Parte I -

Especial | Tudo que você precisa saber sobre o Flash (Era de Ouro e Era de Prata)

The Flash é um dos personagens mais famosos do mundo, sem ele a Era de Prata dos Quadrinhos não existiria e o que sabemos até hoje sobre super heróis talvez já estaria no esquecimento. Seu nome se tornou até sinônimo de “velocidade” ou “fazer as coisas rapidamente”. Maior velocista da editora DC Comics, que também publica Superman e Batman, o Flash já estrelou várias outras mídias além das HQs, como a TV e os desenhos animados.E esta semana ele está de volta simplesmente na Liga da Justiça no cinema. Uma coisa que todo fã da DC e do Flash sonhou. Além do fato de ele possuir um série solo de bastante sucesso entre o público jovem e adulto exibida pelo canal The CW, pertencente ao conglomerado Warner Bros.

Por isso, se banhe de produtos químicos turbinados por um relâmpago, vista-se de vermelho, vibre na Força de Aceleração e atinja a velocidade da luz para ler este post imediatamente!

Duas Versões. Ou Mais…

Flash que não acaba mais, galere. Então foco no Barry!
Flash que não acaba mais, galere. Então foco no Barry! 

Em primeiro lugar, é preciso dizer – para o público não iniciado nos quadrinhos – que o Flash, assim como vários outros heróis da DC Comics (Lanterna Verde é outro), já teve várias versões diferentes, com nomes, uniformes e histórias distintas. Mas unidos por um legado comum.

A versão mais famosa do Flash é Barry Allen, um policial forense que vive em Central City, tal qual o personagem introduzido em Arrow. Porém, existem vários outros a usar esse nome: o primeiro foi Jay Garrick (criado em 1940), Allen foi o segundo; veio o terceiro, Wally West (em 1959); Bart Allen (em 1994); a lista prosseguiu indefinitivamente.

Contudo, apesar de cada uma das outras versões do Flash ter feito sucesso de público em algum momento, Barry Allen é o detentor oficial do título e, apesar ter sido dado como morto por mais de duas décadas (entre 1986 e 2009), está de volta e mantém o posto firme.

O Flash da Era de Ouro

Flash Comics #01
Flash Comics #01 

O mercado de super-heróis surgiu e explodiu por meio da publicação de Action Comics #01, de 1938, com a primeira aparição do Superman - você disse, Superman? bancada pela editora National Periodicals. Com o sucesso – e para desviar do fisco – a empresa abriu outras companhias irmãs, e uma delas foi a All-American Comics, que lançou em 1940 a revista Flash Comics #01, que trazia a estreia do Flash, criado por Gardner Foxe Harry Lampert.

Gardner Fox era um advogado que vinha escrevendo histórias para aquelas duas editoras – mais tarde unidas sob o nome DC Comics – particularmente do Batman. Foi ele quem teve a ideia de um super-herói cujo os superpoderes consistiam justamente em correr muito rápido. Como essa habilidade estava associada à figura do deus grego Hermes (ou Mercúrio), o desenhista Harry Lampert criou o visual do personagem baseado no deus: um homem usando um chapéu prateado com duas asinhas. O restante era uma roupa quase comum, com calça e camisa de mangas longas. Um detalhe era curioso: não havia máscara!

Na trama mostrada em Flash Comics #01, de 1940, o universitário Jay Garrick inala acidentalmente os gases de um composto secreto chamado água pesada (hard water nos anos 1940, mais tarde modificado para heavy water) que lhe dá a habilidade de correr rápido como ninguém. 

Corre, Garrick!
Corre, Garrick! 

Um pequeno detalhe importante: assim como Action Comis e Detective Comics, Flash Comics trazia várias histórias de vários personagens. Apesar do Flash ser o protagonista, a revista trouxe outros heróis importantes, como o Gavião Negro(Hawkman), que também estreou na primeira edição. Gavião Negro, inclusive, logo alternaria a presença nas capas com o próprio Flash. A heroína Canário Negro também estrearia e teria suas histórias em Flash Comics.

