Maçonaria -

Maçonaria no outro lado do mundo

Resumo e comentários de José Narciso do Monte

O escritor e ativista maçônico Leon Zeldis (foto), Membro Fundador e Mestre Instalado da Loja Montefiore 78, da Grande Loja do Estado de Israel, escreveu um artigo intitulado “O FUTURO DA MAÇONARIA: DESAFIOS E RESPOSTAS”, ao perceber que a Instituição começava a dar sinais de declínio.

Publicação atualizadíssima.

                                                     (Leon Zeldis)

Podemos resumir o pensamento do autor em 6 capítulos:

1. A Erosão

2. A Aquisição

3. A Retenção

4. A Importância do Ritual

5. A Mulher na Maçonaria

6. Conclusão.

A EROSÃO

Nos círculos maçônicos através do mundo, particularmente nos países de língua inglesa, a questão do futuro da Ordem tornou-se um assunto urgente. Os últimos quinze anos foram marcados por uma gradual EROSÃO do número de maçons no mundo. Nos Estados Unidos, para dar um exemplo, dos anos 50 até o fim do século passado, os membros das 50 Grandes Lojas diminuíram em mais de quinze por cento. Esses números são motivos para uma séria reflexão. Algumas lojas tiveram que fechar, outras desapareceram.

Têm sido feito tentativas para se encontrar a causa dessa situação. Obviamente, há uma combinação de fatores. Alguns observadores alegam que isso é o retorno à dimensão normal da Fraternidade, depois da incomum expansão que teve lugar após a Segunda Guerra Mundial; outros pontos são as mudanças experimentadas pela sociedade no último século, e particularmente nas últimas décadas. Percebemos a influência da televisão e agora da internet, fazendo com que as pessoas fiquem mais sedentárias e menos gregárias.

Esta situação, que também é sentida no nosso país (Israel) e não parece ter o mesmo efeito em outras regiões do mundo, tais como a América Latina, França e Turquia.

Se quisermos mudar o curso da presente tendência, o problema tem que ser analisado sobre dois fatores igualmente importantes: Aquisição e Retenção.

N. da R. O autor fala sobre a ocorrência de EROSÃO na Maçonaria mundial. Ou seja, diminuição do número de maçons. A expressão erosão diz respeito ao envelhecimento dos quadros de obreiros, sem que haja a reposição na proporção das baixas. Cita a TV e a Internet como umas das causas do isolamento das pessoas, especialmente dos jovens, tornando-os mais sedentários e menos gregários. Desinteressados, portanto, na convivência em grupo.

No Brasil, e em toda a América Latina, o problema maior é o da EVASÃO dos iniciados. Em regra, o tempo de permanência média na Ordem fica em torno de 10 anos. Aqui, ainda existe a prática do ciclo de reposição, fator que minimiza a erosão.

Na ótica do autor o fenômeno reside na preocupação com a aquisição e a retenção dos neófitos nas Lojas.

A AQUISIÇÃO

A primeira questão é como tornar nossas lojas atrativas para as gerações jovens. A Aquisição é o primeiro passo fundamental.

O que podemos oferecer para um jovem de até 40 anos?

O que faria ele querer participar de uma loja?

Naturalmente, o convite de um amigo ou de um parente.

Talvez esta seja a mais comum fonte de recrutamento. Entretanto, está longe de ser a melhor.

Somos uma associação voluntária. Não fazemos publicidade e geralmente não pedimos as pessoas para se tornarem maçons.

Então, ao contrário do vendedor de mercadorias, que pode fazer propaganda e ofertas especiais, liquidações e queima de estoque, nós devemos oferecer alguma coisa interessante para que nosso “cliente” – aquele inocente provável candidato – sinta-se motivado para desejar o ingresso na Ordem, por sua própria vontade e escolha.

Então, pergunto novamente, o que podemos oferecer? Alguma coisa que seja única em nossa Organização, a qual não se pode encontrar no Rotary ou no Lyons ou num London Club.

Fraternidade? Sim, certamente. Mas esta existe em outros grupos. Fraternidade não é uma exclusividade maçônica.

O que nós temos de diferente dos outros é uma tradição esotérica. Uma tradição de ensinamentos por símbolos. Somos uma academia como nenhuma outra, com um currículo que traz junto a essência das melhores ideias filosóficas que orientaram a educação da civilização ocidental. E temos um segredo. Sim, o segredo da Maçonaria.

Agora eu vou revelar nosso segredo para que todos possam ouvir! Nosso segredo é: PODEMOS MELHORAR O MUNDO!

Precisamos simplesmente melhorar a nós próprios.

Se nós realmente quisermos, poderemos ser melhores. A nossa esperança é que se nós próprios nos tornarmos homens melhores, nossa família se torna melhor, o ambiente a nossa volta melhora e, eventualmente, a sociedade em geral se torna mais tolerante e um lugar mais iluminado para viver.

