Quadrinhos e Política -

O dia que o Super-Homem irritou os Nazistas

 

A política sempre foi a espinha dorsal dos quadrinhos e o  Super-Homem acabou com a segunda guerra mundial para explicar isso

 

    DC Comics

 

A cultura pop de massa consegue pegar o imaginativo social e expressar seus valores reais através da Arte. Pintura, cinema, música, escrita, artes plásticas, são excelentes exemplos disso. A Arte também se torna o canal receptor/telespectador que preenche as lacunas tão desiguais do nosso mundo atual. 

E a melhor forma de fazer isso se não pelo quadrinho? O quadrinho é um espelho que traz o real para o imaginário em todos os momentos de sua história,  sempre foi e será um canal importante para falar sobre política, problemas sociais e ambientais mesmo que hoje muita gente negue esse fato.

Em fevereiro de 1940 a revista Look Magazine, lançou uma história em quadrinhos chamada “Como o Super-Homem terminaria a guerra” (How Superman would end the war). Nessa história tínhamos o Super-Homem acabando com a Segunda Guerra. Hitler e Stalin sendo julgados no tribunal penal internacional da Liga das Nações.

 

Imagens reais da revista Look Magazine, 1940
Imagens reais da revista Look Magazine, 1940    Reprodução

 

Era uma história pequena, apenas duas páginas. Feita por Jerry Siegel e Joe Shuster, a narrativa era simples, falar do mundo real (a Segunda Guerra Mundial) e inserindo um personagem fictício. Hitler e Stálin  já eram considerados o grande perigo para liberdade humana, mesmo que o EUA ainda não estivessem abertamente em guerra com os dois ditadores e suas ideologias. Coisa que aconteceu apenas no ano seguinte a partir do ataque a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941. Também havia mais de 130 mil americanos como prisioneiros de guerra.

Essa publicação quando chegou na Europa, foi atacada pelos alemães, principalmente.

Ainda em 1940, abril, no jornal semanal Das Schawarze Korps (jornal vendia aos leitores a ideologia nazista e que pertencia ao Partido Nazista), publicou um artigo condenando o quadrinho. Eles atacaram principalmente Jerry Siegel – ele e Joe Shuster eram judeus – “um sujeito intelectualmente e fisicamente circuncidado” e, o Super-Homem como “uma invenção israelita” uma cópia do conceito nazista e fascista “virtude-viril”. 

O texto do artigo ainda comparou os judeus a animais. Essa foi a primeira manifestação abertamente política de um super-herói contra o Nazismo. Como a história não fazia parte da linha temporal da DC Comicsque na época ainda se chamava National Comics, eles não se importaram muito, apesar de adotar uma política que evitava que seus personagens principais se envolvessem com a guerra.

A Look Magazine não era bem uma revista sobre política, era sobre moda, comportamento e como as donas de casa deveriam se portar. Principalmente porque eles, os editores da revista, eram neutros em relação à guerra – ainda consideram que era um problema da Europa e não dos americanos. 

Então essas duas páginas em quadrinhos do Super-Homem, eram totalmente opostas à proposta editorial da Look Magazine. Incrivelmente, a página antes dos quadrinhos tem um pequeno artigo sobre Jerry Siegel e Joe Shuster, algo que National Comics não fazia na época, acho que até hoje é assim, não é?

No pequeno artigo, os dois explicavam o que era e porque escolheram colocar seu personagem com o nome de Super-Homem. O Super-Homem praticamente tinha acabado de ficar famoso em todo o país e havia sido lançado 2 anos antes na Action Comics #1

 

O pequeno artigo dentro da Look Magazine (1940) que fazia um perfil de Jerry Siegel e Joe Shuster, os criadores do Super-Homem. (Reprodução/Divulgação)
O pequeno artigo dentro da Look Magazine (1940) que fazia um perfil de Jerry Siegel e Joe Shuster, os criadores do Super-Homem. (Reprodução/Divulgação) 

 

Para colocar em perspectiva, Batman foi publicado 11 meses antes na Detective Comics # 27, o Capitão Marvel (Shazam) apareceu pela primeira vez no mesmo mês que esta edição da Look Magazine e a Mulher Maravilha ainda estava a mais de um ano e meio de existir.

Nas pesquisas que fiz para escrever esse pequeno artigo, encontrei outra coisa muito preciosa e importante. A inspiração para que a Look tenha pedido para Siegel e Shuster fazer essa história foi por causa de um pequeno artigo publicado na revista Time em 11 de setembro de 1939. Intitulado simplesmente “Superman”. O pequeno texto apenas apresenta o surgimento de um novo perfil entre as crianças e adolescentes americanos: o leitor e fã de quadrinhos. E citam os autores do Super-Homem. 

Essa nova geração de jovens, estavam criando clubes e usavam capa do Super-Homem quando brincavam com seus colegas. Na seção cartas dessa mesma edição da revista Time, um leitor perguntava se o Super-Homem poderia acabar com a guerra para sempre. Independentemente de a revista Look ter tirado a ideia ou não da Time, já que as duas eram concorrentes, as pessoas estavam claramente pensando sobre a tragédia que seria a guerra.

A brevidade da história apenas aumenta seu efeito. O Super-Homem salva rapidamente o mundo sem destruir um país ou matar qualquer pessoa. Marca registrada da criação de Siegel e Shuster. Na ficção ele mudou o mundo, mas também mudou o mundo real. 

Siegel e Shuster puderam, em apenas duas páginas, explodir os limites e contradições de suas próprias histórias contínuas. 

Estamos em 2021, o quadrinho se tornou a maior linguagem universal quando se precisa falar sobre as linhas políticas e sociais da história humana. O Super-Homem irritou os Nazistas. Os nazistas atacaram ofensivamente o maior ícone da cultura americana e seus criadores, claro que não foi isso que fez os EUA entrarem na segunda guerra e nem a perda de milhões de pessoas. 

Mas apenas mostrar para milhares de leitores que acreditam que o quadrinho não pode e não precisa falar de política que, sim, a política sempre fará parte dos quadrinhos.

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