O Flash fez muito sucesso, tornando-se um dos personagens mais populares da Era de Ouro, inclusive no Brasil, onde foi publicado já naquela época, com o nome de Joel Ciclone. (Termo que alguns tradutores nostálgicos insistem em usar de vez em quando) rs

All-Star Comics
All-Star Comics 

A imagem acima: A estreia da Sociedade da Justiça: Átomo, Sandman, Espectro, Flash, Gavião Negro, Dr. Destino, Lanterna Verde e Homem-Hora. Esqueci de escrever a legenda =)

Por isso, não é nenhuma surpresa que o Flash tenha sido um dos membros fundadores da Sociedade da Justiça, o primeiro grupo de super-heróis, criado pelo mesmo Gardner Fox, mais Sheldon Mayer, aparecendo em All-Star Comics #03, de 1940, reunindo personagens como Lanterna Verde, Gavião Negro (Hawkman), Homem-Hora, Sandman e outros.

O sucesso prosseguiu pela primeira metade dos anos 1940, mas com o fim da II Guerra Mundial, em 1945, as vendas das revistas de super-heróis começaram a cair. Gardner Fox escreveu as 80 primeiras edições de Flash Comics, entre 1940 e 1947, antes de ser substituído por Robert Kanigher, que produziu a maior parte da temporada final, entre os números 84 e 104 (com alguns intervalos breves), até 1949, quando a revista foi cancelada.

O Flash ainda continuou aparecendo nas histórias da Sociedade da Justiça, até que esta também foi cancelada, em All Star Comics #57, de 1951. A revista mudou seu título para All Western Comics, com histórias de faroeste. Era o fim da Era de Ouro, com os heróis caindo em total decadência e desaparecendo – alguns sem deixar rastros.

As únicas exceções foram Superman e Batman, que mantiveram a popularidade a duras penas, mas agora sozinhos, num mercado entupido de faroeste, terror, policiais, monstros e romances.

O Flash da Era de Prata

Showcase #04 traz a estreia do Flash.
Showcase #04 traz a estreia do Flash. 

Em meados da década de 1950, o editor Julius Schwartz assumiu vários dos títulos da DC Comicse decidiu tentar trazer os velhos super-heróis do passado de volta, para fazerem companhia a Superman e Batman. Contudo, tentou não repetir o insucesso da Marvel Comics – então, chamada Atlas Comics – que tentou trazer seus velhos heróis dos anos 1940 de volta, num fracasso amargo.

Por isso, Schwartz teve a ideia de criar novas versões dos heróis, em vez de trazê-los de volta. O Flash foi justamente o primeiro dos antigos super-heróis a ser trazido de volta – o que também ilustra sua popularidade – dando início à Era de Prata dos quadrinhos. Sua estreia, na revista Showcase #04, de 1956, inclusive, é contada como o marco-zero da Era de Prata.

Schwartz deu a missão de recriar o Flash a Robert Kanigher, que tinha notória experiência com o personagem e ainda estava na DC, escrevendo histórias do Superman. Para os desenhos, foi recrutado Carmine Infantino, um mestre de arte clássica, realista e plástica. Infantino criou o magnífico uniforme do segundo Flash, que se transformou em um ícone.

Na trama escrita por Kanigher, em Showcase #04, o policial forense Barry Allen sofre um acidente em que é banhado por uma série de produtos químicos ao mesmo tempo em que é atingido por um raio numa noite de chuva. Em consequência ao acidente, Allen passa a se movimentar em altíssima velocidade. Tão rápido que podia caminhar por cima da água e subir nas paredes sem ser afetado pela gravidade. Histórias posteriores definiram que isso era possível porque o policial passou a acessar a Força de Aceleração, uma força física que existe na Terra, tal qual a gravidade.

A história fez bastante sucesso e o novo Flash retornou nas edições #08 , #13 e #14 de Showcase, até que ganhou uma revista própria Flash Comics, em 1959, que continuou a numeração de sua encarnação anterior, iniciando, assim, a partir da edição #105. Curiosamente, quem passou a cuidar da revista foi o roteirista John Broome, ainda com os desenhos deInfantino. Broome, porém, tinha experiência anterior com o personagem, pois também escrevera histórias para a antiga Flash Comics, especialmente entre 1948 e 1949.

