O filme não vingou! -

Exterminador: Destino Sombrio é um filme incrível, mas o que deu errado na sua bilheteria?

 

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Em teoria, Exterminador: Destino Sombrio (Terminator: Dark Fate) tinha todos os elementos para ser sucesso de crítica e público. A franquia de 35 anos vinha fracassando vergonhosamente nos últimos anos com filmes vazios e fracos de roteiro, mas o criador da série James Cameron e a estrela Linda Hamilton voltaram pela primeira vez em décadas para esta que será a última edição da franquia. Era para brilhar nas bilheterias, mas o que vimos nessa primeira semana foi o contrário. O filme simplesmente não está levando ninguém ao cinema mesmo com as críticas superpositivas sobre ele.


O que aconteceu? É possível que parte do problema tenha sido o relacionamento do público com a tecnologia que mudou drasticamente desde que Cameron mostrou ao mundo a noção de um ciborgue assassino enviado do futuro por uma I.A do Mal.


A franquia Exterminador sempre foi para dar uma resposta filosófica sobre o que significa ser humano e o que nos torna diferentes das máquinas. É uma pergunta que remonta aos primeiros mitos humanos, que procuravam explicar como a humanidade diferia do mundo animal. No lado religioso, muitas vezes se resumia a uma conexão privilegiada com poderes superiores, um deus todo-poderoso ou muitos deuses. No lado filosófico, era a nossa consciência. Pensamos, logo somos especiais. Isso, aliás, é a base para diversos livros, contos, quadrinhos, séries e filmes que abordam o tema.


Outro importante motivo por trás da franquia não ter conseguido um grande público foi as máquinas. Destino Sombrio e os filmes anteriores da franquia Exterminador giram em torno da inteligência artificial, que representa uma grande ameaça para o futuro da humanidade. Autores escreveram sobre máquinas inteligentes e assassinas pelo menos desde 1870. Mas esteja você discutindo o romance Erewhon de Samuel Butler, de 1872, no qual as máquinas desenvolvem a consciência, ou Destino Sombrio, a ameaça representada por uma I.A não é apenas física, mas metafísica. O conceito de um computador que possui inteligência que rivaliza ou supera e ameaça nosso senso de possuir uma personalidade única, baseada em inteligência, na qual mantivemos o poder por séculos é um tema muito interessante. As máquinas nos fizeram perguntar, mais uma vez: “O que torna os humanos especiais?” Mas a resposta tradicional não funciona mais – pelo menos nesta atualidade que vivemos.


Em vez disso, histórias como Destino Sombrio enfatizam diferenças fisiológicas entre humano e máquina. Os seres humanos estão excepcionalmente vivos em comparação com seres artificialmente inteligentes, porque estamos fadados à morte e à deterioração da maneira que as máquinas não. As máquinas podem ser atualizadas, reiniciadas, quebradas e corrigidas como novas. Mas as pessoas não podem. Nós cicatrizamos, envelhecemos, esquecemos as coisas. Nós inevitavelmente morremos. Destino Sombrio quer responder de sua forma e perspectiva essa fragilidade.


O filme começa com um John Connor ainda jovem sendo morto a tiros por um Exterminador alguns anos após os eventos com o T2, para desespero de sua mãe, que está presente, mas não consegue salvá-lo. Como Sarah Connor (Hamilton) mais velha comenta mais tarde, enquanto ela dedica o resto de sua vida para destruir quanto Exterminadores puder em memória de John. O problema da vingança é que você começa a ficar cego por aquilo e vamos esquecendo um pouco de sua humanidade. No caso de Sarah, ela começou a esquecer o rosto de seu filho, pois nunca tirou fotos dele para não ser descoberta pelos robôs. A maneira como essa revelação se desenrola, coloca suas imperfeições humanas em contraste com a mecânica impecável de seu parceiro robótico.


Em comparação com os filmes anteriores da franquia Terminator, Destino Sombrio que é dirigida por Tim Miller, cria um espectro completo de homem para máquina. Do lado totalmente humano estão Sarah Connor e Dani Ramos (Natalia Reyes), e do lado totalmente da máquina está o modelo Terminator Rev-9 (Gabriel Luna), sem nome, que apenas imita a humanidade na medida em que isso o ajudará a alcançar seu objetivo de matar seu alvo. E, no meio, há o supersoldado criado chamado Grace (Mackenzie Davis), um humano aprimorado com componentes mecânicos, e Carl (Arnold Schwarzenegger), o velho Terminator T-800 que passou as últimas décadas aprendendo sobre a humanidade e procurando imitá-los. É uma premissa realmente divertida de acompanhar e compreender. Já que são os dois lados da moeda.


Carl passou tempo suficiente entre as pessoas para se casar e criar o filho de sua esposa de um relacionamento anterior, mas quando Sarah Connor pergunta se ele ama sua família, ele diz que não tem capacidade de sentir isso tão profundamente. Já que ele lá no fundo, ainda é uma lata. Ele aprecia a humanidade e se esforça em direção à personalidade, mas não pode alcançá-la completamente.


Por outro lado, depois de dar a Grace uma introdução ambígua, Destino Sombrio a coloca constantemente no lado humano da equação. Ela nasceu humana. Nós a vemos como uma criança em flashbacks, coisa inédita na franquia, já que Exterminadores já “nascem” em suas formas adultas. Grace pode ter força sobre-humana, mas ela também mostra uma série de fraquezas. Somente quando eles veem suas fraquezas – a maneira como ela cicatriza e sangra e requer ajuda médica devido a um problema de metabolismo decorrente de seus aprimoramentos mecânicos – é que Sarah e Dani parecem aceitar completamente a insistência de que Grace é uma pessoa e não uma máquina. Neste mundo, você pode ser uma pessoa aprimorada por máquinas ou uma máquina que se esforça para imitar algo semelhante à personalidade, mas no final do dia, você é uma pessoa humana ou uma máquina. Essa luta é bastante criativa no filme.


Destino Sombrio não é a primeira história a argumentar sobre a especialidade da humanidade, que somos frágeis, morremos, mas que somos livres, e certamente não será a última. Mas o fato de esse argumento permanecer relativamente popular não significa que você deva se convencer dele – e, de fato, a crença na superioridade humana sobre as máquinas é aquela que, particularmente nos últimos anos, não permeia bastante nossa cultura como antes. Olhando para o desempenho das bilheterias de Destino Sombrio, é justo imaginar se talvez uma das razões pelas quais o filme não esteja se conectando tão bem com o público seja sua insistência em manter uma dicotomia estrita entre homem e máquina que privilegie a humanidade apenas com a personalidade. Com quase sete dias nas telas, o filme até agora, 07 de Novembro de 2019, só conseguiu 129 milhões de dólares de bilheteria mundial. Já podemos dizer que ele foi um fracasso neste quesito.


Embora as redes sociais, sites de ficção científica e podcasters possam estar cheias de histórias questionando a segurança da I.A, a mídia fictícia em geral não é tão tecnofóbica quanto costumava ser. Com filmes como Ex Machina, que mantêm uma posição ambígua sobre a personalidade de cyborgs, e outros como Blade Runner 2049 e Alita: Battle Angel abraçando o protagonismo dos ciborgues, talvez não seja mais surpreendente para a nova geração de pessoas que vai ao cinema. Destino Sombrio pode ser o melhor reboot da franquia Exterminador, mas a natureza de seus humanos vs. robôs envelheceu e ficou fora de moda. Uma pena.


 

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