
Governo aposta em supersafra para conter inflação, mas clima pode atrapalhar previsões
Diante do aumento dos preços dos alimentos no Brasil, ministros do governo Lula (PT) depositam suas esperanças na “supersafra” agrícola projetada para 2025. Segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção deste ano deve alcançar um crescimento recorde de 8,3% em relação à safra anterior, totalizando 322,47 milhões de toneladas de grãos, com destaque para soja e milho — um acréscimo de 24,62 milhões de toneladas.
No entanto, o governo parece não levar plenamente em consideração os desafios climáticos, como os eventos extremos registrados em 2024, que podem comprometer a produção agrícola.
Na quarta-feira (5/2), ao ser questionado sobre os impactos do clima na safra, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, reconheceu que questões climáticas “sempre” afetam o setor. “Veja o que aconteceu ano passado no Rio Grande do Sul, a seca no Centro-Oeste. As mudanças climáticas são comprovadamente estabelecidas já no mundo, e não é diferente no Brasil”, afirmou.
“O que a gente tem de fazer é acompanhar essas mudanças e tomar ações pontuais para que a gente possa minimizar o impacto momentaneamente”, acrescentou, sem detalhar medidas concretas.
Inflação e o impacto nos alimentos
A alta nos preços tem pesado no bolso dos brasileiros. Em 2024, enquanto a inflação geral registrou um avanço de 4,83%, o grupo Alimentação e Bebidas acumulou aumento de 7,69%. O governo atribui esse cenário a fatores como os fenômenos climáticos extremos e a valorização do dólar, que chegou a ultrapassar os R$ 6,00 no final do ano passado antes de recuar no início de 2025.
A principal estratégia do Executivo para reverter esse quadro é a supersafra agrícola prevista para este ano, descartando alternativas como o controle de preços. No entanto, o aumento da inflação já reflete na popularidade do governo, com índices de reprovação em ascensão.
O gerente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), Fernando Gonçalves, explicou ao Metrópoles que os eventos climáticos impactaram diretamente os custos da pecuária, como no caso das carnes.
“Isso tudo (seca e queimadas) reduziu área de pastagem, aí isso traz uma elevação nos custos de produção e leva a uma elevação nos custos de produção”, avaliou.
Embora o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não faça projeções de preços, analisa a variação dos valores nos meses anteriores. A atual safra, iniciada em meados de 2024, já enfrenta desafios com temperaturas elevadas e chuvas abaixo do esperado, exigindo dos agricultores novas estratégias para minimizar perdas e garantir produtividade.
“O atraso no plantio e os efeitos do fenômeno La Niña devem influenciar o clima nos próximos meses, especialmente em um período crítico de seca”, alertou o engenheiro agrônomo Luis Schiavo, CEO da Naval Fertilizantes.
Investimentos em infraestrutura e logística
Para reduzir os impactos negativos, especialistas defendem o uso de tecnologias avançadas no campo, um planejamento agrícola mais eficiente e incentivos financeiros por parte do governo. O Plano Safra deste ano, que busca facilitar o acesso a crédito para aquisição de insumos e equipamentos, está sendo ajustado de acordo com as oscilações no mercado. Na safra 2023/2024, o programa registrou um recorde de R$ 400,7 bilhões em financiamentos, um crescimento de 12% em comparação ao ciclo anterior.
Entretanto, uma safra abundante não garante, por si só, a redução dos preços, pois problemas na distribuição podem levar ao desperdício da produção e à estocagem excessiva nos armazéns, gerando prejuízos. Para evitar esses gargalos, os ministérios dos Transportes, de Portos e Aeroportos e da Agricultura anunciaram um plano de investimentos em infraestrutura e logística.
O Ministério dos Transportes revelou a ampliação dos investimentos em rodovias e ferrovias, passando de R$ 3,6 bilhões para R$ 4,5 bilhões. “A melhoria da infraestrutura reduz custos logísticos, que são um componente importante de preço, então, quando a malha melhora, tem menos rodovia com buraco, isso reduz custos. E a outra coisa é o aumento da produção, mais oferta também tende a diminuir preço”, explicou o ministro Renan Filho.
Já na área de Portos e Aeroportos, o governo prevê um investimento de R$ 1,7 bilhão para este ano, além da expectativa de um crescimento superior a 5% no transporte da safra por hidrovias. Apesar dessas iniciativas, parte das obras não será concluída em 2025, resultando em impactos que só devem ser percebidos no médio e longo prazo.
Fonte: Metrópoles