acessível financeiramente porque provém de usinas nucleares construídas na época da União Soviética.
Essa energia alimenta equipamentos equipados com placas de vídeo potentes, utilizadas no processamento de validação de transações no blockchain — um banco de dados público que armazena o histórico de movimentações de criptoativos. Os mineradores são recompensados com criptomoedas por fornecerem essa infraestrutura.
Fuziyama revelou no vídeo que gasta cerca de US$ 7 milhões por trimestre em eletricidade. O frio, segundo ele, auxilia no resfriamento dos equipamentos, reduzindo os custos com refrigeração.
O edifício que abriga a operação milionária possui quatro pavimentos. No subsolo, estão instalados os aparelhos de ar-condicionado; no 1º, 2º e 3º andares, encontram-se as máquinas de mineração; e, no 4º e último andar, há um heliponto.
Conforme as investigações da PF, há indícios de que os bens apreendidos no Brasil tenham origem em fraudes praticadas pelo grupo no exterior.
Além disso, os investigadores apuram que Kaze teria recebido cerca de US$ 50 milhões de pirâmides financeiras estruturadas no exterior e com aportes típicos de contratos de investimentos. Entre os casos de pirâmide, a PF cita a One Thor e D9 .
O empresário criticou, durante uma entrevista, o que chamou de “pessoas mal-intencionadas” que “utilizam o bitcoin [um tipo de criptomoeda] para facilitar esquemas de pirâmide financeira”.
“Ou seja, antigamente as pirâmides caíam tão rápido, e as pessoas iam presas porque usavam dinheiro e depósito bancário, e no bitcoin isso se torna mais fácil. Então muita gente maliciosa usa o bitcoin de forma equivocada”, afirmou em vídeo publicado em 2020.
Na gravação, o empresário exibe o interior de sua empresa e conta como saiu de uma condição financeira modesta para o cenário da época, em que se apresentava como bilionário.
A reportagem tentou contato com Kaze Fuziyama e com sua empresa por meio das redes sociais e de seus sites, mas não obteve resposta.
Fonte: Metrópoles