• O livre direito de manifestação do pensamento de elogiar, por Mario Rosa

    Pais da Pátria são benevolentes

    Concedem-nos direitos em demasia

    Russos celebram 865º aniversário da fundação de Moscou, em 2012
    Russos celebram 865º aniversário da fundação de Moscou, em 2012    Russian Presidential Press and Information Office

    Maravilhosas e magníficas autoridades, todas as insignes e ilustres Excelências, de todos os níveis, de todos os poderes: que grande honra poder aqui saudar vossos magistrais exemplos! Que grande alvitre o privilégio de exercer em toda absoluta amplitude o meu direito sagrado de livre expressão do pensamento de elogiar quem quer que seja que detenha qualquer nível de influência ou poder de decisão. Quero aqui, humildemente, agradecer e dar meu testemunho: a liberdade é total. Posso escolher qualquer adjetivo! Posso, então, escolher ao meu bel prazer qualquer ilustríssimo para homenagear com o meu discricionário critério de louvor. Posso aplicar qualquer elogio do léxico para adular qualquer notável. A liberdade de expressar elogios é plena no Brasil! Nunca nossa democracia foi tão maravilhosa (exclamações)!!!!!!

    A rigor, Excelências, cabe aqui desde já um pedido antecipado de desculpas. Expressei-me mal com toda essa liberdade que tenho. Sinal de que talvez ela ainda seja muito demasiada. Quanta generosidade dos nossos Guias! E como disse um dos nossos iluminados líderes, nós, os cidadãos, não entendemos nada mesmo, sobretudo da Constituição. É mesmo uma grande piedade a TV Justiça, transmitindo para nós, ignaros, conteúdos que jamais teremos substância intelectual para compreender. Isso só mostra a benevolência dos nossos Pais da Pátria. Mas quero retomar o pedido de desculpas. Não é justo usar o termo “elogio” para exaltar as nossas Excelências. Não! Elogios são adjetivos. Só que características inerentes, intrínsecas, a seres diferenciados e adoráveis são, na verdade, substantivos. Então, não se trata de “elogiar”. Mas de “reconhecer, constatar, testemunhar” tudo que há de excepcionalmente adorável em nossos dirigentes, todos eles, em todos os lugares, sem nenhuma exceção.

    Como é bom viver num país em que há tanta harmonia e sinceridade, tanta admiração genuína e corações abertos num derramamento de paz, felicidade e concórdia. E nós devemos isso a nossos Exemplos Pátrios, todos, que nos ensinam todos os dias os nossos direitos e como exercê-los. Sem eles, seríamos um povo cego e dominado, seríamos uma massa bovina e tangida, uma manada aferroada e intimidada. Mas não! Sobra-nos hoje desassombrada altivez e coragem. Superamos, oh magnânimos Excelsos, pela providência e elevada sapiência vossas, aquele período obscuro, tosco, nefasto em que nada podíamos dizer. Sim, falo da… da… ditadura! A odiável ditadura, a repressora, a abjeta, a execrável. Em nada, nada, nada, comparável a essa alvorada permanente de liberdades inexcedíveis que nos envolve e nos encanta! (Lágrima nos olhos): ah… quanta liberdade…

    Um amigo comuna me lembrou o chiste (sim, podemos contar piadas, ainda mais se forem de outras nações, em outros tempos, como é o caso –como é bom!) de um norte-americano e um comunista na antiga União Soviética. O norte-americano provocou o comuna:

    – No meu país há tanta liberdade que eu posso ir para frente da Casa Branca e ficar achincalhando o presidente dos Estados Unidos por mais de uma hora e não me acontece nada. E aqui?

    – Não vejo nada demais. Aqui, qualquer soviético pode ir para a porta do Kremlin e achincalhar por mais de uma hora o presidente dos Estados Unidos e não vai acontecer nada contra ele também!

    Nossa liberdade não é só a de elogiar todos os poderosos dos dias correntes! Temos a liberdade total de espicaçar o passado, o regime militar, o império, a colônia.

    – Fora dom João 6º!!!

    Viu? Quem disse que não se pode criticar neste país? Só não vou postar no YouTube tudo isso porque… porque… porque sou um cara bem discreto. No mais, se houver alguém que não tenha se sentido de alguma forma incluído de todas as formas ou em algum sentido em meus rapapés, lambetoguismos e lambebotismos, peço desde já perdão e imploro para que se sinta contemplado incondicionalmente neste panegírico! Vou botar até palminhas de emojis, para não ficar nenhuma dúvida:

    – 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

    Bem, vou parando por aqui. É feriado quando escrevo, são 11 e pouco da noite, tão batendo na porta…

    Deve ser o padeiro…

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  • O fio desencapado do “comitê” de imprensa da Câmara, por Mario Rosa

    Quebra de liturgia incomoda jornais

    Fato expõe agenda própria da mídia

    Postes de energia elétrica com cabos de internet e TV, na Vila Planalto em Brasília (DF)
    Postes de energia elétrica com cabos de internet e TV, na Vila Planalto em Brasília (DF)    Sérgio Lima/Poder360 - 15.fev.2021

    Você, leitor, leitora, assim como a maioria dos brasileiros, provavelmente nunca ouviu falar no “comitê” de imprensa da Câmara dos Deputados. Existe um no Senado também. E outro no Palácio do Planalto. São espaços físicos, nos prédios oficiais, concebidos para que jornalistas possam exercer seu ofício, produzir reportagens, escrever textos. São salas de imprensa. O nome pomposo é coisa das capitais, onde tudo ressoa uma pompa pastosa, até salas de imprensa (em inglês, no Capitólio, a maior democracia do mundo é “press room”, simples, direto). Mas o ponto é outro: até que ponto esses lugares são também “simbólicos”? Essa foi uma questão levantada na semana passada, quando a nova administração da Câmara anunciou que pretende utilizar a área onde hoje está alojado o “comitê” de imprensa para ali instalar a presidência da Casa. O “comitê” fica ao lado do plenário, onde são realizadas as votações.

    Alguém há de perguntar: será que dá pra buscar uma pedra de roseta e traduzir esses hieróglifos todos que esse colunista tá falando? No meio da maior pandemia do último século, de uma das maiores crises econômicas e sociais em décadas, o que diabos é essa história de “comitês”, “plenários”, “presidências”? O que isso tem a ver com a minha vida? Eu diria: calma! Essa peculiar e brasilienssíssima questão da capital da República serve para entender algumas das engrenagens do funcionamento do poder, incluindo suas interações com essa variável quase nunca reportada, a própria imprensa. O fato é que Brasília é uma cidade em que códigos e liturgias estão impregnados em quase tudo. E o episódio mostrou que a imprensa, a mesma imprensa muitas vezes crítica com relação a alguns ritos e liturgias dos poderes, parece ser aferrada quando valores caros do protocolo simbólico de Brasília referente à própria imprensa sofrem ou parecem sofrer qualquer ameaça de profanação.

    Assim que a notícia da mudança da presidência da Câmara para o lugar ocupado pelo “comitê” de imprensa foi vazada (de forma terrorista pela burocracia da Casa, na minha opinião, para colocar o novo presidente contra os jornalistas, num complozinho de quinta categoria, mas clássico da cidade dos complôs), um número interminável de matérias nos meios de comunicação começaram a pulular. Todas negativas e misturando uma série de conceitos. Com muitos simplismos e, na maioria das vezes, com exagerada crítica e parcialidade. E o mais impressionante: seria essa, entre todas as calamidades do país, o tema mais relevante a ponto de ocupar o destaque que alcançou? Ou era apenas a expressão do corporativismo, da manifestacão do poder pelo poder, de enfatizar algo apenas porque era uma idiossincrasia da própria imprensa? Havia tanto interesse público assim a ponto de colocar esse tema à frente de todas as outras mazelas nacionais? O tema expôs a política ou a própria imprensa e seus critérios, seus filtros de determinar o que é mais importante ou não, sendo ou não?

