Exploração na foz do Amazonas -

Marina não cita Petrobras, mas diz que é ingratidão destruir obra do Criador

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede-SP), disse nesta segunda-feira (22) que é uma "ingratidão" e uma "contradição" estar "mais preocupado em ganhar dinheiro com a criação do que cuidar desse jardim", em referência ao planeta Terra e à natureza.

A afirmação foi feita em meio à disputa entre a ala ambiental do governo e o Ministério de Minas e Energia para realização de estudos sobre a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.

Foto: Agência BrasilMarina Silva
Marina Silva

Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que não vê, ao menos por enquanto, efeito negativo sobre a Amazônia com a medida.

A perfuração da bacia pela Petrobras divide o governo. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já defendeu que a empresa não desista da ação.

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, por sua vez, diz que "foram oferecidas todas as oportunidades à Petrobras para sanar pontos críticos de seu projeto, mas que este ainda apresenta inconsistências preocupantes para a operação segura em nova fronteira exploratória de alta vulnerabilidade socioambiental".

Em palestra na CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) nesta segunda, Marina não mencionou o impasse, mas disse que não se pode destruiu "o presente" dado por Deus.

"Muita contradição dizer que ama o Criador e desrespeita a criação, dizer que ama o Criador e destrói a criação, dizer que ama o Criador e está mais preocupado em ganhar dinheiro com a criação do que cuidar desse jardim, que Ele nos colocou para cultivar e guardar. Pode cultivar, usar, mas guarda, protege", afirmou.

A crise sobre o tema é similar às disputas vividas por Marina em sua primeira passagem pelo Ministério do Meio Ambiente, quando acabou pedindo demissão do posto a Lula, na época em seu segundo mandato, por ter pedido quedas de braço para ruralistas dentro do Executivo.

Lula, porém, já defendeu a medida. "Se explorar esse petróleo tiver problema para a Amazônia, certamente não será explorado, mas eu acho difícil, porque é a 530 quilômetros de distância da Amazônia." Acrescentou, porém, que só vai decidir quando estiver de volta no Brasil. "Eu só posso saber quando chegar [ao país]."

Na semana passada, Silveira defendeu que não se deve impedir a realização de pesquisa sobre a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas. Segundo ele, são estudos "para conhecimento das potencialidades minerais do Brasil".

A Petrobras, por sua vez, anunciou na última sexta-feira (19) que analisa o apelo da pasta de Silveira e que "segue comprometida com o desenvolvimento da margem equatorial brasileira, reconhecendo a importância de novas fronteiras para assegurar a segurança energética do país e os recursos necessários para a transição energética justa e sustentável".

O debate já causou, inclusive, fraturas políticas na base do governo.

A bancada do Amapá se mobilizou para reverter a decisão. O senador Davi Alcolumbre pretender exercer pressão política sobre Lula e integrantes do governo. O líder no Congresso, Randolfe Rodrigues, deixou a Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva.

A desfiliação aconteceu menos de 24 horas após o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), subordinado à pasta de Marina, negar à Petrobras a autorização para perfuração do solo na bacia amazônica.

Randolfe, ao lado do presidente da petroleira, Jean Paul Prates, e de Silveira é um dos defensores do empreendimento.

Em nota sobre a desfiliação, o senador afirmou que a Rede "esteve ao lado dos brasileiros lutando contra o fascismo, e cumpriu um papel histórico com amor, coragem e dedicação". "Me honrará para sempre ter sido parte desta jornada épica", completou.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

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