Cuidados em excesso -

Saudismo e a nova eugenia

Sem a menor dúvida, a medicina preventiva é a chave para prevenir muitas doenças, manter a qualidade de vida e ainda pode economizar uma grande quantidade de recursos para as famílias e o Estado.

Mas, conforme coloca a Dra Evgenia Golman e seus colegas da Universidade Nacional de Pesquisas da Rússia, se o cálculo de risco das doenças e a idealização da beleza e de padrões do corpo são compreendidos de forma inadequada, de uma forma puramente comercial, isso pode levar à neurose de massa e a uma obsessão social, que os especialista já denominaram de "saudismo", ou seja, uma ideia imperativa de comportamento, uma quase obsessão com a autopreservação.

Isto leva a um acompanhamento vigilante da saúde, no lado benéfico, mas também leva ao extremo, com tentativas de impedir até mesmo doenças hipotéticas, o que inclui até mesmo cirurgias em um corpo saudável.

Um exemplo que se tornou bem conhecido mundialmente deste comportamento, foi o da atriz Angelina Jolie, que passou por uma mastectomia preventiva, por possuir genes que apontavam para um “risco” da mesma vir a desenvolver um câncer de mama.

Este modo de encarar o bem-estar, além de criticar tudo o que não se enquadra em normas glamourosas de um corpo bonito, jovem e magro, preconiza uma modalidade de "medicina preventiva" que pouco tem a ver com benefícios reais para as pessoas.

Em suas formas extremas, o saudismo se aproxima da eugenia, diz a pesquisadora, referindo-se à busca por uma hereditariedade "correta". Mas até mesmo preocupações simples sobre os padrões de condição física podem provocar comportamentos de "hipercorreção", ou seja, exageros na busca por ficar bem.

Nova genética e eugenia

É nesse ponto que a pesquisadora alerta que o saudismo pode se aproximar ainda mais da tão temida e banida eugenia, a busca por raças mais saudáveis, como no caso da eugenia nazista, que proclamava a superioridade da raça ariana, e hoje aponta para a manipulação genética em busca de "bebês saudáveis".

Segundo a pesquisadora, "o problema é que a medicina está sob a ameaça de mudar seu foco de um 'papel terapêutico' para eliminar o que ela não consegue curar," diz ela, citando David Le Breton, um sociólogo e antropólogo francês que tem criticado essa "nova genética".

O desenvolvimento da "nova genética" também abre a possibilidade da manipulação de "maus genes" responsáveis por determinadas doenças, prometendo excluí-los do DNA no futuro, diz a Dra Evgenia Golman.

Sabedoria social

A equipe conclui que é necessário incorporar uma "sabedoria social" ao discurso de saúde, sendo necessário estudar os efeitos controversos de tais ideias e promessas, destacando-se o elevado risco de que a propaganda de um "estilo de vida saudável" influencie negativamente os grupos demográficos socialmente mais vulneráveis, que passarão a ser discriminados por não se adequar ao novo modismo.

Fonte: Com informações do NRUHSE e Diário da Saúde

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