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“Político é um alvo fácil para o humor”, diz Danilo Gentili

Danilo Gentili, 29, repórter do “CQC”, da Band, só teve o que comemorar em 2008 (ao menos profissionalmente): o comediante ganhou notoriedade como um dos membros mais engraçados e reconhecidos do programa e viu seus tradicionais shows de stand-up comedy lotarem sessões onde quer que fossem realizados.

Seu primeiro personagem no “CQC”, o Repórter Inexperiente, não durou muito porque a popularidade do programa o transformou em celebridade reconhecida nas ruas, condição que hoje parece incomodá-lo: “As pessoas não entendem até onde vai seu trabalho”, desabafou o humorista em entrevista ao Abril.com. Depois disso, Gentili passou a atuar “como ele mesmo”, encurralando políticos e famosos com perguntas desconcertantes.

Em 2009, com a estreia da segunda temporada do programa (que aconteceu na última segunda-feira, 9), Gentili segue esse mesmo caminho ao comandar o novo quadro “Controle de Qualidade”, em que faz perguntas de respostas relativamente simples e conhecidas a políticos brasileiros, expondo o despreparo de muitos deles. “O humor é feito de exagero, contradição, e todo ser humano exagera, se contradiz. Os que estão na política, como estão no topo, ficam mais evidentes. Político, então, é um alvo fácil para o humor”, explicou. Confira a íntegra da entrevista com o humorista:


Abril.com -O Repórter Inexperiente durou relativamente pouco porque o programa estourou. As pessoas te reconheciam, então era impossível seguir com o personagem. Foi difícil se livrar dele?
Danilo - Não foi nada difícil, não. O público soube dividir bem. “Ah, ele era o Repórter Inexperiente e agora não é mais”. E eu não fiquei nem um pouco apegado ao personagem, porque já fazia humor antes disso. Uma parte do público já me conhecia da comédia stand-up, sabia que ali no “CQC” eu estava fazendo mais um papel. Logo depois do Repórter Inexperiente, comecei a fazer matérias na rua, com outro tom, era eu mesmo. Foi muito simples dividir uma coisa da outra.

Depois do “CQC”, suponho que a procura por seus shows de comédia stand-up tenha aumentado, o que é natural, porque você ganhou mais exposição. Como tem sido fazer shows depois do “CQC”?
A televisão realmente deu mais exposição. E isso tem um lado bom e um lado ruim. O lado bom é que, como sou mais conhecido, encho mais sessões. Antes eu enchia duas sessões de teatro, agora encho três, quatro. O lado ruim é que tem gente que é muito chata, cara! Você está comendo e o sujeito vem e senta no colo, quer tirar foto... É uma falta de limites. As pessoas não entendem até onde vai seu trabalho...

As pessoas tentam ser engraçadas com você pelo fato de você ser humorista? Chegam fazendo piadas?
Sim. E fazem coisas que eles não percebem que vão justamente contra o que a gente fala sobre o mundo das celebridades. O público que gosta quando a gente mete o pau nos famosos é o público que trata a gente como celebridade.

O que você faz quando isso acontece?
Eu falo: “Quer tirar foto, tira aí. Tirou? Beleza”. Se não tirar, melhor (risos).

Como tem sido gravar o “Controle de Qualidade” em Brasília? No primeiro quadro, exibido na última segunda-feira (9), a quantidade de políticos que não sabia onde fica a prisão de Guantánamo (Cuba) era espantosa.
Cara, tem de tudo. Claro que quem vai para o ar é quem erra. Mas tem os que sabem tudo e os que não sabem nada. As perguntas são do tipo que qualquer um sabe a resposta. Quem está em casa provavelmente sabe. A graça está aí, de o espectador pensar: “O cara não sabe e eu sei, p*** merda!”.

Desde o começo, o “CQC” aposta em quadros com políticos para se diferenciar de outros programas humorísticos brasileiros. Você acha que política é a melhor fonte de humor no Brasil?
Acho que não só no Brasil, mas no mundo. O humor é feito de exagero, contradição, e todo ser humano exagera, se contradiz, escorrega. E os que estão na política, como estão no topo, ficam mais evidentes. Político, então, é um alvo fácil pra humor.

Paulo Maluf quase virou um personagem do programa, tendo aparecido em diversas edições, inclusive na estreia da segunda temporada. E ele parece ter jogo de cintura, sempre consegue sair por cima das provocações que vocês fazem. Vocês não têm medo de virarem “escada” para ele, já que ele sempre tem uma tirada na manga?
Nada, não, de jeito nenhum. Acho que o Maluf hoje é assim, mas nos anos 80 ele não era, não. Acho que isso é qualidade de cachorro morto, de um cara que não aparece tanto hoje e não se leva tão a sério. Ele não está tão em evidência, então acho que ele está mais livre para brincar, aparecer.

Vocês pretendem voltar a falar com ele sempre que puderem?
Sempre que tiver uma oportunidade pra fazer uma boa pergunta, seja pra ele ou pra outra pessoa, com certeza. Se tiver a oportunidade, até com o (José) Genoíno (PT), que nunca responde as perguntas.

Em entrevista para o jornal Estado de S. Paulo, Cláudio Manoel, do “Casseta & Planeta”, disse: “Essa história de cercar os caras em Brasília já era. Acaba dando cartaz pra eles, tornando funcionários públicos celebridades”. Ele ainda afirmou que vai deixar isso para o CQC. Você concorda com ele?
Ah, eles acham isso... (assume um tom irônico) Bom, se eles acham isso, tudo bem, mas perceberam tarde demais. Estão há vinte anos no ar, poderiam ter percebido antes. Fico feliz de deixarem a política pra gente (risos).

Fonte: Abril.com.br

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