    Entre os argumentos colocados, havia o de que o “comitê” fora concebido originalmente ali por Oscar Niemeyer. Parcialmente verdadeiro. No projeto inicial, o arquiteto da capital imaginou a presidência ao lado do plenário. Depois desistiu e destinou o lugar para a imprensa. Mas o argumento do “projeto original” é falacioso. Niemeyer não projetou as persianas metálicas (verdes) que adornam as laterais das duas torres do parlamentos. Não projetou porque simplesmente não previu o impacto infernal da insolação do planalto central nos escritórios do Congresso. No “projeto original”, as fachadas eram de vidro. O erro, sim, erro sim (Niemeyer era um gênio mas não era um Deus) foi corrigido com uma alteração das fachadas e a colocação de aberrantes lâminas metálicas móveis, para aplacar o sol escaldante. O arquiteto também não previu o “fosso” em frente ao prédio principal. Isso foi colocado pelo senador Antônio Carlos Magalhães, como uma barreira de proteção contra manifestantes. Um fosso, nada mais medieval. E também não previsto por Niemeyer.

    A Câmara tem os anexos 2, 3 e 4. No 4 é onde fica a maioria dos gabinetes dos deputados, a quase um quilômetro do “comitê” de imprensa. Alguém por acaso imagina que a construção do anexo 4 foi feita para “prejudicar o trabalho da imprensa”? É lá que a maior parte da atividade parlamentar acontece, e não no plenário. Numa visão “imprensocêntrica” do mundo, o anexo 4 deveria ser um atentado contra a liberdade de imprensa, assim como muitos enxergaram a transferência da presidência da Câmara para o espaço físico do “comitê”. Aliás, nenhum dos “anexos” estavam previstos no “projeto original” de Niemeyer. Por que? Porque a arquitetura e uma cidade evoluem, crescem e se adaptam às novas necessidades e às exigências dos diferentes tempos. No caso de Brasília, cujo plano piloto é patrimônio mundial da humanidade, o tombamento impõe uma serie de restrições, algo que é extremamente positivo.

    Outra questão levantada foi a de que a transferência da presidência para ficar ao lado do plenário (e portanto no lugar do “comitê”) era um ardil para que o presidente ficasse “blindado” de dar entrevistas diariamente, já que no desenho atual o chefe da Câmara precisa atravessar um calvário entre o desembarque de seu carro oficial e seu gabinete, pois não há uma entrada privativa. Curioso: o presidente da República tem entrada privativa, o vice presidente, o presidente do Supremo Tribunal Federal, do STJ, o procurador geral da República.

    Nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França, na Alemanha –para ficar apenas em alguns países “civilizados” que a imprensa brasileira adora citar como paradigmas–, nenhuma autoridade concede entrevistas a não ser quando se desloca para um lugar específico com essa específica intenção. Não ocorre, como no Congresso brasileiro, a obrigatoriedade de tropeçar com um batalhão de equipes de jornalistas –por causa de uma questão arquitetônica (o gênio Niemeyer projetou a presidência num lugar, quando não havia jornalismo em tempo real, dezenas de televisões, rádios, sites, blogues, tudo ao vivo), o que sobretudo em momentos de crise pode criar um protagonismo factual artificialmente descalibrado ou potencialmente hostil para o Legislativo, enquanto os chefes dos demais poderes permanecem protegidos desse assédio. Ou seja, há sim uma disparidade, uma situação excepcional no Legislativo brasileiro. Isso pode permanecer ou não. Por decisão política. Mas não porque “fere” qualquer princípio democrático, como está sobejamente demonstrado. E, detalhe… a entrada do presidente da Câmara vai continuar sendo no mesmíssimo lugar, mesmíssimo, embora o bombardeio de matérias negativas tenha pontificado que o “comitê” vai isolá-lo da imprensa…

    Colocado tudo isso, meu caro leitor, minha cara leitora, você irá me perguntar a única questão que realmente importa em qualquer texto jornalístico: e daí? E daí é que vivemos tempos tão nervosos em que se enxergam muitas ameaças, existam elas ou não. No caso, aproximar o presidente da Câmara do plenário onde ficam os deputados (um gesto simbólico e prático positivo, pois permite maior interação entre a direção da Casa e seus pares, reflete inclusive a mudança da Constituição de 1988, o empoderamento do Legislativo, o semipresidencialismo não vigente na era JK), pois bem, tudo isso não significa um afastamento da imprensa da sua missão de noticiar. Mas você foi bombardeado por matérias e artigos furibundos. Isso fala mais da imprensa do que da política, dos vieses editoriais.

    A imprensa tem o poder de falar bem ou mal de alguma coisa. De emitir juízos de valor (eu mesmo aqui, travestido de comentarista). Mas imparcialidade? Só lá na Lava Jato. Na imprensa, lamento dizer, não existe.

    Na questão fundamental, acho sim que o criador de Brasília deixou uma mensagem de que a sociedade –simbolicamente a imprensa– deveria estar e acompanhar de perto as decisões da “Casa do Povo”. Isso se traduziu na geografia do “comitê” ao lado do plenário. Qual foi a solução ao final? A presidência será transferida para o lugar onde antes era o antigo “comitê” e o “novo” comitê ficará ao lado da nova presidência e, portanto, próximo também de onde sempre esteve, do plenário. E daí? E daí é que Brasília anda, como sempre, cheia de polêmicas que só existem dentro de sua própria bolha. E daí que muitas vezes você é bombardeado por temas que não têm a menor ideia de por que são jogados na sua tela, na sua vida. E daí é que a imprensa tradicional vai perdendo conexão com seu público, entre outras coisas, por insistir em ser o bedel da vida dos leitores e das instituições, quando a fila andou e, mais do que nunca, todo mundo saca quando a sopa tá insossa ou salgada demais. E cada vez mais percebe que a imprensa, muitas vezes, tem sua própria agenda. E o público tem cada vez mais como se tocar. E daí também é que o poder é cheio de simbolismos e liturgias. E é curioso quando a imprensa, tantas vezes iconoclasta, reconhece a importância de alguns. Isso é bom.

    PS.: Nenhum comentário aqui reflete qualquer mal-estar com jornalistas. Pelo contrário. Não há nenhuma azia que qualquer um deles tenha sentido que eu mesmo não tenha sofrido ou provocado quando fui um. Eu entendo bem. No caso específico dessa confusão toda do plenário, como ajudei como palpiteiro da campanha do deputado Arthur Lira para a presidência da Câmara (ajudei de graça, como ajudei de graça 15 anos atrás a campanha de Severino Cavalcanti, do mesmo partido) deixo claro que minhas opiniões aqui, como sempre, para o bem ou para o mal, são minhas. Certas ou erradas, minhas. O que eu achei mais curioso, neste caso, foi a oportunidade de falar um pouco de um tema que quase nunca é notícia: a imprensa. Não para rotular e criticar, como está na moda. Mas para deixar um registro, quem sabe, de como agia e qual eram alguns de seus movimentos, na coreografia institucional neste momento de grandes transformações da balança do poder dos mediadores, da afluência da desintermediação e da eterna linguagem dos códigos.

