História e Religião -

100 anos de protestantismo: a bandeira dos Batistas

Em 2010 publiquei meu primeiro livro HISTÓRIA DOS BATISTAS: UMA HISTÓRIA DE CAMPO MAIOR, onde apresento a fantástica saga dos Batistas em Campo Maior. Toda minha pesquisa está embasada em fontes históricas primárias, entrevistas, atas, documentos pessoais e em extensa bibliografia. Na ocasião, os Batistas contavam com 96 anos na cidade de Campo Maior. Agora já se passaram 100 anos!

Entre os anos de 2014 e 2015 os Batistas completam 100 anos de história na cidade de Campo Maior. Os primeiros passos aconteceram quando missionários norte-americanos, que já há alguns anos trabalhavam no sul do Piauí, pregando o evangelho na vila de Corrente (atual cidade de Corrente), em Jerumenha, Aroazes e outras povoações do Estado, se dirigiram com o intuito de expandir a obra missionária em direção ao norte do Estado, alcançando logo em seguida a capital, Teresina, e a tradicionalíssima cidade de Campo Maior.

Os fatos que envolvem a chegada dos Batistas em Campo Maior constituem-se um verdadeiro épico da fé cristã protestante. Entre os anos de 1912 e 1913, o conhecido sapateiro Joaquim Bostoque havia se dirigido para cidade de União em busca de novas oportunidades. Havia a possibilidade de ganhar dinheiro extra para a manutenção das despesas do seu lar. Por essa data Campo Maior ainda não contava com a pujança econômica que seria promovida pela cera de Carnaúba. O fenômeno do gado, por sua vez, que incrementou a economia local por séculos, começava a diminuir em ritmo acelerado. Mesmo continuando a ser uma cidade de importância indiscutível no cenário do Estado do Piauí, e ainda gozando na lembrança de muita gente a imagem de cidade rica, por conta da prosperidade gerada pelo gado em dias passados, Campo Maior não vivia mais seu melhor momento econômico na segunda década do século XX.

Diante de uma situação econômica difícil, Joaquim Bostoque seguiu em busca de dias melhores em União e permaneceu ali por um ano, talvez um pouco mais do que isso. Na ocasião de sua chegada, a cidade celebrava festejos católicos e havia grande movimentação de devotos. Pessoas de várias cidades frequentavam a festa. Aproveitando toda aquela movimentação, Joaquim decide ganhar dinheiro com seu talento de sapateiro e mestre no trabalho com couro. Era uma oportunidade de lucro rápido. Por volta de 1914 ou 1915, quando Joaquim Bostoque retornou para Campo Maior, ele já defendia a bandeira dos Batistas. Considerava-se a si mesmo um crente Batista, como lembra sua neta Iracema dos Santos. Segundo ela, em União, “o vovô foi alcançado pelo poder do evangelho de Jesus Cristo”.

A conversão e o discipulado de Joaquim Bostoque confundem-se em dois aspectos. Primeiro constatamos que ele teve contato com O Jornal Batista, periódico que os Batistas haviam lançado em 1901, no Rio de Janeiro, e que circulava na bagagem dos missionários por todo o Brasil. À medida que os missionários americanos encontravam alguém letrado, enquanto lhe ensinavam sobre as verdades da Bíblia, O Jornal Batista poderia ser utilizado como um instrumento de auxílio no ensino das doutrinas que o grupo defendia. É claro que nem todo mundo tinha acesso ao Jornal Batista, pois o grau de alfabetização ainda era muito reduzido. Mas um homem tão ávido pela cultura e pelo saber, não dispensaria a oportunidade de ler e aprender aquele jornal, principalmente sabendo que se tratava de algo tão importante para a sua vida.

