Assédio também existe nos quadrinhos

Qualquer negócio hoje em dia não está imune a conflitos e polêmicas. Ameaças, preconceito, machismo, assédios… tudo pode acontecer em qualquer empresa, independente do ramo. A indústria do entretenimento é um caso à parte, o cinema e a música principalmente: lotado de escândalos dos mais variados, sempre há notícias quentes a esse respeito. E com a recente onda de denúncias de assédio, tais notícias saíram do âmbito de mero escândalo para virar coisa séria e com graves consequências. Harvey Weinstein e Kevin Spacey que o digam! E a lista não aparenta ter previsão de acabar…

Os quadrinhos, no entanto, pareciam imunes a esse tipo de coisa. Claro, sempre haviam controvérsias a respeito de briga entre artistas, desentendimento com editores e editoras… É uma mídia que parecia não passar disso… até alguns dias atrás.

Eddie Berganza é um profissional experiente. Esteve na DC Comics desde a década de noventa e, em seu currículo, inclui as bem sucedidas sagas Blackest Night e Brightest Day. Seu trabalho foi tão bem reconhecido que, em 2010, foi promovido a editor executivo. Era um profissional proficiente e que prometia bastante.

O que poucos sabiam era que seu comportamento nos bastidores não era tão profissional. De acordo com o site The Mary Sue, seu comportamento problemático vem sendo rotina desde os anos 2000. O referido site, ao lado de outros, vem denunciando o comportamento do editor há tempos. Apenas em 2012, ele foi rebaixado após o que foi chamado de “indiscrições”. Em 2016, mais alegações, ainda pioradas pela demissão da então editora da Vertigo Shelly Bond, enquanto o mesmo era meramente mudado de posição ou departamento.

E agora, este ano, não houve escapatória: após novas alegações, a DC suspendeu o editor e logo depois o demitiu. Foram necessários anos de denúncias para que o mesmo sofresse as consequências…

Este caso é comum em vários ramos de empreendimento. Os casos de Hollywood perduraram por anos, décadas até…e ainda existem casos em vários locais. Fica o questionamento: o que leva profissionais bem sucedidos e com um grande futuro a insistirem nesse tipo de comportamento? O poder? A certeza da impunidade? Este último parece ser um grande motivo, dado o grande espaço de tempo que levou a editora a finalmente encerrar seu contrato.

É aceitável que haja uma certa cautela para que injustiças não sejam cometidas. Porém, anos de relatos não podem ser simplesmente balançados em uma relação custo-benefício. Há uma certa ironia onde uma grande editora, dona dos direitos dos personagens mais justos e altruístas, seja conivente com tal comportamento. Será este o único caso a vir a público? A imprensa e os fãs ainda parecem ávidos de mais notícias sobre o assunto. Aguardemos mais notícias a respeito…

Érico Campos