    Ah, sim: um jornalista me lembrou que o “comitê” de imprensa do Congresso norte-americano existe há 100 anos. Fato. Não se chama comitê. É sala de imprensa, como mencionei. Não fica no andar do plenário, muito menos ao lado. Os jornalistas não têm acesso, como no Brasil, ao lugar onde os congressistas votam. Democracia atrasada essa, a norte-americana…

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  • As Fake News e o AI-1 da democracia: há diferenças?, questiona Mario Rosa

    Medida abre lapso constitucional

    Foto da solenidade em que o Ato Institucional nº 1 foi anunciado pelos meios de comunicação
    Foto da solenidade em que o Ato Institucional nº 1 foi anunciado pelos meios de comunicação    Reprodução

    Nada mais chato num artigo de política do que falar sério. A seriedade, sobretudo em nos grandes temas, é apenas um biombo para a falta de brilho ou de argumentos realmente originais. A seriedade é um reboco. O sarcasmo é uma patina. E o pedreiro aqui vai salpicar a parede deste artigo com o reboco de uma sisudez peçonhenta para tratar do primeiro Ato Institucional de nossa democracia, o AI-1. Trata-se do chamado inquérito das Fake News aberto pelo Supremo Tribunal Federal.

    O tema serve também de pano de fundo e como pretexto para marcar o início da presidência do ministro Luiz Fux no mais alto posto da magistratura brasileira.

    Comecemos fazendo justiça com a Suprema Corte da Justiça brasileira: de fato, havia em marcha um processo de desbalanceamento do equilíbrio entre os poderes e o Judiciário, inclusive os insignes ministros do STF, estavam sendo alvos de ataques seriais que, em última análise, tinham o poder de minar a autoridade e a respeitabilidade da instituição perante a população. Ataques orquestrados e maciços colocavam em risco de colapso a própria sobrevivência da Corte. Como escapar dessa armadilha pelas vias democráticas?

    A verdade é que não existe maneira de respeitar integralmente todos os melindres democráticos quando uma democracia está ameaçada de morte. E o que se viu, no inquérito das Fake News, foi a supressão momentânea de alguns princípios da atual Constituição Cidadã, sob a excusa meritória de preservá-la. Os formalistas irão dizer: mas, ora, a instauração do inquérito foi aprovada por ampla maioria do próprio Supremo. Logo, é constitucional!

    No primeiro AI-1, de 9 de abril de 1964, o auto proclamado “Comando Supremo da Revolução” também cometeu uma pirueta constitucional. Ao mesmo tempo em que deliberou a cassação de mandatos parlamentares, sacramentou logo em seu artigo primeiro:

    – São mantidas a Constituição de 1946 e as Constituições estaduais e respectivas Emendas, com as modificações constantes deste Ato.

    Ou seja, a Constituição vigente continuava valendo. Só que não (só iria ser varrida com a outorgada 3 anos depois, em 1967). Era mera pirotecnia retórica. Para todos os efeitos práticos, o arcabouço constitucional estava sendo violado. E Constituições e virgindades são conceitos que não aceitam relativismos. Ou são ou não são. Para todos os efeitos práticos, o AI-1 de 1964 e o de 14 de março de 2019 são historicamente da mesma cepa. A divergência, eventual e hermenêutica, é que o primeiro era para impor o arbítrio e o segundo, para afastá-lo.

    O problema de debater questões delicadas é… que são delicadas. E discuti-las no calor dos acontecimentos envolve ainda a borra das paixões, o combustível que incendeia as sociedades e a política, sobretudo em tempos de tormentosos. Chamar o inquérito das Fake News de AI-1, para muitos, pode ser um paralelo deslustroso, ao comparar a iniciativa com o marco inaugural de um regime de exceção que tantas feridas deixou em nossa história recente.

    Mas ignorar o lapso constitucional aberto pela medida é negar um fato objetivo: por melhores que tenham sido as intenções (e a História poderá justificar e referendar esse ato), o fato é que nossa democracia deu um salto triplo carpado constitucional, sob a propalada nobre intenção de preservar o sistema constitucional vigente, ao se antecipar ao risco de erosão política da Suprema Corte.

    O inquérito das Fake News subverte todos os trâmites processais cabíveis a todos os outros feitos judiciais. Isso não é implicância nem crítica: é um fato. É um magistrado que comanda diretamente as investigações e as ações policiais, sem a mediação (prevista na Constituição) da excelsa instituição do Ministério Publico. O argumento utilizado para essa exceção foi de que o MP adotou postura excessivamente passiva diante dos ataques sucessivos sofridos pelo Judiciário e seus representantes, notadamente os ministros da Suprema Corte.

    Do ponto de vista da democracia, o importante é saber como será construída a porta de saída para essa situação de todo sui generis. Sim, porque no caso do AI-1 original aquele era apenas um primeiro passo para a implosão da ordem constitucional em vigor, o que nem os mais pessimistas de hoje em sã consciência podem sequer acreditar ser o propósito. Mas o precedente está dado, frise-se.

    O que fica disso tudo é que nossa democracia foi tão abalada nos últimos anos que inúmeras cicatrizes foram deixadas. A extensão do trauma, do ponto de vista constitucional, será a lembrança de que o guardião da Constituição se viu na contingência de outorgar um remédio jurídico inconstitucional para tentar salvar a ordem constitucional! Dos males o menor?

    Um verbete: não se pode retirar de todo esse contexto a postura, no mínimo, bipolar, adotada pela Suprema Corte em relação aos princípios da Constituição em vigor, ora respeitando-a, ora ignorando-a, com construções cerebrinas de Plenário no auge da Lava Jato. O tempo mostrou que a “jurisprudência criativa” é um eufemismo para a abolição dos marcos civilizatórios. E só existe Supremos em civilizações.

    O episódio todo mostra a que ponto chegamos. Mas somente a sabedoria daqueles que tem o poder de solucionar essa contradição institucional é que mostrará se nós, como sociedade, soubemos evitar o pior e, ao mesmo tempo, mostrar que eventuais arbítrios democráticos são menos deletérios que os arbítrios do autoritarismo. É óbvio que há inocentes no meio disso tudo e que estão pagando o preço de uma “batalha histórico-institucional”. E eles? Serão moídos, destruídos, mártires de uma briga de Titãs? Justiça é isso e esse é o melhor exemplo que o Supremo pode dar?

    Que Deus ilumine os homens com boa vontade. Amém. 🙏🏽

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  • A voz de Deus é a voz do povo: deixa o Mito pedalar, diz Mario Rosa

    Política: flexibilidade e conciliação

    As pedaladas sempre existiram

    Brasília é realmente uma cidade imaginária. Enquanto Versalhes discute pomposamente “teto de gastos”, aquela outra partezinha em volta do quadrilátero –chamada caprichosamente de “Brasil”– discute o “abismo social”.

    Ora, ora, senhores! A tentação do Mito de querer fazer uma pedalada assistencial para se reeleger –colocando o Renda Brasil na veia do povo– não é nova. Nova é essa súbita síndrome de responsabilidade canina com abstrações contábeis para conduzir a política. Vejamos.

    (Antes de tudo, para os “racionais”: não se está pregando aqui o fogo às vestes, o populismo fiscal, o curto prazo em sacrifício do desenvolvimento sustentável. Não. É preciso haver disciplina fiscal, claro. Mas todos os últimos presidentes, cada um ao seu modo, fizeram gradações na aplicação dessa “responsabilidade”.

    A política é isso: flexibilidade, conciliação. Ainda mais na contabilidade nacional, cheia de números mastodônticos e quase imaginários. Ou seja, há muito espaço para resolver o equilíbrio fiscal fora a única premissa de engessar politicamente o Mito). Vejamos, de novo.

    O inefável José Sarney foi o autor de uma das maiores pedaladas da historia, a pedalada inflacionária, chamada “Plano Cruzado”. Segurou aritificialmente a inflação até depois da eleição. Com isso, elegeu todos os governadores e uma maioria fundamental para que a Constituinte –sim, senhoras e senhores, a Constituição de 1988 é fruto de uma “pedalada”– não se tornasse um depositário (ainda maior) de alucinações e idealismos humanitários mofados.

