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Avaliação: nova Kawasaki Versys 1000 devora asfalto com conforto

Para quem gosta do assunto, moto é igual tênis: ou seja, se possível a gente quer ter uma para cada ocasião. Um scooter para a cidade, uma naked para curtir na serrinha, uma bigtrail para viajar, uma esportiva para track-day… e uma conta bancária infinita! Por isso, ter uma moto que seja uma “camaleoa” é o sonho de quase todo motociclista, podendo desfrutar de diversas características num único modelo. E aí entram motos como a nova Versys. Disponível nas versões 650, com motor bicilíndrico, e 1000, com propulsor tetracilíndrico, a sport tourer da Kawasaki chega à linha 2015 mais bonita e com diversas novidades técnicas. Vamos pilotá-la?

Para esse primeiro contato com a Versys 2015, a Kawa nos mandou logo a versão 1000 top de linha. Equipada com o mesmo motor da supernaked Z1000, de 1.043 cm3, ela tem acerto um pouco mais suave de entrega de torque, privilegiando baixas e médias rotações. Ainda assim, dispõe de expressivos 120 cv de potência e 10,4 kgfm de torque, além da capacidade de girar a até 10 mil rpm. Entre as novidades, afora o design, estão mudanças no chassi, painel de instrumentos, suspensões, freios, embreagem, controle de tração, novos equipamentos, etc. Ou seja, uma moto quase inteiramente nova.

Começando pelo lado emocional, a Versys agora tem muito mais cara de Kawasaki com os novos faróis duplos de desenho agressivo, lembrando as esportivas da marca. Junto com a nova carenagem, a Versys ganhou ainda um para-brisa ajustável em altura – basta girar duas presilhas de plástico e escolher a posição, sem necessidade de ferramenta. Também o ajuste da suspensão traseira passou a ser feito por um manípulo giratório, bem à mão e de uso fácil. A posição de pilotagem continua um dos destaques, bem ereta e confortável, agora com o banco a 840 mm do solo (antes era 850 mm). Com meu 1,78 m achei tranquilo de colocar os pés no chão na maioria do tempo (menos em manobras de baixa velocidade), mas alguém mais baixo poderá ter alguma dificuldade, ainda mais sabendo que essa “Versyszona” acusa nada menos que 250 kg na balança. Colocá-la sobre o novo cavalete central, no entanto, é brincadeira de criança, quase não exigindo força.

Em movimento, a facilidade de condução impressiona e cativa. Apesar do motorzão 1000, as respostas do acelerador são suaves e progressivas, sem trancos, enquanto o câmbio de seis marchas tem engates surpreendentemente macios (sem contar um mostrador de marcha bem destacado, ao lado do painel). Também a embreagem ficou 30% mais leve agora que passou a ser assistida e deslizante (evitando que a roda traseira trave numa redução brusca). Na cidade, a Versys não disfarça seu tamanho generoso (são 895 mm de largura), mas até que passar entre os carros não é tão complicado por conta dos espelhos colocados em posição elevada, que passam acima até dos retrovisores dos SUVs. Por fim, a suspensão ficou mais macia com adoção de novos garfos invertidos na dianteira (43 mm de diâmetro) e molas mais suaves. Segundo a marca, o retorno e a compressão do amortecimento estão 30% menores, apesar do curso ter sido mantido em 150 mm.

Curioso de andar com esta Big Kawa no trânsito é a reação dos motoristas: mesmo quem dirige carro grande abre espaço para a motona, talvez pelo porte, ou talvez pelos faróis de neblina de iluminação azulada que avisam de longe que tem um monstro chegando. Dá para usar no dia-a-dia? Não é a condição ideal, mas, afora o bafão do motor na perna esquerda, não há maiores contra-indicações. A possibilidade de baixar o para-brisa agrada na cidade, enquanto a suspensão parruda é garantia de conforto e despreocupação com os buracos.

