Reportagem | 20 dias depois… -
Exclusivo: advogado inocenta jornalista Arimatéia Azevedo em interrogatório da polícia. Assista!
Por Rômulo Rocha
Blog Bastidores
Portal 180graus.com
Vídeos do depoimento do advogado Rony Samuel, que só agora foram anexados ao autos do inquérito no qual também figura como alvo o jornalista Arimatéia Azevedo, colunista do Portal AZ - com sede na capital Teresina (PI) -, evidenciam que o jovem de 27 anos disse categoricamente às autoridades policiais que o profissional de imprensa não sabia que as informações recebidas para serem publicadas na sua coluna jornalística diária seriam para que o membro da OAB, posteriormente, as usasse visando obter valores financeiros.
Rony Samuel foi alvo de mandado de prisão temporária, suspeito, assim como o jornalista, do crime de extorsão, mas não chegou a ser preso, foi apenas ouvido pela autoridade policial, teve apreendido o celular e foi liberado. Já Arimatéia Azevedo, alvo de mandado de prisão preventiva, está preso desde o último dia 7 de outubro, recolhido em cela especial da Penitenciária Irmão Guido, mesmo possuindo cormobidades. Entidades jornalísticas têm cobrado provas que justifiquem o encarceramento.
No seu depoimento à polícia, Rony Samuel é enfático em suas afirmativas e demonstra calma ao responder às perguntas que lhe são direcionadas pelo delegado de Polícia Civil Anchieta Nery.
“E o Arimatéia [Azevedo] sabia dessa tua situação com esse pessoal?”, indagou a autoridade policial.
“Não. Não. De forma alguma”, disse Rony Samuel.
“Ele não tinha conhecimento?”, voltou a questionar a autoridade policial.
“Não. Não sabia”, afirmou Rony, de forma aparentemente calma, em depoimento gravado.
O DEPOIMENTO EM QUATRO PARTES
Para se chegar às partes do depoimento expostas acima, o Blog Bastidores, do 180graus, disponibiliza todas elas em sua ordem cronológica, evidenciando uma fala aparentemente concatenada, em interrogatório conduzido pela própria autoridade policial.
A acusação que paira sobre o jornalista Arimatéia Azevedo é a de que ele teria usado a sua coluna política, no Portal AZ, uma das principais no estado do Piauí, para obter valores de um empresário do ramo de medicamentos, através de notas jornalísticas que foram enviadas para publicação pela fonte Rony Samuel.
Feito que para a polícia caracterizaria o crime de extorsão majorada, vez que o advogado acabou por exigir valores, como ele mesmo confessa e em face de print de posse da polícia que Rony Samuel não refuta.
O crime de extorsão majorada, pela letra da lei, é uma tipificação que dita: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa”, acrescida de: “Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade”.
Ocorre que Rony Samuel não afirma à autoridade policial que Arimatéia sabia que a coluna no Portal AZ estava sendo usada para que um terceiro obtivesse valores. Ao contrário, o depoimento do advogado inocenta o jornalista de qualquer prática criminosa.
Pelo que se infere do depoimento, Rony Samuel teria se aproveitado da relação de fonte com o jornalista para supostamente plantar informações na coluna política e assim colher os frutos desse ato.
Em seu depoimento o advogado disse que tinha ido longe demais, tentou recuar, mas já era tarde.
AO DEPOIMENTO_________________________
PARTE 1
Delegado Anchieta Nery: “É 7 de outubro, às 10 horas da manhã. A gente está na sede da Delegacia Regional de Floriano. Sou o delegado Anchieta Nery, na companhia do Agente de Polícia Eduardo Patrício, do delegado Rony, Regional de Floriano. A gente vai fazer o auto de qualificação e interrogatório do Dr. Rony Samuel nos autos do Inquérito Policial Nº 6314/2021”.
(...)
