Terceiro menor índice -

Brasileiro-2021 tem menos trocas de técnicos, mas está distante de Europa

A regra que limita a troca de treinadores no Campeonato Brasileiro parece já trazer efeitos na gestão dos clubes neste ano. Segundo levantamento do jornal Folha de S.Paulo, ao comparar o atual momento do torneio com as últimas dez edições, o Nacional de 2021 tem o terceiro menor índice de mudança de técnicos.

Caso um time demita o treinador que começou a competição, poderá contratar apenas mais um profissional para o cargo. Se mandar um segundo técnico embora ao longo do campeonato, precisará pôr no lugar alguém que já seja funcionário do clube há pelo menos seis meses.

Houve 13 alterações de comando após 193 jogos da competição deste ano –contando os jogos até a última sexta (17). No comparativo, foram considerados todos os técnicos que dirigiram algum time por três jogos ou mais ou se o treinador iniciou ou terminou a competição no comando do clube.

O levantamento não fez a divisão por rodadas pelo grande número de partidas atrasadas em 2021 e em outras edições da competição.

Dos 20 times que disputam o Brasileiro, 12 já mudaram de treinador: América-MG, Athletico, Bahia, Ceará, Chapecoense, Cuiabá, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Santos e Sport.

O time do Mato Grosso iniciou o torneio com Alberto Valentim, que foi demitido na primeira rodada, depois foi treinado pelo auxiliar Luiz Fernando Iubel, interino por cinco jogos, e agora tem Jorginho como comandante. Para efeito estatístico, Iubel é contabilizado por ter feito mais de três jogos, mas o clube não estoura o limite da regra com ele.

Com a mesma quantidade de jogos em 2020, 17 treinadores já haviam sido trocados. Até o Flamengo, que foi o bicampeão, substituiu seu comandante antes do fim do torneio: saiu o espanhol Domènec Torrent e entrou Rogério Ceni.

Para especialistas em gestão e negócios do esporte, a nova regra obriga os times a evoluir na questão administrativa.

"Vai forçar os clubes a planejarem melhor o tipo de treinador que querem", analisa Ary Rocco Júnior, diretor de relações institucionais da Abragesp (Associação Brasileira de Gestão do Esporte) e professor da EEFE (Escola de Educação Física e Esporte da USP).

"Esse planejamento vai obrigar os clubes a contratar melhor. Ou vão ter que conviver com uma decisão errada por mais tempo", acrescentou.

De fato, o impacto maior da mudança deverá ser visto nas últimas rodadas, quando, por causa da ameaça de rebaixamento, os times tendem a trocar de comandante em busca de uma solução de emergência. Para este ano, mais da metade dos times não poderá mais usar essa estratégia.

A limitação das trocas pode trazer impactos importantes inclusive nas finanças dos times brasileiros. Cesar Grafietti, consultor de finanças do esporte do Itaú BBA, lembra que os clubes, muitas vezes, usam um treinador, mas pagam salário de quatro.

"Como fazem muitas trocas, os times ficam pagando salário ou multa rescisória de mais dois ou três profissionais. Usam um [técnico] e pagam quatro", exemplifica.

"Falta acreditar em um projeto. Quando o Liverpool contratou o Klopp, usou uma série de análises estatísticas do Borussia Dortmund [antigo clube do treinador].

Tinham uma ideia do elenco que queriam montar. Mesmo assim, deram um tempo monstruoso para que ele aplicasse seus conceitos. No Brasil, isso é impensável", afirma.

Rocco Júnior, por outro lado, critica a falta de planejamento dos clubes brasileiros na contratação do treinador.

"Em mesma temporada, contratam treinadores com perfis completamente diferentes. O Fernando Diniz tinha uma ideia de jogo. Aí o Santos o demite e contrata o Fábio Carille, que pensa diferente. Não são decisões pensadas. Buscam apenas dar uma resposta rápida ao torcedor", comenta.

Quem assume no meio do campeonato admite o problema de pegar o bonde andando.

"Tenho uma forma de pensar futebol, de jogar. É claro que é muito pouco [tempo]. Com o dia a dia a gente vai melhorar e chegar mais perto do que penso", afirmou Carille, logo após assumir o Santos.

Tiago Nunes, que estreou no Ceará com derrota de 2 a 0 para o Grêmio, também vai nesta linha. "O principal ponto é encontrar um equilíbrio para darmos continuidade a bons comportamentos que já existiam e aos poucos ir agregando algumas questões táticas e conceituais para que o Ceará possa ser mais competitivo", analisou o técnico, que substituiu Guto Ferreira.

Mesmo com a queda nas demissões, o Brasileiro não se compara às grandes ligas europeias.

Na temporada 2020/21 da Premier League, houve apenas uma mudança de comando decorridos os primeiros 193 jogos do torneio (0,05 demissão por clube) –20 equipes disputam a competição.

O West Bromwich demitiu o croata Slaven Bilic e contratou o britânico Sam Allardyce. O time ficou em penúltimo e foi rebaixado. Até o final do campeonato só mais três clubes trocaram de técnico: Chelsea, Sheffield United e Tottenham.

Nas outras ligas fortes da Europa, os números são semelhantes. Até esse momento da competição, os campeonatos alemão e francês tinham 0,3 troca de comando por clube. Já o Espanhol e o Italiano estavam com 0,2. França, Espanha e Itália têm 20 clubes na primeira divisão. A Bundesliga alemã conta com 18 times.

"É uma questão cultural. Muitas vezes, o time está patinando na tabela e não mudam. No ano passado, o Paulo Fonseca não estava dando certo na Roma e foi até o fim da temporada. A diretoria já tinha contratado o Mourinho e não quis fazer uma troca no meio do campeonato", exemplifica Grafietti.

A exceção entre ligas nacionais europeias é a Turquia. Na última edição do campeonato nacional, após 193 jogos, 16 treinadores já haviam sido substituídos. O índice de 0,76 por equipe é superior inclusive ao do Brasileiro atual (0,65 mudança por time).

"O futebol turco é muito parecido com o brasileiro neste aspecto. Há muita paixão envolvida e dirigentes amadores", afirma o Grafietti.

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