O sucesso do Flash motivou a DC e Schwartz a lançarem novas versões de velhos heróis, ressurgindo, assim, Lanterna Verde, Elektron (The Atom), Gavião Negro (Hawkman) e outros.

Disposta a seguir os passos do passado, a DCinclusive reagrupou seus novos heróis em um time: a Liga da Justiça surgiu na revista The Brave and the Bold #28, de 1960, quando Flash, Lanterna Verde, Mulher-Maravilha, Aquaman e Caçador de Marte uniram suas forças contra Starro, nas mãos de Gardner Fox e Mike Sekowski. Sim, como viram, eu realmente gosto do Gardner Fox, muita gente esquece deste homem que quase morreu na miséria e é um dos mais importantes seres humanos para toda a cultura pop.

Capa de “The Brave and the Bold 28”, de 1960, com a primeira história da Liga da Justiça.
Capa de “The Brave and the Bold 28”, de 1960, com a primeira história da Liga da Justiça. 

Em pouco tempo, veio a revista Justice League #01, em 1961, com a mesma equipe criativa, mas um time de heróis maior: Batman e Superman ingressam no grupo, logo, seguidos por Arqueiro Verde e Elektron.

É ao longo dos anos 1960 que a maior parte do cânone ficcional em torno do Flash vai se construindo. Ao longo daquela década, Gardner Fox, John Broome e Robert Kanigher se revezavam criando personagens, vilões e histórias marcantes, que delimitaram o universo próprio do personagem, mas também impactaram no Universo DC como um todo.

A revista Flash é reiniciada.
A revista Flash é reiniciada. 

A primeira grande adesão veio ainda em 1959, com o surgimento de Wally West, o Kid Flash, que estreou em Flash #110, por John Broome e Carmine Infantino. Na trama, Wally é sobrinho da namorada de Barry Allen, Iris West, e ganha os mesmos poderes do Flash ao sofrer o mesmíssimo acidente que Barry havia sofrido. O jovem logo passa a ser o parceiro de combate ao crime do Flash, usando o mesmíssimo uniforme do herói. 

Obviamente, era uma grande confusão visual conseguir distinguir em alguns quadros quem era quem, e mais, tarde, a DC criou um uniforme específico para o Kid Flash, mais juvenil e com a predominância da cor amarela.

Uma segunda adesão fundamental é a Galeria dos Vilões do Flash, um conjunto de criminosos bastante emblemáticos, que se não são tão famosos quanto os inimigos do Batman, por exemplo, são personagens bastante queridos dos fãs da DC Comics. Destaque para Capitão Frio (Showcase #8, 1959); Mestre dos Espelhos (Flash #105, 1959); Gorila Grodd (edição #106, 1959); Capitão Bumerangue (edição #117, 1960) e Professor Zoom ou Flash Reverso (edição #139, 1963); a maior parte deles criados por Broome e Infantino, mas repetidos a exaustão por todos os escritores subsequentes. Inclusive, não raro, esses vilões se uniam como um supergrupo para combater o velocista.

Galeria dos Vilões
Galeria dos Vilões 

Uma terceira adesão fundamental adicionada no universo do Flash foi a noção do Multiverso, algo que se tornou fundamental e indissociável do Universo DC com um todo. Em Flash #123, de 1963, escrita por Gardner Fox e desenhada por Carmine Infantino, foi publicada a história Flash de Dois Mundos (Flash of Two Worlds), que estabeleceu o conceito do multiverso. Na trama, o Flash descobre que ao vibrar por entre as moléculas atômicas em altíssima velocidade, ele podia acessar outras dimensões. Ao fazer isso sem querer, termina encontrando com Jay Garrick, o Flash da Era de Ouro.

O conceito de Multiverso é estabelecido.
O conceito de Multiverso é estabelecido. 