    A pedalada inflacionária de Sarney estava certa? Historicamente falando? Olhando em perspectiva? Sim. Porque assegurou a estabilidade institucional, embora possa ser visto também como um estelionato eleitoral pelos críticos.

    A pedalada do milênio chamou-se “Plano Real”. O astucioso presidente Fernando Henrique criou a “pedalada monetária” para se reeleger: segurou articialmente a “paridade” entre o dólar e o real –um dólar valia um real: viva o Brasil!– até depois da eleição de 1998.

    Eleito, adotou o câmbio flutuante. Tudo explodiu, inclusive a popularidade do governo, as taxas de juros que chegaram a quase 50% em termos reais, as reservas derreteram, o governo teve de fazer acordos humilhantes com o Fundo Monetário Internacional. Olhando em perspectiva foi algo positivo? O segundo mandato de Fernando Henrique deixou alguns marcos importantíssimos, como a Lei de Responsabilidade Fiscal e a própria continuidade de inúmeras políticas de estabilização iniciadas no primeiro mandato.

    A “pedalada fiscal” de Dilma, essa, entrou para a História. O governo turbinou os gastos públicos, num movimento anticíclico após a erosão do superciclo das commodities provocado pelo aspirador de compras, chamado PIB chinês crescendo a 15% ao ano. Dilma se reelegeu, incinerando dinheiro público. Ganhou por pouco. Depois foi derrubada, mais por falta de equilíbrio para guiar a bicicleta do que pelo problema com os pedais. Houve méritos nas pedaladas dilmistas? No mínimo, acrescentou um compêndio de experimentações fiscais para futuros estudos de economistas.

    E agora? Com o Mito? Como resistir a praticar uma “pedalada assistencial”? O Programa Emergencial está aí, quicando, a pandemia não foi criada por ele, há a possibilidade concreta do Mito entrar pra História como o autor do maior programa assistencial do país. E com justificativa: em tempos de grave crise. Um Roosvelt brasileiro. Aliás, o original se elegeu e se reelegeu por causa da miséria e se reelegeu outras duas vezes –único tetrapresidente americano– por causa da Segunda Guerra Mundial.

    E o Mito só precisa pedalar assistencialmente nos próximos vinte e poucos meses: incomparavelmente mais barato do que as pedaladas tucanas, petistas e a de Sarney. E o tamanho da pedalada? Definamos. Não precisa ser gigantesca. E com uma justificativa histórica inquestionável, como a de Roosevelt: quem se lembra de algum viaduto, estrada, barragem feita pelo presidente americano no primeiro mandato? Sua grande obra foi a social, o New Deal.

    Salvar a economia, salvar os mais desprotegidos? Os tecnocratas míopes vão ficar contra isso? Podem até ficar. Os políticos “responsáveis” também? Ora, me poupem: todos sabem que o Mito com o Renda Brasil é um candidato forte. E a “responsabilidade fiscal” é um biombo para minar suas chances. Também.

    E importante: o Brasil, desde Fernando Henrique e com impulso virtuoso de Lula, já vem ampliando e praticando políticas de proteção social há duas décadas. É o imposto de renda negativo: dar uma parte da riqueza do país para que não haja miséria. Não teremos chegado a essa altura a um estágio de maturação histórica, econômica e social que nos permita, como sociedade, erradicar a miséria absoluta entre nós? Já não temos condições de pagar por isso? Não é algo que vale a pena sob o ponto de vista não apenas moral, mas da própria estabilidade do sistema econômico e social?

    Então, estamos assim: o Mito precisa quebrar o Brasil para se reeleger? Não necessariamente.

    Com a aliança com os setores conservadores do parlamento, caricaturizado pela imprensa como “ Centrão”, ele pode avançar em diversas medidas modernizadores que compensem sua pedalada assistencial. Reeleito, como fez Fernando Henrique (mas sem a destruição nuclear da pedalada monetária, frise-se), pode encaminhar um governo de enormes e impactantes medidas liberalizantes.

    Qual é o problema? O problema é de quem não gosta do Mito. E aí fica batendo na tecla da “responsabilidade fiscal”.

    Fala sério!

    Prefiro cantar um jingle:

    “Nosso povo pobre hoje tem vez
    Deixa o Mito pedalar
    Meu Brasil auto-suficiente
    Deixa o Mito pedalar…”.

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  • Coluna verde oliva: uma apoteótica louvação ao Mito, por Mario Rosa

    Todos os presidentes são iguais

    Jair Bolsonaro: típico presidente

    Getúlio Vargas: único ditador

    Ai, ai, ai: que saudade eu tava de falar do Mito!

    Fiquei sem publicar colunas alguns meses e só podia falar bem do Mito pelas costas. Mas não é a mesma coisa: bom mesmo é elogiar o Mito publicamente! É igual o Mito falar barbaridades só pros amigos: bom mesmo era quando ele falava no cercadinho, nas lives, nas manifestações contra os Poderes…

    Enaltecer o Mito: pense numa coisa que deixa algumas pessoas, sobretudo de esquerda, eufóricas! O Mito falando da democracia como se estivesse num stand de tiro? Ah…

    Bons tempos…

    Agora o Mito anda tão… Sei lá…

    Não quero falar mal do ex-presidente Temer. De jeito nenhum! Mas o Mito anda tão, tão, tão… Temer! Só falta usar mesóclise, porra! Daqui a pouco vão botar um jaquetão no Mito. Te cuida hein, general Braga Neto: o Moreira Franco… tá na área. Fica a dica!

    O fato é que se tem uma coisa que mudou no Brasil, nos últimos meses, foi o Mito. Bendita rampa do Palácio do Planalto!!! Ela é como uma trena: todos chegam ali cheios de diferenças, singularidades e imprecisões. Mas basta galga-la que a rampa os apruma, os alinha, os iguala. Todos os presidentes são iguais. E é bom que seja assim. Presidentes diferentes são os que morrem ou os que caem. Ou os ditadores…

    Mas os ditadores…ah, os ditadores…esses são tão raros!

    Mário Rosa
    Mário Rosa 

    Ser presidente é um fato histórico. Ser ditador é um acontecimento cosmológico! Tanto que só tivemos UM ditador no Brasil, Gegê, o “velhinho”, Getúlio Vargas. E ainda assim por escassos 8 anos, após o fraudulentissimo golpe do Estado Novo e seu Plano Cohen fajuto (e dizem que só agora é que inventaram as fake news: isso sim, a invenção das fake news, é a maior de todas as fake news. Mas isso a gente fala um dia).

    Pois bem: Getúlio Vargas, nome de fundação, de avenidas, praças, hospitais, foi nosso único ditador. O que mostra que se o Mito tentasse se tornar ditador, e conseguisse, seria um gênio político. E todos que tiveram medo disso, aceitem que dói menos, admitiram implicitamente que o Mito tinha/tem a genialidade ou o potencial de matreirice política de um…Getúlio!

    Sim, porque no regime militar, o Brasil criou uma jabuticaba sociológica. Eu me ufano do Brasil. Há duas coisas no mundo que nunca falham. Pela ordem. Em segundo lugar, bem abaixo, os relógios suíços. Em primeiríssimo lugar, o Brasil. O Brasil nunca falha. O Brasil é o paraíso da previsibilidade. Muda tudo e tudo permanece de outra forma.

    Pois bem: a inventividade brasileira criou a ditadura com mandato e alternância de poder. Coisa linda de se ver. Ditador com mandato? Só no Brasil!