Apesar de ser sapateiro, profissão pouco valorizada naquele período, Joaquim Bostoque era um homem letrado e culto, bastante instruído, versado sobre os mais diversos assuntos, algo difícil de se esperar de um sapateiro pobre naqueles dias. Shirley Ibiapina, neta de Joaquim, lembra que sua mãe sempre lhe contava: “O papai falava sobre todos os assuntos, e sabia falar. Ele era uma pessoa cheia de sabedoria e admirada na cidade”. O ir. Turuka, figura intelectual de Campo Maior, relembrando a vida de Joaquim Bostoque, afirmou: “este é o primeiro homem realmente evangelizado que conheci”. Joaquim, apesar de sapateiro, foi notoriamente reconhecido pelas personalidades mais ricas e instruídas de Campo Maior. Seu nome está presente na ata de lançamento da “pedra fundamental” da casa do Conselho Municipal de Campo Maior, em 1896. Em um convite promovido pela elite campo-maiorense e por personalidades reconhecidas pelo seu saber, encontramos o nome do sapateiro Joaquim Bostoque no meio de tantas figuras ilustres. Também é importante frisar que Joaquim Bostoque foi o fundador do Centro Operário de Campo Maior e seu primeiro presidente.

O período em que Joaquim estava em União, a trabalho, foi o mesmo período em que os missionários Batistas e alguns brasileiros já convertidos desciam do sul do Piauí para a evangelização da região Norte. Foi nesse ponto da história que aconteceu o encontro de Joaquim e os missionários Batistas. É muito provável que Joaquim tenha conhecido o pastor americano Adolpf J. Terry e sua esposa Luly Terry na cidade de União ou proximidades. Com eles estava o piauiense Teófilo Dantas, e sua irmã, convertidos no sul do Estado. Foi nessa ocasião que Joaquim teve acesso ao Jornal Batista e ouviu as primeiras mensagens sobre o evangelho, que transformariam sua vida para sempre.

Em Campo Maior, em 1915, os Batistas já contavam com uma família inteira que incansavelmente ensinava a Bíblia a seus vizinhos e amigos. Esta foi verdadeiramente a PRIMEIRA IGREJA BATISTA DE CAMPO MAIOR e a primeira igreja evangélica/protestante da cidade. Joaquim Bostoque foi o primeiro protestante de Campo Maior. Periodicamente cultos passaram a ser realizados na residência do sapateiro, tudo muito restrito à família e a algumas poucas pessoas que aceitavam os convites. A chegada dos Batistas também foi marcada por intensa perseguição religiosa, a maior parte promovida pelo padre Clarindo Lopes Ribeiro nos anos de 1918 e 1919. Sobre esse episódio, esclareço em detalhes em meu livro. Ainda na mesma década a presença dos missionários americanos foi constatada em cultos na residência de Joaquim, que na época era localizada nas proximidades do atual Mercado Público Central de Campo Maior.

Na década de 1940, com Joaquim Bostoque já falecido, sua filha Heroína Ibiapina assume o papel de liderança entre os Batistas de Campo Maior. Até o momento não havia templo para reunião do pequeno grupo, tudo acontecia nas residências ou em praças públicas. Uma nova leva de missionários americanos, residentes em Teresina, passou a fortalecer o trabalho na cidade de Campo Maior e um novo foco de perseguição se levantou, dessa vez promovida pelo padre Mateus Cortez Rufino, mas que logo foi abafada, tornando-se o padre, em seguida, um dos melhores amigos do pastor Moreira, o primeiro pastor Batista de Campo Maior. A pedido de Heroína Ibiapina, a Primeira Igreja Batista de Teresina passou a enviar um grupo de irmãos para pregar e dirigir os trabalhos em Campo Maior. Pregaram na cidade Lourival Parente, Merval Rosa e muitos outros nomes que mais tarde ganharam grande notoriedade no cenário piauiense. Em 1951, depois de já ter enfrentado quase 40 anos de dificuldades, foi fundada oficialmente a PRIMEIRA IGREJA BATISTA DE CAMPO MAIOR, que até hoje dá testemunho de Jesus Cristo na cidade. Portanto, os Batistas completaram 100 anos em Campo Maior, data que será celebrada em janeiro de 2015, em culto a Deus a ser realizado na PRIMEIRA IGREJA BATISTA REFORMADA EM CAMPO MAIOR.

Fonte: None

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