Delegado Anchieta Nery: “Rony, a gente vai te perguntar a partir de agora sobre os fatos relacionados a esse Inquérito 6314/2021. O crime é extorsão majorada, feita em associação, e a vítima seria o senhor Tiago Duarte, proprietário da empresa Saúde e Vida. Vou te perguntar diretamente sobre os fatos criminosos, sobre outros fatos que possam ter a ver com a situação, que possam auxiliar no esclarecimento. A partir de agora você pode ficar em silêncio sobre qualquer desses fatos. Você pode mentir. Ou você pode colaborar com a investigação e a instrução processual. É uma opção sua. Você pode me interromper a qualquer momento, retornar a um assunto passado a qualquer momento e acrescentar o que é que você ache devido. Eu queria que inicialmente você desenhasse qual era seu tipo de relacionamento com outro investigado que foi preso, senhor Arimatéia Azevedo.
Rony Samuel: Eu conheci o Arimatéia deve ter um oito… uns nove anos. Eu trabalhava com o deputado Paes Landim. Eles eram muito amigos e dessa amizade, do meu patrão com ele, eu passei a ter contatos telefônicos a fim de dar alguma nota ou informação. E esses contatos se tornaram uma amizade com ele.
Delegado Anchieta Nery:A partir de algum momento, você de alguma forma passou a contribuir com o portal de notícias dele?
Rony Samuel:Sim, sempre.
Delegado Anchieta Nery: Você chegava a redigir algumas notas?
Rony Samuel: Fazia notas, textos, matérias que fossem convenientes, tratando de política.
Delegado Anchieta Nery: O tema que tu tratava, eminentemente, era política?
Rony Samuel: Sempre política.
Delegado Anchieta Nery: Você fazia textos jornalísticos pro portal em si ou notas que eram publicadas na coluna dele.
Rony Samuel: As duas coisas.
(...)
Delegado Anchieta Nery:Ele te remunerava por isso?
Rony Samuel: Não era bem uma remuneração. Às vezes eu estava sem dinheiro, eu ligava para ele, ele mandava 100 reais, 200 reais. Não era condicionado a eu escrever e nem era em retribuição à escrita.
Delegado Anchieta Nery: Nos autos do inquérito aqui eventualmente tem diálogos seu com ele perguntando se tinha alguma coisa útil, se podia cair algo. E aí geralmente ele falava em valores de 200, de 100, de 300 reais, mas ele te passava isso para você…
PARTE 2
Delegado Anchieta Nery: … parceiro jornalístico?
Rony Samuel: Eu não vou dizer parceiro porque não tinha uma formalidade, nem tinha a regularidade. Era uma coisa esporádica, tanto a escrita como a remuneração, se a gente puder chamar assim.
Delegado Anchieta Nery: Rony, como é que aconteceu essa situação relacionada aí com a empresa Saúde e Vida? A publicação dessa nota, o diálogo seu com uma pessoa chamada Lamarque, que foi ouvido como testemunha. Como que isso aí surgiu?
Rony Samuel: Bem...o Lamarque é de Campo Alegre de Lourdes, na Bahia. Mas… na região de São Raimundo Nonato... trabalhava lá em Brasília também, especificamente no gabinete do senador Otton Alencar. Por sermos da mesma região, nós nos tornamos colegas. A questão da Saúde e Vida, eu fui procurado, vamos chamar de lobby, para resolver uma determinada situação na Secretaria de Saúde.
Delegado Anchieta Nery: Qual era a situação?
Rony Samuel: Era o pagamento de 499 mil reais do hospital Chagas Rodrigues, de Piripiri.
Delegado Anchieta Nery: Quem foi a pessoa que te procurou?
Rony Samuel: Quem me procurou foi o Rafael Alves.
Delegado Anchieta Nery:Esse Rafael Alves, qual a atividade profissional dele?
Rony Samuel: Ele tem loja de peças de carro.
Delegado Anchieta Nery: Qual o nome da loja dele?
Rony Samuel: Troca Certa.
Delegado Anchieta Nery: Qual a cidade? Teresina?
Rony Samuel: Teresina. Minha relação com ele é política também, porque ele foi candidato a prefeito lá em Anísio de Abreu no ano passado.