    – Meu amor, minha ditadura termina amanhã. A gente vai ter que se mudar…

    Havia ditadura militar. Mas não um ditador. É uma construção política inacreditável, que mesmo durante o arbítrio, houvesse essa alternância dentro do próprio sistema e um “ditador” não fosse capaz de se apoderar do aparato estatal.

    Então, ditador, ditador mesmo, digno desse nome, só tivemos um, o magistral Gegê, o pai dos pobres –a propósito, muito antes e sem um milésimo da potência do coronavoucher.

    Teoricamente falando, todos temos de ser contra a ditadura. Mas…como ficar contra um ditador? É tal a proeza de tornar-se um, sobretudo nos dias de hoje, no mundo digital, que o sujeito que se tornar ditador… é um gênio da raça! Quanto tempo dura uma ditadura hoje? Duas lives? Quantos memes Hitler aguentaria antes de ser desmoralizado?

    Então, o fato concreto é que o Mito até agora vem sendo um típico presidente brasileiro. Com duas vantagens. A primeira: ele resgatou o sistema de garantias e de controle dos abusos do poder, fortalecendo os princípios de Constituição de 1988. Chuuupaaaa: o Mito fortaleceu a democracia. É fato. Não é fake.

    Segundo: o Mito não governa um governo apodrecido pela corrupção sistêmica. É a primeira vez que isso acontece desde a volta dos civis ao comando da nação.

    Não há mais adjetivos para definir o Mito. Ele gabaritou todos. Pelos menos seus inimigos: “homofóbico”, “moto serra”, “machista”, “miliciano”, “ditador”, “desumano”, “golpista”, “fascista”, “desequilibrado”…

    Parecia que não faltava mais nada, mas graças à pandemia esgotaram o léxico do campeonato de insultos ao Mito. Agora, ele é também um “genocida”. Parabéns, Mito!!! Acho que não tem mais do que lhe chamarem. Quem sabe inventam algum elogio na falta de impropérios?

    Depois do “gabinete do ódio”, botaram a culpa da pandemia no Mito. Não tem 27 governadores, milhares de prefeitos, o SUS não é um sistema que funciona com dinheiro federal e estrutura estadual e municipal? Então, fica assim: “o gabinete do vírus” fica ao lado do “gabinete do ódio”, talquei?

    Outro dia eu vi um telejornal falando da pandemia. Sem musiquinha por causa das 100 mil mortes. Fiquei emocionado. Agora, são cerca de 110.000. Vi o mesmo telejornal. Minha surpresa: a musiquinha voltou. Dez mil mortes a mais é mais grave ainda! Não entendo nada nem de musiquinhas nem de telejornais.

    Rachadinhas e outros que tais? Bom… o Mito é o primeiro pecador que chega ao poder? Deve ser julgado como presidente pelo que fez na função ou pelo que fez em Niaoque, no Mato Grosso, quando era tenente também?

    (Na questão de presidentes, me orgulho de minha mais absoluta e irretocável coerência. Nunca mudei de posição. Nunca me manifestei sobre presidentes movido pelo calor das circunstâncias. Sempre que perguntado sobre quem foi o melhor presidente da República da história do país, nunca mudei de lado e respondi sempre do mesmo modo:

    – O melhor presidente da República de todos os tempos é o… atual!

    E sempre foi assim. Nunca mudei. Passaram vários presidentes, mas minha reposta é e será sempre mesma. Perdoe minha intransigente coerência…).

    Bom, eu tenho que terminar com uma crítica: o Mito agora está usando máscara em público! Que coisa…

    Só falta agora uma fazer live em francês com o Fernando Henrique…

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  • Se fosse comédia, o governo seria Zorra Total, diz Mário Rosa

    Dilma era 1 stand up comedy

    Atual governo é Zorra Total

    Tem bordões que se sucedem

    "É realmente uma novidade termos uma família de políticos agindo e interagindo com a plateia", escreve Mario Rosa    Reprodução/Enfu

    Kkkkkkkkkkkkk…
    – Você viu a última do Carluxo?
    – Naaaaooooo!!!
    – Pelas vias democráticas, não dá pra mudar o país!
    – Kkkkkkkkkkkkk…
    – Foi tuitada, retuíte ou foi na live?
    – Tuitada, mano! Foi sinistro!!!
    – Kkkkkkk….

    O governo Dilma tinha momentos bizarros. A gestão Bolsonaro tem seus dias de galhofa. A rigor, todo governo produz lances que humoristas dos mais criativos teriam dificuldade de igualar. Mas a comédia da vida real chamada governo Dilma é bem diferente do magistral espetáculo de galhofas do “programa” Bolsonaro.

    Dilma era um stand up comedy. Dilma era a maior e talvez a única piada de seu governo. Ela “estocava o vento”, “dobrava metas” não estabelecidas, homenageava mandiocas. E por aí vai. O governo Bolsonaro pode provocar risos, às vezes amarelados, mas seus deboches lembram um script de humor completo. O atual governo é Zorra Total.

    Enquanto Dilma era aquela comediante desconcertante que solava no palco dos palácios e levava às vezes a plateia às gargalhadas com suas tiradas fora da casinha, o governo hoje parece um programa estruturado, roteirizado, com quadros fixos e bordões que se sucedem. No quesito escárnio, o governo parece muitas vezes uma grande produção.

    Os brasileiros já vão se acostumando com alguns “quadros” que se repetem quase como num roteiro. O mais famoso e mais inusitado, sem dúvida, é “A Grande Família”. O samba de Dudu Nobre que servia de abertura para o humorístico consagrado diz tudo sobre as reinações do pai e de todos os seus zeros, zero um, zero dois, zero três: “Está família é muito unida/E também muito ouriçada/Brigam por qualquer razão/Mas acabam pedindo perdão…Pirraça pai/Pirraça mãe/Pirraça filha/Eu também sou da família/Também quero pirraçar…”.

    É realmente uma novidade termos uma família de políticos agindo e interagindo com a plateia. A “tirada” do 02 dizendo que tem “literalmente se matado” para fazer a comunicação do governo melhor já é um clássico destes tempos. E o filho embaixador em Washington e o pai, numa live, defendendo a teoria sociológica do “filé para o meu filho“? Ou o “eu sou imbroxável”.

    Mas, para muito alem da “Grande Família”, há outros sketches no governo que se revesam diante da audiência e criam uma narrativa que tangencia as sátiras mais apuradas. Como num programa de humor, é como se houvesse núcleos bem definidos que poderiam até funcionar como quadros autônomos. Por exemplo:

    Sai de baixo – É quando os principais atores do governo saem metralhando contra si e contra todos e, sobretudo, conta o senso convencional no Twitter. O presidente tuíta cenas obscenas, o guru do regime tuíta atacando o exército e o presidente compartilha, o filho zero dois ataca o vice-presidente de todas as formas, o guru ataca os principais ministros, os líderes do PSL se atacam e atacam todo mundo e no final? Todos recebem a mais alta condecoração do pais, a ordem do Rio Branco, em reconhecimento aos serviços prestados. Kkkkkkkkkkkkk. O mais novo “bordão” desse quadro é a diária saidinha do presidente no portão da residência Presidencial. Ele desce do carro, ruma em direção à imprensa todas as manhãs e…sai de baixo!

