O Homem Livre -

Conversas de Cinema | Entrevista com o Diretor de Cinema, Alvaro Furloni

Conversas de Cinema nasceu de uma forma inusitada. Desde 2018 que venho fazendo entrevistas de diretores, autores e produtores de cinema que vieram ao evento Sessão com Debate, realizado pela curadoria dos Cinemas Teresina.

Além deste evento, os Cinemas Teresina fazem o Master Class, evento que soma com a Sessão com Debate e traz profissionais (diretores, atores, produtores) do cinema nacional para falar sobre seus trabalhos, sobre cinema e aproximar o público para a importância da sétima arte. Por causa disso, Teresina se tornou um dos principais centros de exibição do cinema independente do Brasil.

Pois bem, por causa de problemas de tecnologia, perdi uma entrevista especial com o diretor Alvaro Furloni(Imagem) no mês de fevereiro desse ano. Foi desesperador imaginar que quase tudo foi perdido – as vezes salvar certos arquivos em pendrives ainda são válidos, sabiam? Mas demorou meses até eu conseguir o arquivo original novamente e a entrevista ficou num momento ruim para ser reproduzida, quando chegou o mês de maio, eu tive outra entrevista muito importante. Agora com o diretor Marcos Pimentel, dessa conversa tão incrível, eu tive uma ideia.

Pensei: Bem, acho que preciso atualizar a forma como trato e transcrevo minhas entrevistas, o uso do celular é algo fora de moda, mas o conteúdo que consigo usando um simples aparelho é para a toda vida e para o bem da história do cinema. Porém, preciso mudar.

Assim, nasceu a coluna Conversas de Cinema. Já que eu tinha material para escrever e postar, esperarei mais um pouco já que o diretor Marcelo Gomes também veio para Teresina para divulgar e conversar sobre seu filme “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”, mas aconteceu que eu não consegui ir no dia e fazer uma entrevista.

Mas graças aos deuses do cinema e muita luta, o produtor João Vieira Júnior veio abrir o Master Clas 2019 e consegui, numa sexta feira pela manha conversar por mais de 30 minutos com ele e finalmente, ter material suficiente para lançar essa coluna tão especial.

Conversas de Cinemanão é um nome original, mas tem o objetivo de falar de cinema direto da fonte. Direto das pessoas que fazem a sétima arte uma das criações humanas mais importante para entendermos nosso lugar no mundo.

E para começar, nada menos que Alvaro Furloni. Que dirigiu o filme O Homem Livre, conta a história de Hélio, interpretado por Armando Babaioff, um ex-ídolo do rock que, após passar anos na cadeia por um crime que chocou o país, encontra abrigo em uma pequena igreja evangélica. Ele só quer ser esquecido, mas seu passado volta para assombrá-lo.

Poster promocional do filme
Poster promocional do filme "O Home Livre"    Reprodução/Divulgação

Como um thrillerpsicológico, Homem Livre assume a perspectiva do seu protagonista do início ao fim, criando uma tensão e uma paranoia crescentes. O diretor, assumidamente fã do gênero, tem como referência para criar tal atmosfera filmes da trilogia do apartamento de Roman Polanski: Repulsa ao Sexo, O Bebê de Rosemary e O Inquilino; além de O Homem Duplicado, de Denis Villeneuve, e principalmente, Cisne Negro, de Darren Aronofsky.

O elenco conta também com Flávio Bauraqui, Rosanne Mulholland, Márcio Vito, Giancarlo Di Tommaso, Thuany Andrade, entre outros. Homem Livre fez sua estreia no 6º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba e foi premiado no 10º Festival de Cinema de Triunfo nas categorias de melhor ator para Armando Babaioff e melhor montagem.

Fiquem agora com a entrevista do Álavro Furloni e bem-vindo ao Conversas de Cinema.

Ideia do filme, escolha de elenco.

O Homem Livre não é um roteiro meu, eu fui convidado pelo Perazzo (Pedro Perazzo) que é o roteirista do filme e meu amigo. Na primeira versão do roteiro, ele era um ex-presidiário que já foi muito famoso que saia da prisão e teria que conviver com o preconceito das pessoas. Quando aceitei o convite, aceitei com uma condição de também contribuir com o roteiro. Fizemos uma nova versão do texto, já mais centrado no conflito interior desse personagem, na culpa que ele sente pelo crime que cometeu no passado.