N. da R. – Em nosso meio é comum a gente falar em deficiência nos critérios de seleção de novos obreiros. Mas a questão não se encerra por aí. Vejam que o articulista questiona se as Lojas estão realmente preparadas para despertar o interesse do público jovem, no sentido de ingressar na Maçonaria. O que temos de interessantes para oferecer, como atrativo?

A RETENÇAO

Outra coisa, única em nossa organização, é que somos uma grande família, razão pela qual chamamos uns aos outros de irmãos. São incontáveis as histórias de como um maçom socorreu outro. Homens que se encontraram pela primeira vez, nas mais adversas circunstâncias, e que nunca mais vão se encontrar. Tais quais velhos amigos, ligaram-se através dos laços fraternos da Maçonaria.

Então, vamos supor que tivemos sucesso na aquisição de um novo irmão para a Ordem. Ele é jovem, inteligente e bem educado. Como posso mantê-lo na loja? Este é nosso segundo problema. A Retenção.

Vamos pensar no que podemos fazer.

Antes de qualquer coisa, vir para a loja deveria ser prazeroso. Deveria ser uma experiência prazerosa que você gostasse de repetir a cada semana, para se contentar novamente. Além da simples sociabilidade entre os irmãos, deveria ser uma estimulação mental. Faça disso uma ocasião para pensar, para trocar ideias, para ensinar e aprender. Há um velho ditado que diz que se duas pessoas têm um dólar cada uma, se elas os trocarem, cada uma delas permanecerá com um dólar. Mas, se cada uma tem uma ideia e se as trocarem, agora cada uma delas terá duas ideias.

Alguns dirão, não somos escritores ou estudantes, não temos tempo para fazer pesquisa ou para escrever artigos. Verdade, em parte. Tenho visto jovens muito ocupados em suas vidas profissionais, mas encontram tempo para fazer alguma coisa que gostam, como ir ao teatro, visitar livrarias, pesquisar material na internet, etc. e produzirem maravilhosos artigos. E se a loja não for capaz de produzir seu próprio material para discussão, há um mundo de literatura maçônica disponível para formulação de perguntas. Depois discuta. Converse com cada um. A conversa é a argamassa da amizade. São centenas de fontes de onde você pode receber interessantes materiais, próprios para leitura e discussão. A Loja deve ser um lugar para nos afastarmos das preocupações diárias, dos negócios e das ansiedades e devotar duas horas ao prazer, ao entretenimento e ao diálogo estimulante.

N. da R. – O problema reside no conteúdo das sessões, que, em regra, se tornam monótonas e entediantes, por carência de pautas mais objetivas e atraentes na área do conhecimento e da informação, tanto no campo da doutrina maçônica quanto da cidadania.

IMPORTÂNCIA DO RITUAL

Alguns de vós podeis estar perguntando por que eu não falei uma palavra sequer sobre ritual?

Você pode pensar: o ritual é o coração da Maçonaria.

Bem, não exatamente. Eu diria que o ritual é o esqueleto, a espinha dorsal da loja, sem a qual poderia desmoronar. Mas não é suficiente. Precisa de corpo e de sangue de participação ativa. Deixe-me perguntar, por que temos rituais em loja? Por que o Venerável Mestre não pode apenas bater o martelo e anunciar que a loja está aberta para os trabalhos?

Porque o tempo dispendido na ritualística da loja tem dois propósitos: o primeiro é nos lembrar de que a nossa loja não é simplesmente um clube ou uma reunião de conselho. Reunimo-nos num local consagrado, o Templo Maçônico, que simboliza o centro do universo.  O segundo propósito para o ritual é reservarmos um tempo para nos acalmar, para pararmos de pensar na desordem e nas batalhas sem trégua do mundo lá fora. A loja é uma ilha de paz, de reflexão e de relaxamento. A repetição exaustiva das palavras do ritual permite libertar nossa mente dos problemas diários, deixando-a pronta para o trabalho maçônico.

As instruções maçônicas não são, ou não são apenas, uma “decoreba” de uma série de perguntas e respostas, ou repetição do ritual até a perfeita expressão das palavras. Elas têm como finalidade conscientizar o Aprendiz ou o Companheiro da profundidade dos nossos símbolos, da nossa história, de nossas tradições, de nossas vitórias. Assim, esses irmãos sentirão orgulho de serem maçons.

É como ir à ópera pela primeira vez cantada em húngaro. Gostamos da música, mas não entendemos nada do que está escrito no libreto. Somente se viermos por uma segunda vez e havermos lido a tradução, conseguiremos entender completamente a expressão do drama clássico musical.

E as nossas encenações ritualísticas são muito mais velhas do que todas as óperas do mundo.

N. da R.- Ritual é um processo continuado de atividades organizadas cuja prática está relacionada a ritos, que envolvem cultos e doutrinas, encontrados não só na vida religiosa, mas em outras esferas de tradições culturais.