    Pânico – Esse é sensacional. O presidente baixa em meio bilhão o volume de recursos que pretende arrecadar com a reforma da Previdência, justo no dia em que seu ministro solta um estudo oficial. O desautoriza. O presidente chama a primeira dama da Franca de feia. O presidente inventa uma confusão com o presidente da OAB, insinuando que seu pai (morto pela tortura do regime militar) teria sido justiçado pelos próprios companheiros. O presidente torna o fenômeno sazonal das queimadas um problema mundial (contra ele) e ainda põe  a culpa do fenômeno (natural) nas ONGs. Como fez quando disse que ia baixar o preço do diesel enquanto o ministro estava nos Estados Unidos, levando o preço da Petrobras a derreter três dezenas de bilhões. O presidente também “mudou” a embaixada brasileira para Jerusalém, só que não; brincou que ia baixar os juros do Banco do Brasil numa solenidade; e o programa está só começando…

    Os normais – É um quadro quase silencioso do governo, geralmente composto pela ala militar e, às vezes, muitas vezes, encenado pelo vice-presidente. É quando alguém com alta patente, da reserva, vem e fala coisa com coisa. É um contraste tão impressionante que torna o todo ainda mais espetacular.

    Faça humor, não faça guerra – O chanceler Ernesto e, às vezes, o próprio presidente, ressuscitam esse clássico dos programas de comédia da TV brasileira dos anos 1960, sobretudo no que diz respeito à crise na Venezuela. Falam muito, radicalizam muito na oratória. Fazem guerra nenhuma, mas muito humor.

    Os Trapalhões – Sem duvida nenhuma, essa magistral atração da nossa tradição humorística vem sendo encenada todos os dias, todas as semanas, na articulação política do governo com o Congresso e, em alguns casos, com o poder Judiciário. Cenas do pastelão mais ingênuo e infantil se repetem a quase todo momento. Como tudo no teatro, por enquanto é comédia. Mas a tragédia é a outra face do tablado.

    Custe o que Custar – bem, para aprovar a reforma da Previdência, o governo falou “sério” e deixou as brincadeiras de lado: liberou 3 bilhões em emendas e começou o festival de nomeações. Kkkkkkkkkkkkk.

    Agora, uma reflexão séria sobre a vocação popular de satirizar governantes.

    Governo virar piada pode ser bom ou ruim. O lado bom é que governos populares criam aquela empatia com o povo, ficam tão próximos dele, que passam a ser como alguém da família. E nada como pegar no pé daqueles de quem mais gostamos, fazer chacota. Ou seja, virar piada pode ser a semente de um governo que tem enorme potencial de cair no gosto popular, para além da lua de mel deste início, talvez capaz de encenar o tipo de comédia que faz a alegria das massas. O elenco é impactante: o chanceler de fala dura, o presidente do leite moça, a ministra do óculos quadrado e das propostas idem, o vice-vulcânico que virou seda pura, os filhos com retórica de snipers.

    Tudo isso representa o novo. Senão o novo como renovação (só o tempo dirá), mas novos códigos, novos estilos. Sem contar a pegada castrense que voltou à moda: o verde agora é vintage. E o lado ruim da piada? O lado lastimável só existirá se o governo não fizer as entregas que se esperam dele. Aí, a frustração dominará a plateia e, além de vaias, uma das expressões da perda de credibilidade são governos não serem levados a sério. E tudo que dizem ou fazem provoca um esgarçado e tenso riso de incredulidade. Quase uma reação nervosa. Mas se o governo der certo, será aquela comédia água com açúcar: todo mundo gosta, ninguém se incomoda, é divertido e não cansa de ver. Só nos resta aguardar os próximos episódios.

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  • A primeira vez que senti de perto a eletricidade do poder presidencial, escreve Mario Rosa

    A História faz o cavalo de pau

    O Rolls Royce apenas segue

    João Figueiredo, com o vice, Aureliano Chaves, e o ministro-chefe do gabinete militar, Danilo Venturini, no Rolls Royce presidencial
    João Figueiredo, com o vice, Aureliano Chaves, e o ministro-chefe do gabinete militar, Danilo Venturini, no Rolls Royce presidencial    Senado Federal

    Que voltas a democracia dá…

    Hoje, o Rolls Royce preto Silver Wraith 1952, conversível, de couro marrom, detalhes em madeira, vai desfilar solenemente na Esplanada dos Ministérios neste 7 de setembro de 2019, trazendo a bordo o presidente Jair Bolsonaro, eleito legitimamente pelo povo brasileiro. Um militar da reserva. Egresso da mesma caserna que esse mesmo povo, não faz tanto tempo, queria tanto retirar dos assentos do mesmo Rolls Royce, os passageiros egressos das tropas quando ele trafegava pelas vias escuras do regime de 1964. E tudo que se queria era colocar ali, no Rolls Royce que hoje será o ponto alto deste 7 de setembro, um civil eleito pelo povo. Pois o povo venceu e o Rolls Royce desfilou com inúmeros civis após a redemocratização. Até que… veio o acúmulo de escândalos que culminou com a Lava Jato e o povo deu uma guinada no Rolls Royce e expulsou os civis e trouxe para bordo seu atual passageiro, o Capitão. A História faz o cavalo de pau. O Rolls Royce apenas segue.

    Cheguei a Brasília menino de colo, em 1965 e desde então acompanho os triunfais festejos da celebração de nossa Independência. E, neste dia, recordo-me da primeira vez que senti a eletricidade do poder presidencial atravessando a multidão. Eu era menino e o ano devia ser 1971, 73…nem eu sei… só lembro do olhar daquilo tudo se passando pela lente sem filtros daquele menino. O fato é que Brasília e eu crescíamos juntos e ela, àquela altura, era um enorme terreno baldio de barro vermelho e mato alto. O desfile não era na Esplanada, como hoje. No “meu” tempo, na cidade quase fantasma que ainda não existia, o Eixão Sul era o lugar que concentrava a maior parte da população. Por isso, era ali que o Rolls Royce passava. O tédio de uma capital recém-nascida consegue ser ainda maior do que o de uma já consolidada, se capitais provocam tédio em certas pessoas. Pois no meio daquela poeira e daquele vazio, o 7 de setembro era como um carnaval: o maior espetáculo do ano.

    As mães, sobretudo as iguais à minha, barnabés da baixa extração do funcionalismo, acordavam cedo e se arrumavam todas para disputar as primeiras filas bem em frente à avenida. E os meninos e meninas íamos com roupas bonitas participar daquela festa. E não entendíamos direito, mas todos estavam muito alegres com o garbo e a elegância de nossos soldados. E apontavam de vez em quando, com certo espanto, para ele, como ele era importante? O general! E chegávamos antes das sete da manhã e tínhamos de disputar um lugar na primeira fila e as horas iam passando e o sol de rachar do Cerrado ia fritando a todos, mas ninguém arredava o pé. Todos esperavam por ele: o Rolls Royce…

    Eu me lembro bem da agitação que foi tomando conta de todo mundo. Era uma onda. Eu, baixinho, não conseguia ver nada. Estava em cima do meio fio, mas ouvia o murmúrio vindo, sei lá, de 100, 200, 500 metros? Mas era perturbador e congelante: “é ele, é ele, é ele, é ele, é ele…”. E esse mantra sussurrado por todos os adultos, de olhos arregalados e se esgueirando, contorcendo o corpo, tornava tudo um campo elétrico para um menino como eu. Como poderia saber quem era “ele”? E que ele era o presidente? E o que afinal de contas era o presidente, como eu poderia saber? E mais ainda que ele se chamava Emílio Garrastazu Médici?

    Eu só lembro daquela eletricidade atravessando aqueles brasileiros pobres, como minha mãe, vindos de todo lugar, gente que já estava ali há horas apenas para capturar aquele flagrante. E como num filme, hoje, consigo visualizar o balé de crânios na coreografia do espanto enquanto o Rolls Royce passava, lentamente. Eu, eu não sabia o que fazer. Eu não sabia nem quem era e porque era tão importante aquele automóvel. Só sei que tudo aquilo me perturbou. E o meu “grito” para participar da catarse coletiva foi levantar meu cata-vento verde amarelo com a mão direita. E quando o Rolls Royce passou por mim, lá estava eu, com o meu cata-vento verde amarelo no mais alto ponto que podia.