Como é desenvolver uma história tão densa de um personagem que para a sociedade é visto na maioria das vezes como um vilão social?

O que mais me chamou para dirigir o filme, foi contar a história de um homem que saia da prisão e que continuava preso. Por isso, a gente focou na culpa que ele sentia ainda aprisionado, então, a partir daí, começamos a escolher como contar essa história, por exemplo, a narrativa se passa toda em lugares fechados. Então todas as escolhas estética a artísticas do filme vieram dessa ironia.

 

    (Reprodução/Divulgação)

Outro tema importante do filme é a força das igrejas evangélicas dentro das prisões. Como foi manter um equilíbrio dentro do filme de não contar apenas uma história religiosa?

A ideia de fazer o filme dentro de uma igreja evangélica foi muito natural. Histórias de igrejas evangélicas acolherem presidiários é muito recorrente e não é por acaso. A religião cristã lida com culpa e perdão de uma forma que outras religiões não lidam, então essa narrativa de alguém que comete algo errado, mas que encontra abrigo numa igreja evangélica, é uma narrativa recorrente, por isso, decidimos contar a história dessa forma. Eu não sou evangélico, mas queria respeitar o universo das igrejas pentecostais, já que você tem diferente tipos de igrejas e vieses.

Mas sabíamos também que a boa parte da população, vê essa acolhida que as igrejas evangélicas fazem aos presidiários de uma forma cínica, como se aquilo fosse uma armação.

O filme foi rodado dentro de uma prisão?

Nós filmamos basicamente tudo numa mesma locação. Tínhamos uma casa que foi transformada em todos os cenários do filme. A igreja, o quarto do protagonista, tudo é a mesma casa. A grande decisão, foi escolher uma casa que pudesse servir como locação para gravar todo o filme basicamente.

Foi caro produzir o filme?

É um filme de baixíssimo orçamento. Tínhamos pouco dinheiro, mas criamos a ideia para que ele não parecesse ter sido tão barato. Fizemos escolhas que fizessem sentido dentro da história que estávamos contando.

Na questão social, qual é a mensagem que o filme passa?

O filme fala de culpa e preconceito. Com a culpa funcionando em três níveis: o nível do estado onde o sujeito é preso e recebe uma pena, cumpre essa pena e teoricamente ele está livre; o nível onde a sociedade vê esse preso e o preconceito muito grande que existe em relação a ex-presidiários, que também é o nível da culpa e a culpa interna como terceiro nível.

Como foi trabalhar com o Armando Babaioff?

Foi muito orgânico. Eu não conhecia ele, tínhamos apenas amigos em comum e já na primeira conversa que a gente teve ele imaginava o personagem parecido como eu imaginava. Fiquei curioso para saber qual personagem ele criaria e foi por causa disso que ele foi escolhido.

Primeira vez em Teresina?

Primeira vez! Está tudo rápido (ele tinha acabado de chegar quando conversamos), mas gostando muito do que vi, achei a cidade bonita e a pessoas muito simpáticas.

Quer deixar uma mensagem para os jovens leitores e que sonham em entrar para a indústria do cinema?

Eu acho que Teresina está longe dos grandes centros que fazem eventos de cinema, mas vendo a programação que é feita aqui, fiquei com bastante inveja de vocês. Não é toda cidade que tem um cinema com a qualidade que se tem aqui, passando os filmes que estão aqui. Vocês estão tendo acesso, na tela grande e isso é incrível. Já sobre o Homem Livre, meu recado é para quem gosta de suspense, vale a pena dar uma chance. É cinema nacional, é cinema de gênero que pega o espectador e o leva até o fim. Incomoda um pouco, mas faz você sair do filme pensando na história e o que ele acabou de assistir.

Créditos das Imagens: Cinemas Teresina

Ficha Técnica do O Homem Livre

Direção

ALVARO FURLONI

Roteiro

PEDRO PERAZZO

Fotografia

GUILHERME S. FRANCISCO

Montagem

RENATO GAIARSA, ALVARO FURLONI

Música

ANDRÉ COLARES, RAFAEL BORDALO

Elenco

ARMANDO BABAIOFF, FLÁVIO BAURAQUI, THUANY ANDRADE, ROSANNE MULDHOLLAND, MÁRCIO VITO

Produtor

ALEXANDRE SIVOLELLA

Produção

SEGUNDA-FEIRA FILMES

Classificação Indicativa

14 ANOS

 

 

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