Caso ganhou repercussão -

Professora transexual do Piauí comenta voto que deu a Bolsonaro; foi alvo de ofensas

A professora piauiense Danny Barradas causou furor nas redes sociais este final de semana ao declarar seu voto para Jair Bolsonaro (PSL), agora presidente eleito.

Transexual, ela se tornou uma referência pelo seu conhecimento literário e é professora nas melhores escolas particulares do estado, mas a opção de publicizar seu voto gerou a revolta em muitos eleitores do candidato derrotado Fernando Haddad (PT).

Confira a seguir o primeiro texto da professora:

Finalmente, amores da titia Danny, após tantas súplicas para que eu expusesse em quem votaria, tomei uma decisão: #bolsonaro2018
Mais tarde eu publico um texto tecendo as devidas explicações acerca de uma deliberação tão estranha: uma trans que vota no titio Bôbô!

Não tenho a mínima pretensão de convencê-los, porquanto o comediógrafo grego Aristófanes, há 2.400 anos, já me adestrara com sua perspicaz obra "Pluto": "MESMO SE ME CONVENCERES, NÃO ME CONVENCERÁS".
Aguardem...

Nos comentários, Danny foi chamada de hipócrita e muitos internautas disseram estar decepcionados com ela, além de ofensas proferidas em outras postagens.

Já neste domingo, ela publicou um novo texto para falar sobre a repercussão do caso:

A DESTRUIÇÃO DA DEMOCRACIA APÓS A CONJURAÇÃO DA AVADA KEDAVRA POR DANNY BARRADAS

Terminei meu curso na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts em 1832. Lá aprendi inúmeros feitiços. Descobri quais aqueles poderia usar em ocasiões especiais; já outros...

Nos livros de feitiçaria, é-nos ensinado que existem três Maldições Imperdoáveis: IMPÉRIO, CRUCIATUS e AVADA KEDAVRA. Esta é conhecida por matar uma pessoa INSTANTANEAMENTE e sem ferimentos. No mundo mágico, não há contrafeitiço para tão poderosa arma. Tal instrumento, denominado de “Maldição Mortal”, significa EU VOU DESTRUIR ENQUANTO FALO...

Ontem ocorreu algo interessante. Decidi deixar a suposta neutralidade -- que tantos criticavam – de lado, dando azo a que chegassem ao meu assento no Olimpo tantos frutos conspurcados pela decepção. A Literatura outorgou-me um benefício divino: conhecer a natureza humana. Perguntaram-me: “Tia Danny, a senhora viu como estão execrando sua figura nas redes sociais? Cabe até processo...” Imaginem... Eu despender o meu precioso tempo – outorgado pelos meus pares com o fito de realizar o tão sonhado PhD aqui no Orbe Azul – em litígios (judiciais) com humanos. Quando compreendemos os limites de outrem, não conseguimos desenvolver nenhuma espécie de rancor ou de vingança – aqui homenageio um dos textos mais importantes que já li em minha vida: “ideias de canário”, do Mestre Machado de Assis; LEIAM! Vale muito para nossa alma. Minha natureza só admite que eu sinta compaixão. Nada do que presenciara nos comentários me assustou. Faz parte da essência dos terráqueos buscar outros espelhos. Oscar Wilde, num livrinho curtinho chamado “A alma do homem sob o socialismo”, trouxe-nos uma da mais avantajadas definições sobre o egoísmo. Ensina-nos: "Uma rosa vermelha não é egoísta por querer ser uma rosa vermelha. Mas seria terrivelmente egoísta se quisesse que as demais flores do jardim fossem tanto rosas quanto vermelhas." Não interessa se a liberdade de expressão de alguém é utilizada para albergar o direito de ofensa: você gostando ou não, defendendo ou não, se ela acredita (de fato) naquilo, ela vai proferir impropérios contra aquilo que ela não gosta, assumindo sempre o risco de ser alvejada pelas normas do Código Penal – porquanto nosso texto maior prega, no art. V, inc. IV : “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. O primeiro controle feito pelo STF (que conheço) acerca de tema tão básico de uma democracia ocorreu em 2003, quando julgou (em 17/09) o HC 82.424 de Siegfried Ellwanger. Porém, tal princípio continua intacto na Lei Maior, podendo ser mitigado ou ampliado dependendo da condição solipsista – o célebre “decido conforme minha consciência” proposto pelo constitucionalista Lenio Streck -- do julgador de determinado processo. Quando incito os alunos a discutirem sobre liberdade de expressão, tento mostrar-lhes aquilo que o jusfilósofo norte-americano Ronald Dworkin escreveu em 2006: “ninguém tem o direito de NÃO ser ridicularizado”. Uma saída adequada? Controlar as opiniões do povo. Assim a balança começa a tender para...

Voltando ao mundo fantástico... Neste momento, a diferença entre Gugu Dadá e titio Bôbô é de 10.764.740 votos. O argumento básico utilizado pelos que discordam de mim é que, por eu ser “influente” no meio dos alunos e na cidade em que vivo, além de ser uma pertencente ao grupo LGBT, eu não poderia ajudar a eleger um fascita que, provavelmente, irá me transformar em pó. Vamos lá processar tal informação. Vocês acham mesmo, sinceramente, que eu, uma simples ameba teresinense, um dia antes da escolha do novo presidente do Brasil, teria força para, expondo um apoio ao Haddad, tirar mais de dez milhões setecentos e sessenta e quatro mil e setecentos e quarenta votos do Bolsonaro? Pelo que pude analisar em meu Instagram, a publicação de ontem alcançou míseras 10.389 contas, sendo que 43% é composto por pessoas que não me seguem; vale dizer: 4.467 pessoas que não me seguiam tiveram a curiosidade de perderem o seu tempo olhando algo de minha conta. Somado aos 7.395 seguidores, dá um total de 11.862 pessoas. Vamos levar em consideração só este número. Caso eu fosse uma Deusa, aliás, uma exímia Bruxa de Hogwarts, desejosa por dilapidar o regime democrático – que já acabou, viu? Mas até ontem ninguém sabia do resultado – eu teria que manejar o conhecido feitiço AVADA KEDAVRA para destruir a democracia. Para muitos, expor que eu voto no Bolsonaro ostenta o condão de concretizar qualquer coisa que eu anele – no caso, destruir a democracia e alçá-lo ao maior cargo do Executivo. O post de ontem é como se eu estivesse proferindo “EU VOU DESTRUIR ENQUANTO FALO” – Avada Kedavra, em aramaico –, porquanto basta um infantil “abracadabra” para surgir algo que eu deseje. Apenas os bruxos do Mal são capazes de proferir tais palavras, já que é proibido, tendo por pena prisão perpétua em Azkaban.

Lancei uma Maldição Imperdoável. Imperdoável é minha conduta perante os meus juízes. E se eu não estivesse testando os meus algozes? “PERDOAI-OS, PAI, PORQUE ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM”.

Boa noite, meus amores. Independente do teor dos comentários, continuo a nutrir o mesmo sentimento de carinho por aqueles – sobretudo alunos e ex-alunos – que se decepcionaram com minha decisão. Fiquem bem!

 

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