Delegado Anchieta Nery: Ok. Aí ele te procurou para você tentar viabilizar alguma coisa relacionada a esse processo de pagamento?
Rony Samuel: A esse pagamento.
Delegado Anchieta Nery:O pagamento da empresa Saúde e Vida.
Rony Samuel: Sim.
Delegado Anchieta Nery:Por que tu acredita que ele te procurou se a empresa dele é outra, não a Saúde e Vida. Quem teria acionado ele para te procurar?
Rony Samuel: Segundo ele me disse, ele foi acionado pelo Douglas, que ele era sócio da Saúde e Vida.
Delegado Anchieta Nery:Certo. Eles prometeram alguma coisa, acertaram alguma coisa de comissionamento caso esse processo rodasse?
Rony Samuel: Sim.
Delegado Anchieta Nery: Quem foi que acertou verbalmente isso aí?
Rony Samuel: Para mim o Rafael.
Delegado Anchieta Nery: Para você o Rafael. Você acredita que outra pessoa possa ter acertado para ele?
Rony Samuel: [Possa] ter acertado com outra pessoa.
Delegado Anchieta Nery: Essa outra pessoa, pelo que você viveu aí…
Rony Samuel: Sempre se referia ao Douglas.
Delegado Anchieta Nery:Então quem tratava com ele na Saúde e Vida era o Douglas?
Rony Samuel: Era o Douglas.
Delegado Anchieta Nery: E aí o processo rodou bem?
Rony Samuel: Sim, rodou.
Delegado Anchieta Nery: Foi feito pagamento?
Rony Samuel: Foi feito pagamento.
Delegado Anchieta Nery: E aí o que aconteceu em seguida?
Rony Samuel: depois que foi feito o pagamento o pessoal sumiu, tanto o Rafael como… o Rafael… eu não vou falar dos outros porque eu não tinha contato nenhum com os outros. Aí eu fiquei insistindo por alguns dias, atrás. Porque eu tinha feito o meu trabalho, apesar de não ser uma coisa formal. E de certa maneira eles ficavam se esquivando e não apareceu. E aí foi quando eu pensei na fórmula de tentar pressionar...
PARTE 3
Rony Samuel: … de alguma maneira.
Delegado Anchieta Nery: Essa situação que tu conseguiu viabilizar esse pagamento na Secretaria de Saúde por meio do contato com uma pessoa... Essa pessoa seria a tua ex-mulher?
Roney Samuel: Não.
Delegado Anchieta Nery: Outra pessoa?
Rony Samuel: Outra pessoa.
Delegado Anchieta Nery:Você quer declinar quem seria essa outra pessoa?
Rony Samuel: Não. Prefiro não falar.
Delegado Anchieta Nery:E aí que então viu que o acordado não tava saindo, você deve, talvez, ter sido cobrado por essa pessoa...
Rony Samuel:Sim.
Delegado Anchieta Nery: E pensou de fazer essa publicação?
Rony Samuel: Até porque eu não tinha contato com quem tava lá na ponta, que eram os proprietários da empresa.
Delegado Anchieta Nery: Aí teu objetivo era chamar atenção dessas pessoas?
Rony Samuel:Uma maneira.
Delegado Anchieta Nery: E você enviou essa nota para ser publicada onde?
Rony Samuel: Na coluna do Arimatéia Azevedo, no Portal AZ.
Delegado Anchieta Nery: Pra você, de antes da prisão dele [prisão do jornalista Arimatéia Azevedo, ocorrida em junho de 2020] e mesmo após a prisão em 2020, e eu digo não só você, mas é uma verdade sabida, que eventualmente ele usava essa coluna para praticar extorsão?
Rony Samuel: É o que as pessoas falam.
Delegado Anchieta Nery: Você sabia disso?
Rony Samuel: Eu nunca vi, doutor. Eu não posso lhe dizer porque não presenciei.
Delegado Anchieta Nery: E aí foi publicada a nota na coluna?