Trata-se da prática de uma série de normas e procedimentos com o objetivo de buscar uma interação dinâmica entre os seguidores de determinadas organizações fraternais.

É, portanto, uma ferramenta de conscientização, por repetição e não uma sequência de textos meramente decorativos e de gesticulações mecânicas.

A IMPORTÂNCIA DA MULHER NA MAÇONARIA

Agora venho com um assunto que até pouco tempo atrás foi um tabu em nossas lojas: a participação das mulheres na maçonaria. Nesse momento, o assunto está fora de questão.

Não podemos ignorar que as mulheres de hoje não são mais aquelas senhoras da literatura do século XIX, a fingir desmaios diante de uma simples emoção.

Elas são pessoas educadas e bem informadas. Muitas seguem carreiras de sucesso.

Se elas estão interessadas em Maçonaria, encoraje-as por todos os meios, conte a elas o que nós fazemos, consintamos que leiam nossa literatura. O que quer que tenha sido impresso não é mais segredo.

O importante é que devemos incorporar as mulheres, as nossas esposas, na vida da loja. As esposas dos maçons não devem se sentir do lado de fora.

Deixe-me lhes contar um exemplo de sucesso: com frequência, na minha própria loja realizamos jantares (a que chamamos de “mesas brancas”) juntamente com nossas esposas. Especialmente, depois de cada iniciação, nos asseguramos de que a esposa do candidato seja calorosamente recebida e isso a faz sentir-se bem-vinda.

Há, naturalmente, o banquete anual de instalação. E, comumente, a loja tem muitos encontros festivos antes da Páscoa, e no Dia da Independência. Uma vez por ano, apresentamos a cerimônia do Dia das Rosas. Uma vez por ano promovemos um fraternal fim de semana num hotel para a família inteira, incluindo um Seminário Maçônico na manhã de sábado, o qual tem melhorado ano após ano.   Irmãos! Temos conseguido fazer da loja um assunto de família.

A EXPERIÊNCIA EM OUTROS PAÍSES

A nossa experiência não é a única. Há duas semanas, recebi uma carta da Grande Loja do Sul da Austrália.

Eles fizeram um detalhado artigo intitulado “O Novo Milênio, Maçonaria e Mulher”. E quais foram as conclusões? exatamente o que descrevi, acrescentando outras recomendações interessantes, como a dispensa dos infindáveis discursos maçônicos e os exaustivos brindes  que sempre acontecem nas entregas de Diplomas ou de outras condecorações maçônicas, e minimizar as horas em loja a fim de que os homens não cheguem muito tarde em casa.

Entretanto, o mais interessante aspecto do artigo é a atitude positiva, refletida na proposta da participação feminina na Maçonaria, incluindo a recomendação de serem desenvolvidas políticas de relações com as mulheres, e formar o “Programa de Relações da Mulher com a Maçonaria”.

N. da R – A importância da participação das esposas dos maçons na Maçonaria é hoje uma realidade que transcende as nossas fronteiras. Não dá pra pensar mais em uma maçonaria pujante sem o impulso estimulante da mulher, o verdadeiro ornamento simbólico da Beleza na recreação. 

CONCLUSÃO

Comecei com um comentário que pode ter soado pessimista. Esta não é minha crença. Acredito que a Maçonaria, uma sociedade que existe há centenas de anos, sobreviverá por muito mais séculos porque preenche uma necessidade.

Sempre haverá Maçonaria em todos os países onde os homens são livres para pensar sobre eles mesmos, livres para se reunirem pacificamente para suas próprias alegrias e a melhoria da sociedade na qual vivem.

Isso me traz para o último assunto que eu quero abordar nessa oportunidade: a ação do maçom e da Maçonaria como um corpo, nos assuntos mundanos.

Nos últimos séculos, os maçons foram os líderes dos movimentos de libertação contra o colonialismo no século XIX. Foram os líderes contra a intolerância religiosa e o controle clerical em muitos países ao longo do século XX.

O trabalho então está finalizado? Vamos nós, os maçons do mundo de hoje, descansar sobre nossos lauréis, regozijarmo-nos repetidas vezes com as glórias do passado?

Há muito o que nós podemos fazer. O mundo está assediado pela moral perigosa do fanatismo e da superstição; assolado pela superpopulação; pelo esgotamento de recursos naturais; pela poluição, doenças e fome. Se nós procurarmos encontrar um denominador comum para a causa de todos esses males, com certeza encontraremos: a ignorância!

Por tudo isso a nossa futura contribuição deve ser focalizada principalmente na educação.

Acredito que os maçons têm coragem e encontrarão vontade para se levantarem e mostrar o caminho da luta contra a ignorância, a base de todos os males que ameaçam o futuro da raça humana.

Podemos começar agora, podemos começar aqui.

N. da R. – Que bom se a gente levasse todos esses assuntos para discutir na Ordem do Dia de nossas Loja?

 

(N. da R. – Nota da Redação)

 

 

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