Parte III -

Especial | Tudo que você precisa saber sobre o Superman (Era de Prata e Bronze)

 

 

Antes de você começar a ler, vá primeiro para a Parte Ie Parte II. Obrigado se chegou até aqui! De verdade =)

Na Era de Prata

A Era de Prata é decorrente de um período em que a indústria dos quadrinhos sofria toda a consequência das perseguições da década de 50. As editoras para sobreviver tiveram de aceitar a imposição doCCA (Comics Code Authority), código regulador dos quadrinhos, e se adaptar à produção de quadrinhos somente para crianças. O CCA que deu o conceito paladinesco nos super-heróis, mas de forma insossa e repetitiva, pois a limitação da fábula deixou de ser a criação autoral e passou a ser um código moral externo ao universo criativo, deixando tudo chato para caralho.

Ditadura nos Quadrinhos.
Ditadura nos Quadrinhos. 

 

As perseguições do subcomitê, a paranoia provocada pelo livro de Werthamapoiada pela mídia e o fim da maior distribuidora foram a última fagulha da fogueira americana na década de 50 contra os quadrinhos. O estrago até hoje é sentido.

Os comicsdeixaram de ser uma obra lida por homens e mulheres, como eram na década de 40, e tornaram-se leitura obrigatoriamente infantil.

Surgia também o arquétipo do super-herói paragon (original). Essa atribuição, dada ao Superman, é criada por dois motivos principais: primeiro, ele é o super-herói original, o primeiro, e, em segundo plano, porque é um personagem único, sendo ele o último e o melhor dos kryptonianos. Ainda sobre esse conceito é importante entender que graças a sua criação que o Superman ganha definitivamente: super-força, invulnerabilidade e voo, cuja origem é curiosamente atribuída aos estúdios de Max Fleischer. O poder do voo foi um acréscimo necessário para os animadores, pois a concretização das cenas de movimentação do herói por saltos demandaria a produção de várias cenas de corrida de impulso. A solução mais simples foi fazer com que a personagem voasse. Além disso, ele possuiu mais poderes super: capacidade de soltar raios de energia pelo corpo, telecinese, super-sopro, super-sentidos, etc. O herói Original. =)

Um poder bem divertido inventado nesta época que acabou sendo esquecido rs
Um poder bem divertido inventado nesta época que acabou sendo esquecido rs 

Foi na Era de Prata que o famoso editor Mort Weisinger assume a revista e foi ele que criou membros na super família: Superboy, Krypto, Supergirl, etc. O Superman da Era de Prata sofre, portanto, algumas modificações importantes no seu universo narrativo. O pano de fundo do personagem foi alterado: os Kent, que já haviam sido inseridos como pais adotivos em 1940, ganharam maior definição como personagens secundárias ao participar efetivamente das aventuras do Superboy. Também surge nessa época os vilões Brainiace Bizarro.

Cena do Superman com a Supergirl. Era uma coisa bem família mesmo.
Cena do Superman com a Supergirl. Era uma coisa bem família mesmo. 

 

Na Era de Bronze

A Era de Bronze é uma intensificação do amadurecimento das narrativas gráficas e das ideias da Era de Prata.

É o momento no qual os comics marcados pelo CCA começam a amadurecer e a fugir dos clichês esperados. A Era de Bronze surgiu no final de 1969 e inclui toda a produção da década de 1970. Seu argumento apoia-se basicamente em três pontos: 1) A chegada dos fãs de quadrinhos à produção: Roy Thomas, Denny O’Neil, Marv Wolfman, Len Wein, John Byrne, Dave Cocrkum, Gerry Conway, entre outros nomes importantes; 2) O fortalecimento das lojas especializadas em vendas de narrativas gráficas, os comic book shops, que surgiram com os quadrinhos underground; 3) A produção de mini e maxi-séries e de graphic novels, dado o fortalecimento das lojas especializadas. Outra característica importante foram as primeiras inserções de personagens afrodescendentes nos roteiros dos comic books.

Da E para D - Action Comics 481, March 1978 & Action Comics 482
Da E para D - Action Comics 481, March 1978 & Action Comics 482 

 

Os quadrinhos começam a dialogar com a sociedade a qual pertencem, surge um cara chamado Neal Adams que mudaria diversos contextos de roteiro nas aventuras da DC, afetando diretamente os títulos do Superman, ele já envelhece, as linhas temporais com as outras revistas começam a se encontrar.

Em 1978, a Warner Bros produziu o filme Superman, dirigido por Richard Donner e escrito por Mario Puzo. O elenco do filme contava com a presença de Marlon Brando e de Gene Hackman, mas aquele que nos fez acreditar que o homem podia voar foi o até então desconhecido Christopher Reeve. Eu vi o filme pela primeira vez entre 1986/1987, eu tinha cinco anos e me lembro de tudo naquele dia, mesmo a TV sendo preto e branco, minha vida nunca mais seria a mesma.

 

O filme retoma aspectos narrativos do universo de Superman anteriores à era de Bronze, como o Planeta Diário e adiciona a presença de Martha Kent na vida adulta de Clark Kent. O filme pode ser considerado como a concretização do mito industrial de Superman na sociedade americana, assim como um reforço de sua característica de super-herói paladinesco na qualidade de uma mitificação cristã.