Rony Samuel? Sim.
Delegado Anchieta Nery: O que aconteceu logo depois?
Rony Samuel:No dia seguinte o senhor Tiago me ligou, falou no telefone, tava bem alterado, que ia me achar, que iria quebrar minha cara. Aí eu pensei que tinha parado por aí. Também resolvi recuar. Achei que tinha dado um passo além do que poderia, e com certeza isso fechava muitas portas para mim também porque… Aí eu resolvi recuar, mas já era tarde, ele já tinha denunciado. Depois eu até encontrei ele, uns quatro, cinco dias depois, tentei o diálogo, mas ele recuou.
Delegado Anchieta Nery: O Tiago é o proprietário da empresa?
Rony Samuel? Sim.
Delegado Anchieta Nery: Tu acha que quem alertou ele, essa história da nota.... Porque você enviou mensagem para o Lamarque...
Rony Samuel: O Lamarque estava tentando resolver a situação.
Delegado Anchieta Nery: Então antes de publicar a nota tu procurou o Lamarque?
Rony Samuel: Eu entrei em contato com o Lamarque porque eu sabia da relação dele com o Tiago, já que eu não tinha relação nenhuma com o Tiago.
Delegado Anchieta Nery:Aí o Lamarque pediu para aguardar, para ter uma paciência. Quando a paciência esgotou a nota foi publicada?
Rony Samuel:Sim.
Delegado Anchieta Nery:Aí tu enviou um print da nota para o Lamarque, seguido da frase: ‘se ele não terminar de pagar o Rafael vai ser uma nota por dia até sexta-feira’... ? Esse Rafael quem seria?
Rony Samuel: Rafael é a pessoa que me procurou. O intermediário.
Delegado Anchieta Nery: Que é o que foi candidato a prefeito em..?
Rony Samuel: Anísio de Abreu.
ÚLTIMA PARTE DO DEPOIMENTO:
Delegado Anchieta Nery: E aí logo após o Tiago te ligou?
Rony Samuel:O Tiago me ligou. Acredito que na hora que o Lamarque mandou a nota para ele. Ligou possesso, disse que ia me pegar e foi a hora que eu vi que eu tinha extrapolado, que eu não podia estar fazendo essa cobrança dele, até porque eu não tinha acerto nenhum com ele. Foi a hora que eu tentei recuar.
Delegado Anchieta Nery: E o Arimatéia sabia dessa tua situação com esse pessoal?
Rony Samuel: Não. Não. De forma alguma.
Delegado Anchieta Nery: Ele não tinha conhecimento?
Rony Samuel: Não. Não sabia.
Delegado Anchieta Nery: Tu tem algum conhecimento ou ouviu dele alguma vez uma situação relacionada à vítima Jadyel Alencar.
Rony Samuel: Nas rodas de conversas sempre falavam porque ele fazia algumas denúncias na coluna sobre isso. E num determinado momento ele chegou a falar que foi procurado pelo senhor Jadyel para fazer pesquisa, porque ele tinha instituto de pesquisa, ou publicidade na empresa a fim de amenizar essas pancadas.
Delegado Anchieta Nery: Foi isso que ele te falou?
Rony Samuel: Sim.
Delegado Anchieta Nery:Ele quem?
Rony Samuel: O Arimatéia. Eu não conheço o Jadyel.
Delegado Anchieta Nery: Tu lembra em que época ele possa ter te falado isso?
Rony Samuel: Poucos antes da pandemia.
Delegado Anchieta Nery: Pouco antes da pandemia. Tava dando umas pancadas e o cara procurou para tentar fazer uma parceria comercial…
Rony Samuel: Sim.
Delegado Anchieta Nery: … para amenizar essas pancadas?
Rony Samuel: [Sinal positivo com a cabeça].
Delegado Anchieta Nery: Tem algo mais que tu se recorde sobre esses fatos que você acredite ser interessante em compartilhar aqui conosco?
Rony Samuel: Não. Foi estritamente isso que aconteceu.