
Entenda o impacto do “tarifaço” dos EUA sobre aço e alumínio na economia brasileira
Desde a meia-noite de quarta-feira (12/03), entrou em vigor uma taxa de 25% sobre as importações de aço e alumínio pelos Estados Unidos. Essa medida impacta diretamente o Brasil, um dos principais fornecedores desses materiais para os norte-americanos.

Em um comunicado, o porta-voz da Casa Branca declarou que a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, anunciada no início de fevereiro, se aplica a “o Canadá e todos os nossos outros parceiros comerciais” a partir das primeiras horas de quarta-feira.
Desde o anúncio em fevereiro, a medida já vinha gerando efeitos nas expectativas dos investidores brasileiros.
Entenda
De acordo com dados do Departamento do Comércio dos EUA, aproximadamente 25% do aço e 50% do alumínio utilizados no país são importados. O Brasil é o segundo maior fornecedor dos EUA, ficando atrás apenas do Canadá. Em 2024, o Brasil vendeu pouco mais de 4 milhões de toneladas de aço para os EUA, representando 15,5% do total importado pelo país, com um valor de US$ 2,9 bilhões.
Embora o principal alvo das tarifas seja a China, o “tarifaço” de Trump deve afetar fortemente a indústria siderúrgica brasileira, que precisará redirecionar suas exportações para outros mercados ou reduzir a produção, com riscos de perda de empregos.
Para a economia brasileira, a redução das exportações pode diminuir a circulação de dólares no país, levando a uma desvalorização do real em relação ao dólar.
Ações do Setor Siderúrgico
As tarifas norte-americanas podem afetar significativamente as ações das empresas do setor siderúrgico. Especialistas preveem que, inicialmente, o preço global do aço caia devido ao excesso de oferta, para depois se estabilizar.
Segundo o Instituto Aço Brasil, os EUA absorveram cerca de 60% das exportações de produtos siderúrgicos do Brasil no ano passado. O “tarifaço” deve dificultar ainda mais a realocação das exportações para outros mercados.
Analistas destacam que as ações da Usiminas (USIM5) e da CSN (CSNA3) estão entre as mais afetadas, devido à sua forte presença no mercado brasileiro. A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do Grupo Votorantim, também deve sentir os impactos, já que exporta grande parte de sua produção para os EUA.
A Vale (VALE3) pode ser impactada indiretamente, com a possível redução da demanda por minério de ferro devido à queda na produção de aço no Brasil.
Uma exceção é a Gerdau (GBBR4), que produz aço dentro dos EUA e, portanto, não será taxada. Além disso, a empresa pode se beneficiar com o aumento dos preços do aço no mercado norte-americano.
Agronegócio
O setor agrícola brasileiro também pode ser afetado, já que o aço é uma matéria-prima essencial para a fabricação de máquinas agrícolas. Em 2024, o Brasil produziu 33,7 milhões de toneladas de aço bruto, exportando 9,6 milhões de toneladas, o que representou US$ 7,7 bilhões.
Os EUA foram o principal destino do aço brasileiro, com 5,8 milhões de toneladas, seguidos pela União Europeia, com 681 mil toneladas.
Segundo João Daronco, analista da Suno Research, os impactos no agronegócio devem ser mais localizados, afetando principalmente empresas que exportam mais para os EUA. Ele também vê oportunidades para o Brasil aprofundar relações comerciais com a China.
Hugo Queiroz, da L4 Capital, minimiza os efeitos negativos, destacando que a maior parte do aço usado em equipamentos agrícolas é produzido no Brasil, o que pode até reduzir os preços internos.
Indústria
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) lamentou a decisão dos EUA, afirmando que o Brasil não representa uma ameaça comercial. A entidade destacou que as relações comerciais entre os dois países são sólidas e que espera uma solução rápida baseada nas regras internacionais de comércio.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também expressou preocupação, afirmando que a medida é prejudicial para ambos os países e que buscará diálogo para reverter a decisão.
Fonte: Metrópoles