O motor sobra na maioria das situações. E a transmissão, mesmo sendo mais longa que a da Z1000 da terceira marcha em diante, ainda poderia ser mais “folgada”. Na estrada a Versys viaja com confortáveis 5.000 rpm a 120 km/h em sexta, mas um pouco acima disso (6 mil giros) o motor vibra de forma incômoda e dá para sentir no assento. Basta acelerar mais (ou menos, em nome da segurança) para que ele volte a trabalhar suave. O difícil é conter a mão direita: com as duas primeiras marchas bem curtas (mais que na Z1000), a Versys pula pra frente e anda junto com as esportivas nas arrancadas. Depois é só ajustar o para-brisa para cima (ele sobe até 75 mm) e curtir a viagem. Se fosse permitido, daria para viajar com velocidade de cruzeiro na faixa dos 180 km/h sem problemas. E com ainda muita margem para a velocidade máxima.

Mas o grande barato da Versys é pegar uma estradinha sinuosa. Diferentemente das bigtrails tradicionais (com aros 19? e até 21? na dianteira), esta Kawasaki vem com rodas e pneus de moto esportiva, aros 17? vestidas com Bridgestones Battlax 120/70 na frente e 200/55 atrás. Além disso, o chassi de alumínio passou por modificações em suas quatro fixações: as superiores agora são de borracha, enquanto as traseiras são rígidas – o que permitiu reduzir a vibração e melhorar a dirigibilidade, segundo a marca. Na prática, a moto se mantém bem plantada ao solo nas retas, mas ficou mais leve de tocar em trechos sinuosos.

Isso ficou claro para mim ao pegarmos a Estrada dos Romeiros, nosso trajeto-teste com suas curvinhas travadas. Tocando em ritmo forte, a Versys nunca parece ter 250 kg e aquele tamanho todo. Ela é muito fácil de apontar nas curvas e, uma vez na trajetória, a suspensão parece na medida entre filtrar as irregularidades e manter a condução firme – show! E como sobra motor, as saídas de curva são feitas como se empurradas por um foguete. Levar o motorzão às 10 mil rpm se torna quase um vício, e logo achamos que estamos numa esportiva.

Tanta confiança ao acelerar tem seu respaldo na eletrônica: a Versys 1000 vem equipada com o controle de tração KTRC da Kawasaki, com três opções de ajuste – sendo o modo 3 o mais “castrador”, para pisos lisos ou chuva, e o 1 o mais “solto”, para os mais experientes brincarem de empinar. Outra possibilidade é acionar o modo Low de potência, que reduz a força do motor em 25% e deixa o acelerador mais manso. E como não poderia deixar de ser, os freios ABS são de série, além de os discos dianteiros terem ficado maiores (310 mm) e recebido pastilhas com novo material, para uma mordida inicial mais forte. Ou seja, dá para chegar forte nas curvas e “alicatar” com vontade. E também jogar marchas para baixo sem medo de a roda traseira travar, por conta da embreagem deslizante (tecnologia vinda das pistas).

Aliviando um pouco o acelerador, a Versys também se mostra uma ótima opção para longas viagens. O banco é bastante largo e confortável (mesmo para o garupa), enquanto o bagageiro traseiro já vem com suporte para instalação de bolsas laterais e de um baú de 47 litros (vendidos como acessório). Já a posição mais alta do para-brisa se mostrou ideal para a estrada, com quase nenhuma turbulência no capacete, sem contar a proteção das mãos. Para completar a aptidão estradeira, o tanque tem 21 litros de capacidade. Andando numa boa, conseguimos até 21 km/l de gasolina pelo computador de bordo, uma média que pode cair drasticamente (para uns 15 km/l) caso o acelerador seja mais exigido.

Tabelada a R$ 53.990, a nova Versys 1000 chega muito bem posicionada na categoria, dentro da política da Kawasaki de ser reerguer no mercado brasileiro após um passado recente complicado. A nova sport tourer é bem equipada e ficou mais bacana no visual, além de ter amadurecido como produto. Rival direta, mesmo, ainda não tem no Brasil, pois a Ducati MultiStrada espera a nova geração chegar por aqui e a BMW só terá a aguardada S1000 XR em outubro – lembrando que tanto a italiana quanto a alemã serão bem mais caras que a Kawa.

Fonte: None

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