Fica estabelecido, então, que Jay Garrick – e consequentemente toda a Sociedade da Justiça – viviam em uma dimensão paralela a nossa, que logo seria batizada de Terra-2. Várias edições seguintes de Flash e de Justice League, passaram então a explorar o conceito, estabelecendo que a Terra-2 também possuía versões de personagens como Superman e Batman (que também tinham histórias publicadas nos anos 1940 e também agiram ao lado da Sociedade da Justiça), que eram mais velhos do que suas contrapartes da Terra-1, o Universo DC oficial. Era uma maneira de explicar as histórias antigas.

Ao criar o multiverso, a DC oficializou a diferenciação entre a Era de Ouro (com suas aventuras na Terra-2) e a Era de Prata, que era o Universo DC oficial.

Voltando ao Flash, suas histórias fizeram bastante sucesso nos anos 1960, sendo um dos principais títulos da DC Comics. A mitologia do personagem continuou sendo ampliada a cada ano. Em 1963, Flash #139 trouxe o surgimento daquele que seria o seu principal vilão: o Flash Reverso. Na trama da dupla Broome e Infantino, o Professor Zoom vinha do futuro, do século XXV, e usava a tecnologia para desenvolver exatamente os mesmos poderes de Barry Allen. Assim, era um oponente sempre muito difícil de ser combatido; e por isso mesmo, retornando constantemente para desafiar o herói.

Exemplo disso foi Flash #165, publicada em 1966, no qual o Flash Reverso troca de lugar com Barry Allen justo no momento em que o rapaz iria se casar com a noiva Iris West. No final das contas, nosso herói consegue derrotá-lo e, com isso, torna-se o primeiro dos super-heróis “grandes” a se casar de  quadrinhos; algo bastante raro naqueles tempos.

O casamento de Barry Allen e Iris West.
O casamento de Barry Allen e Iris West. 

O sucesso do Flash também o fez participar de outras revistas da DC além de Justice League of America. Em Superman #199, de 1967, temos a primeira corrida do homem de aço contra o homem mais rápido do mundo. Quem venceria? Essa era uma pergunta que inquietava os fãs desde sempre e a trama de Jim Shooter (texto) e Curt Swan (arte) mostrava os dois fazendo uma disputa beneficente para a ONU, mas mafiosos se metiam no meio para ganhar dinheiro com isso. Entre corridas e luta contra os bandidos, a disputa termina empatada, mantendo os fãs no suspense.

Superman e Flash disputam uma corrida.
Superman e Flash disputam uma corrida. 

Contudo, as corridas entre Superman e Flash passariam a se tornar mais comuns com o passar dos anos e terminou ficando estabelecido que o Flash ganha a disputa.

Outro exemplo de participação especial foi a lendária The Brave and the Bold #81, de 1968, no qual o Flash une as forças com Batman contra um vilão indestrutível chamado Bork. Era uma antiga revista especializada em “encontros especiais” entre personagens, mas devido ao sucesso da série de TV do homem-morcego na época, no ano anterior, passou a sempre trazer um encontro do cavaleiro das trevas com outro herói da DC. Este número foi um dos mais marcantes e que estabeleceram regras universais dentro da DC e na memória dos fãs, especialmente pela arte espetacular de Neal Adams.

Capa de “The Brave and the Bold #81”: Batman e Flash unidos contra Bork numa clássica aventura.
Capa de “The Brave and the Bold #81”: Batman e Flash unidos contra Bork numa clássica aventura. 

Além de seu mentor, o Kid Flash também alçou vôos próprios, tendo formado o grupo adolescentes Os Jovens Titãs em The Brave and the Bold #54, de 1964, juntamente com Robin e Aqualad, o parceiro do Aquaman. Posteriormente, o grupo ganharia adesões da Moça Maravilha e Ricardito (Speedy, o parceiro do Arqueiro Verde) e teria aventuras próprias.

Os Jovens Titãs com Kid Flash.
Os Jovens Titãs com Kid Flash. 

Por enquanto ficamos aqui, estão percebendo que o Flash é tão importante quantos outros ícones dos quadrinhos? Vocês, a maioria que está lendo, nem sabiam disso, não é? Pois agora já sabem =) 

 

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