    De lá pra cá, foram tantos os 7 de setembro que assisti. Lembro de Geisel, que frequentava uma igreja Luterana na 405 Sul, onde eu morava. E como era bizarro ver aquelas limusines infestando uma quadra modorrenta num domingo de manhã. O que era aquilo? Depois, os desfiles de 7 de setembro foram transferidos para o Setor Militar Urbano, um lugar mais afastado, mais protegido, mais imune a vaias e manifestações. Talvez o povo já não estivesse tão exultante com os passageiros do Rolls Royce. Mas como o menino podia saber? Só notou que mudaram o lugar do desfile. Até que veio a democracia e, num certo momento, o desfile se transferiu para o coração do poder, a Esplanada dos Ministérios.

    O Rolls Royce já desfilou sem o presidente que se internou na véspera da posse e subiu a rampa do palácio presidencial num esquife. E desfilou com o primeiro presidente eleito pelo povo e também o primeiro deposto por um impeachment. Bolsonaro vai se sentar no mesmo banco de couro marrom em que Lula, hoje preso, desfilou oito vezes. E de onde Dilma foi tirada, pelo segundo impeachment da República. Em 7 de setembro de 2023, só há uma dúvida e duas certezas. A dúvida é quem estará a bordo. A primeira certeza é que o Rolls Royce estará trafegando no asfalto. A outra certeza é que, se estiver vivo, eu estarei como sempre estive, desde a primeira vez, com meu cata-vento verde e amarelo na mão e projetado no ponto mais alto, vendo o Rolls Royce passar.

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  • Chamar Bolsonaro de Bozo é o mais raso senso comum, diz Mario Rosa

    Governo Bolsonaro pensa ‘fora da caixa’

    Lista tríplice não está na Constituição

    Escândalos de corrupção diminuíram

    O palhaço Bozo, criado pelo americano Alan W. Livingston, em 1946, fez sucesso em mais de 40 países, em especial no Brasil, onde foi ao ar pelo SBT de 1982 a 1992
    O palhaço Bozo, criado pelo americano Alan W. Livingston, em 1946, fez sucesso em mais de 40 países, em especial no Brasil, onde foi ao ar pelo SBT de 1982 a 1992    Reprodução/SBT

    Atenção, esquerdominions: façam como seus clones do campo oposto e preparem todos os insultos possíveis. Este é um artigo a favor do presidente Jair Bolsonaro.

    Se você me chamar de Bozo, é engraçado. É engraçado chamar qualquer um de palhaço, dependendo das circunstâncias. A propósito, eu sou meio palhaço mesmo. Mas voltando ao presidente: essa história de chamá-lo de Bozo pode servir para desafogar fígados, mas é bom já ir se acostumando com a ideia de que o governo – apesar das trapalhadas estrepitosas – tem uma coletânea admirável de acertos para ostentar nestes meses de existência.

    Você pode até discordar da forma como o governo pode estar acertando em alguns casos (em outros até você vai concordar), mas o importante aqui é observar o conteúdo. E no conteúdo, sejamos justos, este não é o governo de Bozo.

    Vamos começar logo pela confusão mais barulhenta ou uma das mais barulhentas da estação: a nomeação do filho 03 Eduardo como embaixador em Washington. Bem, imaginemos o seguinte: e se o ex-presidente Lula tivesse indicado o grande e genial artista Chico Buarque como nosso representante na embaixada em Paris?

    Para prestigiar a cultura brasileira e uma nação que é sinônimo das artes? Não seria positivo? Não estreitaria a relação entre os povos e os governos? Chico não teria livre acesso a Lula e não representaria um papel de relações públicas importante perante os franceses? Aí é que está: o cargo de embaixador não precisa ser monopólio de funcionários do Itamarati.

    O que precisa ser fundamental é o apoio técnico de profissionais especializados, os diplomatas, ao estado brasileiro. E isso pode se dar, nas embaixadas, por meio do número 2 do embaixador, o encarregado de negócios, assim como é em muitos países civilizados.

    O grande mérito do governo Bolsonaro – bizarrices à parte – é pensar e agir fora da caixinha. E isso não é de todo ruim. É benfazejo. E quanto ao filho embaixador? Temos aí uma democracia para frear ou convalidar se essa iniciativa constitui nepotismo. Mas o dedo na ferida que essa discussão colocou é até mais importante do que a nomeação ou não do 03. Vamos para outro tema “fascista”? A mudança na “comissão da verdade”.

    A grande e insofismavel verdade é que as comissões da verdade, até hoje, fizeram um trabalho virtuoso de avaliar a responsabilidade do Estado brasileiro sobre os abusos do regime militar. Mas não contaram a verdade inteira. A história oficial, portanto, não está totalmente verdadeira perante a História.

    E é natural que fosse assim. É natural que após os anos de chumbo a comoção dos perseguidos quisesse dar voz à sua dor. Mas a transição já tem quase 4 décadas: é hora de ver a verdade também do que fizeram as forças que atuaram contra a ditadura. E a democracia que vivemos está aqui, para julgar se esse julgamento estará certo ou sobrecarregado.

    Alguém imagina algum dos outos presidenciáveis vendendo a BR Distribuidora? E alguém acha que a soberania nacional ficou de alguma forma fragilizada com isso? O que ficou fragilizado foi o antro de corrupção que potencialmente aquela estatal poderia se tornar se continuasse nas mãos de governantes.

    Outro mérito de uma presidência disruptiva como a de Bolsonaro: ela faz coisas que a política tradicional jamais faria. Para o bem e para o mal. Mas para o bem está enfrentar o mastodôntico peso do estatismo brasileiro com um ímpeto que os políticos “normais” jamais fariam porque estariam presos aos seus acordos de sustentação política que funcionavam como uma trava para a modernização do aparato estatal brasileiro.

    Lista tríplice para a procuradoria geral da república: essa foi uma invenção do petismo. Em tese, representa que o procurador geral é alguém com “apoio” da “catigoria”. E Ministério Público por acaso é sindicato? Lula inventou esse critério como uma espécie de tentativa de “cooptação” (que não funcionou) e ficou prisioneiro dele.

    O que o presidente tem de fazer é…cumprir a Constituição. E lista tríplice não existe na Constituição. E o que um político, qualquer um, de qualquer tendência, tem de fazer, é buscar um procurador geral que crie o mínimo de confusão possível. Pois governar já é complicado demais para ter mais problemas criados por você mesmo, através de alguém que você escolheu.

    Real politik. Encontrar novas formas – privadas – de financiamento da educação, aprovar agrotóxicos de última geração para atualizar as substâncias que podem ser usadas por nossos produtores (e assim escapar de sanções comerciais por causa das autorizacoes para agrotoxicos ultrapassados que poderiam prejudicar nossa economia, o que erroneamente é chamado pela esquerda como “aprovação de agrotoxicos”), taí um governo que fala sério.

    Não vou nem falar da reforma da previdência ou da perspectiva de acordo comercial com a União europeia, dois itens que pareciam inatingíveis na agenda brasileira por muitos e muitos anos. Ah, sim: há quanto tempo não temos um governo sem escândalos de corrupção por vários meses? Até agora nada. Pode haver coisa mais poderosa simbolicamente do que isso? Sobretudo depois da avalanche da Lava Jato? Bozo é?

    Andar na contramão de temas que o pensamento convencional dessas três décadas de democracia transformou em dogmas talvez seja a maior contribuição histórica do governo Bolsonaro. Questionar certezas, testar tabus, tocar em feridas, enfrentar temas que pareciam inquestionáveis.

