DISCURSO - POSSE -

Estranheza em citações literárias de Wilson Martins

Em seu discurso de posse o governador Wilson Martins (PSB) citou vários autores célebres, nacional e internacionalmente, numa tentativa de demonstrar intimidade com a literatura, coisa difícil de se perceber no seu cotidiano como político.

Ele foi deputado ao longo de 12 longos anos, ou seja, por três mandatos, e seus pronunciamentos na tribuna do Legislativo estadual sempre foram voltados para a discussão de temas políticos do seu restrito interesse, mas em momento algum, em todo este tempo e depois de tanto falatório, se percebeu qualquer tipo de entrosamento de sua parte com os autores mencionados em seu discurso na posse, tanto na Assembleia quanto em Karnak.

Na Assembleia, ele citou Carlos Drummond de Andrade e Willamy Shakespeare e, em Karnak, falou sobre Paulo Coelho, a quem considera “o maior escritor brasileiro de todos os tempos.” De fato, questão de gosto não se discute, mas vá lá, Coelho é o autor brasileiro mais vendido em todo o planeta – o que não significa dizer, necessariamente, que seja um grande autor.

Ele também foi admitido na Academia Brasileira de Letras. Mas, antes dele, foram admitidos José Sarney, Roberto Marinho e tantos outros que não eram necessariamente escritores e muito menos se pode afirmar que seus escritos sejam grande coisa em se tratando de literatura.

O governador também cometeu uma grande impropriedade ao comparar autores do quilate de Drummond e Shakespeare, que pertencem ao contexto universal da literatura pelo conjunto de sua obra, ao “mago” Paulo Coelho, que ganha dinheiro vendendo livros de autoajuda como se fossem romances ou fruto de experiências pessoais das suas andanças pelo universo mitológico da magia.

Certamente que Wilson Martins não tem nenhuma intimidade com estes autores e apenas leu um discurso previamente escrito por seus assessores. Sua única vantagem foi que ele reproduziu bem o que foi colocado no papel, acredita-se, pelo jornalista Fenelon Rocha e pelo político Luiz Gonzaga Paes Landim, este sim, notabilizado como um leitor de bons livros.

Na posse, em Karnak, ele citou Paulo Coelho para dizer que quando uma pessoa deseja muito uma coisa todo o universo conspira a seu favor. Deve ser urgentemente transformado em peça literária este trecho de seu pronunciamento – o governo como objeto de desejo. A psicologia deve fazer uma tradução apropriada.

Mas como ia dizendo, Wilsão fez uma boa leitura daquilo que lhe foi repassado pelos assessores. Quem não o conhece seguramente pensará que tudo aquilo partiu dele mesmo. Seu vice, Antonio José Moraes Filho, contudo, não teve a mesma sorte. Os redatores colocaram para ele citação sobre um tal Richard cujo segundo nome ele não soube dizer, provocando risos na plateia, inclusive do seu pai, o ex-deputado Antonio José Moraes Souza, que não conseguiu se conter, como os demais, dado o ridículo da cena.

O governo de Wilson Martins pode até ser uma gestão de homens trabalhadores e desejosos de estar no poder. Mas isso não pode, absolutamente, se confundir com um governo de intelectuais. Isso não. Os jovens piauienses devem ser estimulados a procurar Drummond e Shakespeare de outro modo.

Fonte: None

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