Foi na Era de Bronze que a DC entrou um terrível dilema editorial: O Superman se tornou invencível, tão poderoso que não há situação que escape ao seu controle.

Esse dilema só iria acabar, na minha concepção de leitor, quando o Alan Moore fecha a Era de Prata/Era de Bronze do Homem de Aço escrevendo duas narrativas importantes: Para o homem que tinha tudo (1990) e O que aconteceu com o Homem de Aço?(1990).

No final dos anos 80 a era de bronze dos quadrinhos estava chegando ao fim, era hora de uma nova reformulação nos personagens e quadrinhos
No final dos anos 80 a era de bronze dos quadrinhos estava chegando ao fim, era hora de uma nova reformulação nos personagens e quadrinhos  

 

A primeira produzida com a arte de Dave Gibbons e a segunda com desenhos de Curt Swan e arte final de George Perez e Kurt Schaffenberger. Em Para o homem que tinha tudo (história mais tarde adaptada para o desenho de Bruce Tim da Liga da Justiça), Superman, na data de seu aniversário, é preso aos seus maiores desejos pelo vilão Mongul. E, para Moore, os maiores desejos do Homem de Aço não são relativos à identidade de Clark Kent, que nem mesmo é mencionada. Em seu mundo onírico, ele é Kal-El, apenas mais um cidadão comum do mundo Krypton, que possui uma família feliz, apesar dos problemas de relacionamento com seu pai, Jor-El. Sua esposa ideal não é Lois Lane, ela é Lyla Lerrol, atriz Kryptoniana.

Para o homem que tinha tudo
Para o homem que tinha tudo 

 

Para o homem que tinha tudo apresenta uma mudança estrutural visível perante as narrativas anteriores do Homem de Aço. Se comparadas as narrativas anteriores, fica evidente a discrepância no uso do quadrado narrativo das narrativas da Era de Prata à de Moore. Além disso, o uso desse quadrado para o comicdo ator inglês é completamente diferenciado. Moore usa muito pouco a voz narrativa textual para representar o mesmo que a imagem e, quando o faz, utiliza-se do discurso indireto, de modo a transmitir as sensações e pensamentos das personagens daquela cena e não somente para introduzir localidade espaço-temporal. Dessa forma, a narrativa de Moore torna-se mais fluída do que as mostradas até aqui, por uma melhor realização da narração pela imagem.

A narrativa ainda apresenta um uso constante de cenas panorâmicas para transmitir a sensação de localidade aos leitores, chamada de aspecto-para-aspecto (McCloud, 2005.). Outra característica interessante desta narrativa é o processo cíclico estabelecido pelo prólogo e pelo epílogo.

O que aconteceu com o Homem de Aço? Uma obra fundamental para conhecer o Superman.
O que aconteceu com o Homem de Aço? Uma obra fundamental para conhecer o Superman. 

 

Na narrativa O que aconteceu com o Homem de Aço? O autor inglês retoma toda a história de Superman, resgatando os valores e as personagens que compõe a inocência da Era de Prata. Entretanto, Moore coloca seu Superman em um conflito de personagem versus situação que exaure a invencibilidade do Homem de Aço. Pois a inversão que Moore realiza é a perda dessa inocência resgatada quando posta em contato com a crueza das narrativas mais realistas. A situação que exaure o Superman é a mudança de comportamento dos seus antagonistas.

Antes apenas vilões e ladinos, eles tornam-se nesta narrativa assassinos frios, genocidas, que se voltam contra as pessoas próximas ao Superman. O disfarce de Clark Kent é eliminado pelos inimigos e fica claro que a identidade principal em voga nessa narrativa é a do Homem de Aço.

Nesse ponto, Moore capta precisamente a conceitualização do Superman até aqui: ele é o kryptoniano, o ser divinal.

Entretanto, o Superman é colocado em situações de extrema tensão e acaba por ter de matar um oponente, o poderosíssimo Mxyzptlk, o que, consequentemente leva o herói paladinesco a uma crise de identidade. A um paradoxo conceitual que acaba por eliminar o Superman completamente pelos raios da kryptonita dourada. Superman, ao matar, sofre uma queda, e, tal qual Adão expulso do paraíso, torna-se mortal. Essa queda não é na narrativa de Moore negativa. Ao ser transformado em mortal por cair em sua divindade, Superman se realiza como Jordan, marido e pai humano. E, ao final da narrativa, seu filho é mostrado apresentando o mesmo super-poder do Superman de transformar carvão em diamante (poder exagerado, produto da Era de Prata), um poder que nos remete à Midas, que transforma tudo que toca em ouro, e mesmo ao milagre de Jesus, quando este transforma a água em vinho.

No último quadro, a personagem Jordan/Supermandá uma piscadela ao leitor, o que carrega toda a relação da metalinguagem lúdica que apresentada aos leitores, nos quadrinhos e nos desenhos, pela piscadela marota do herói, que transformava, esse leitor, em um cúmplice do engenhoso disfarce e da traquinagem que dela decorre.

Genialidade Pura e simples que somente Alan Moore consegue escrever até hoje.

Fonte: Pikachu Sama

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