    Visto assim, não é o governo do Bozo. É um momento rico do ponto de vista de nossa auto-crítica como nação, de nossa reflexão sobre o que somos e para onde queremos ir, sobre se o que temos é o que devemos manter ou não.

    É um momento precioso do ponto de vista intelectual e reflexivo. E isso ocorre justamente porque temos à frente da nação um catalisador de sinapses e catarses chamado Jair Messias Bolsonaro. Por ter esse perfil, ele pode uma hora dessas capotar espetacularmente na curva e se arrebentar todo? Pode. Um dos melhores pilotos da história também acabou assim, mas Senna era Senna e não Bozo.

    Quer continuar chamando o presidente de palhaço? Pode continuar. Mas pense bem: quem é que está fazendo o papel de bobo?

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  • Google, Google, Google, Google, Google: não censure, pede Mario Rosa

    Censura é proibida no Brasil

    Algoritmo que tem que mudar

    Mordaça a liberdade de expressão

    Eu, Google, coloquei seu sacrossanto nome cinco vezes no título e mais outra logo no início do parágrafo. Acho que estou querendo chamar sua atenção, não estou não? Sabe o que é, Google? (Olha eu indexando você de novo de modo que você possa se alertar sobre você mesmo, Google, como num imenso salão de espelhos digital).

    Google (baixaria minha, hein?), o negócio é o seguinte: outro dia você tirou do ar uma declaração jornalística de um senador postada aqui neste jornal digital. O senador Major Olímpio dizia que “quem dá tiro em policial tem mais é que morrer mesmo”…e por aí foi. Seus robozinhos, Google, retiraram o vídeo do ar e glosaram este veículo jornalístico no YouTube e em você, Google, para uma “revisão” de 90 dias, um bloqueio sob o nome pomposo de “violação sobre a política de conteúdo prejudicial ou perigoso ao YouTube”. Todo mundo sabe que o YouTube é seu né, Google?

    Google, falando sério: não é a primeira vez que um poderoso arsenal americano desembarca na selva e parece invencível. Lá no Vietnã, você sabe, consulte aí, deu no que deu. Censura é proibida no Brasil. E se seu “algoritmo” é uma equação que amordaça a liberdade de expressão, ele é que vai mudar. Ou você acha sinceramente, Google, que seu poder é tão grande que vai rasgar a Constituição de um país?

    Olha aí Google: com todo o respeito, mas nossa floresta é ainda maior que a do Vietnã, viu? E só faço esse alerta, meu caro Google, porque não são esses “robozinhos” eletrônicos ou esses outros robozinhos, executivos que estão de passagem pela empresa aqui no Brasil, que vão definir o que é a liberdade de expressão.

    Como diz uma amiga minha, vocês querem caçar conversa com as instituições brasileiras é? Google, você quer virar um vilão, um censurador, um big brother (talvez bug brother), a mais nova cara do “yankess, go home!”?

    Porque sites jornalísticos são feitos para…fazer jornalismo. E se um senador fala algo – concorde-se ou não – o dever jornalístico é levar ao conhecimento da sociedade. Até para que a sociedade condene ou julgue e absolva essa ou aquela postura. Mas o censor, esse seu robozinho, não pode fazer isso. É ilegal, Google. É inconstitucional, Google. É coisa do Cidadão Kane, Google. Sai dessa, Google! Qual vai ser o próximo passo? Seus robozinhos vão ser adestrados pelo seu algoritimozinho e vão impedir, depois, que talvez notícias sobre corrupção sejam difundidas?

    Vamos lá, Google, vamos em frente! Qual vai ser o próximo passo da sua guarda pretoriana digital, Google? Proteger governos? Impedir que áudios indiscretos sejam disseminados? Fazer uma eugenia em todos os arquivos de fotos? Fazer um mundo lindo, sem problemas, sem feiura, sem contrastes, sem diversidade, sem pobreza?

    É isso, Google? Você quer ser a nova Germânia, a capital do mundo digital, Google? Você com sua SS de robozinhos aparentemente “fofos” e algoritmos aparentemente “neutros”, mas que adulteram, subvertem, contaminam, empesteiam, menosprezam, rasgam a Constituição e o direito de livre expressão assegurado ao jornalismo profissional?

    Google, Gooooglllleeee? Eu to chamando você: ei Goooooooggglllleeee? Preste atenção: as instituições brasileiras não são robozinhos. A Justiça brasileira não é um algoritmo. A imprensa brasileira não é um clique, uma mera audiência. Liberdade de imprensa é coisa séria e assim deve ser tratada. Isso aqui é um país. Respeite para ser respeitado. Respeite princípios para, em princípio, merecer respeito.

    Você é muito bem vindo e presta um grande serviço à nação. Mas…não se ache não, Google. Os vietcongues, aqui, sabemos de uma só coisa: a floresta é nossa e o arroz nos basta. O resto…passa, viu Google?

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  • Reaça & Comuna: Moro sensacionalista e governo desarmado; assista

    Ministro foi ao Senado explicar Vaza Jato

    Chamou a divulgação de sensacionalista

    Senado derrubou os decretos das armas

    Bolsonaro ganhou uma bíblia de jornalista

    Novo ministro do BNDES arrombou portões

    Agora, arrombará “caixa-preta” do banco

    Os jornalistas Cynara Menezes e Mario Rosa comentam conversas vazadas do ministro Sergio Moro e a derrota do governo no Senado em relação ao decreto das armas
    Os jornalistas Cynara Menezes e Mario Rosa comentam conversas vazadas do ministro Sergio Moro e a derrota do governo no Senado em relação ao decreto das armas    Sérgio Lima/Poder360 - 19.jun.2019

    O 13º episódio do programa “Reaça & Comuna” já está no ar no canal do Poder360 no YouTube. O quadro é apresentado pelos jornalistas Mario Rosa e Cynara Menezes.

    Nesta semana, os 2 comentam conversa vazada envolvendo o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador da República Deltan Dallagnol. Nos diálogos publicados pelo site The Intercept, o então juiz federal sugere que uma investigação contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na operação Lava Jato seria pouco relevante. Também afirma que poderia melindrar alguém “cujo apoio é importante”.

    Cynara e Mario analisam ainda a ida de Moro ao Senado para explicar os chats publicados. Na ocasião, o ministro da Justiça negou que houve conluio ou irregularidades nas suas conversas com a força-tarefa da operação e afirmou que o jornal foi “sensacionalista” ao noticiar o caso.

    O anúncio do novo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, também foi assunto do programa. Montezano foi condenado pela Justiça por arrombar portões de condomínio. Agora, terá que arrombar a chamada “caixa-preta” do banco de fomento –promessa de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018.

    Assista ao quadro (30min20seg):

    O nome da atração é uma ironia à polarização que se intensificou nas eleições de 2018, com a vitória de Jair Bolsonaro na disputa pelo Planalto, concorrendo contra Fernando Haddad, do PT, no 2º turno. A ideia do quadro é oferecer uma análise da conjuntura do poder sob pontos de vista antagônicos.

    QUEM É O REAÇA E A COMUNA

    Mario Rosa – nasceu em Niterói, Rio de Janeiro, em 1964. É jornalista com passagens pelas Redações da revista Veja e do Jornal do Brasil. Trabalha há mais de 16 anos como consultor de crises, prestando consultoria a políticos e a grandes empresários. Escreve para o Poder360 às segundas e sextas-feiras.

    Cynara Menezes – nasceu em Ipiaú, na Bahia, em 1967. É jornalista e já atuou nos veículos Folha de S.Paulo, Veja e Carta Capital. Atualmente, comanda o blog Socialista Morena, que fundou em 2013. Por seu trabalho jornalístico, especialmente na política, recebeu em 2013 o Troféu Mulher Imprensa, na categoria “Jornalista de mídias sociais”.

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