Transição faz Governo 'parar' -

O que fará Zé Filho quando tomar de conta desta caneta de governador?!

O empresário Antonio José de Moraes Souza Filho, o Zé Filho, prepara-se para assumir um novo desafio em sua longa carreira política. Ele foi vereador e prefeito de Parnaíba, sua cidade natal, posteriormente deputado estadual por dois mandatos e, finalmente, vice-governador do estado e presidente da Fiepi, Federação das Indústrias do Estado do Piauí, em substituição ao pai, Antonio José de Moraes Souza, já falecido, e que lhe deixou um legado muito importante, segundo ele próprio costuma afirmar: cumprir a palavra empenhada.

Em 94, Moraes Souza, o pai, era deputado estadual pelo PFL (hoje DEM), o partido do governo - e que tinha Átila Lira como candidato ao executivo - e seu irmão, Francisco de Assis de Moraes Souza, o Mão Santa, decidiu ser candidato a governador. Apesar do irmão candidato, Moraes Souza manteve-se fiel ao seu compromisso partidário, evitando, assim, confronto com a chapa majoritária da legenda à qual pertencia na época. Zé Filho deve assumir a chefia do estado numa situação, aparentemente, desconfortável, porque até pouco estimava-se que ele seria candidato à reeleição, mas desde janeiro os planos foram alterados por orientação do governador Wilson Martins (PSB).

O chefe do executivo entendeu que Zé Filho deveria assumir e apoiar a candidatura de um partidário, no caso, o deputado federal Marcelo Castro, que terá como vice o médico e ex-prefeito de Teresina, Silvio Mendes (PSDB). Há quem aposte que Zé Filho vai trair o compromisso tão logo sente na cadeira de governador, mas não se pode negar que isso seria bastante temerário para seu projeto político nestas eleições, que prevê a reeleição de sua mulher, Juliana, para a Assembleia Legislativa, e a eleição de pelo menos três deputados federais para dar sustentação ao seu trabalho como líder da classe industrial piauiense, dentre os quais o médico cardiologista Paulo Márcio, seu companheiro de partido.

ZÉ FILHO VERSUS W.DIAS
Ressalte-se ainda que Zé Filho tem grande adversidade com o pré-candidato da oposição, o senador Wellington Dias (PT), contra quem passou vários anos reunindo informações e formando um dossiê sobre sua administração de sete anos e três meses que ele considera desastrosa, conforme revelado nas conversas com interlocutores próximos e setores da imprensa. Na verdade, ele esperava ser candidato e até dezembro manifestava claramente que, sentando na cadeira, o plano seria dele, por isso ainda há pessoas apostando que ele não cumprirá o acerto firmado com o governador Wilson Martins, que será de tomar conta da parte administrativa, dando sequência aos projetos em andamento, como grandes obras de mobilidade urbana em Teresina e no interior, garantindo, assim, que sejas concluídas e inauguradas até outubro.

'W.DIAS NUNCA FEZ GRANDE OBRA'
Sobre o adversário petista, ele afirma: "Wellington Dias não fez nenhuma grande obra pelo estado. Pelo contrário. Ele poderia ter aproveitado a oportunidade que teve de ser governador juntamente com um presidente que era seu amigo e seu partidário, no caso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deixando uma grande marca de desenvolvimento para o estado. Mas neste sentido nada fez. O que se teve em seu governo foi uma oportunidade perdida." Sua recomendação, até pouco tempo, era para que Wellington permanecesse no Senado. Ali, imagina, ele terá maior contribuição a oferecer ao Piauí. "Sempre reclamei que o Estado do Piauí não tinha tido força junto ao governo federal. Sempre digo que faltou obra estruturante, principalmente, na época em que o governador era do mesmo partido do presidente. A gente sai do Piauí e vê desenvolvimento, vai em qualquer estado e vê grandes obras, e aqui não."

DISCURSO SERÁ IGUAL AO DE WILSÃO
Zé Filho também reclama da durabilidade das estradas feitas pelo governo do senador petista, que têm uma qualidade precária e que deveriam permanecer por pelo menos dez anos, mas que estão ficando pouco mais de dois anos. O argumento deve ser reforçado a partir da posse. Mas esse é outro momento. Ele precisa assumir o governo, e, não sendo candidato, tratar da parte administrativa com grande esmero, deixando a questão política para Marcelo Castro, Wilson Martins e companhia limitada, não descuidando, contudo, da parte que lhe cabe neste processo, que é o apoio. Zé Filho deve assumir o governo até 3 de abril com a renúncia do titular.

EQUIPE DE ZÉ FILHO DEVE SER TÉCNICA
Neste caso, espera-se dele que assuma e implante um modelo diferenciado daquilo que se vem fazendo historicamente na administração piauiense. Pela tradição, os governos têm se caracterizado mais pela política do que pela técnica. Como industrial, portanto, com a mente focada no desenvolvimento sócio-econômico, deve implantar uma gestão mais técnica do que política. Nesta direção, reuniu um grupo de profissionais que caracterizam bem esta situação. Seus principais conselheiros são o ex-governador Antonio de Almendra Freitas Neto, os ex-deputados João Henrique de Almeida Souza e Felipe Mendes de Oliveira, e o empresário e professor universitário Deolindo Machado de Aguiar. Ou seja, a representação está, por enquanto, meio a meio, mas com uma tendência maior pela profissionalização da gestão. Felipe Mendes, embora tenha sido deputado federal e vice-governador do estado, é mais conhecido como técnico. Ele foi secretário de Planejamento do estado na gestão de Hugo Napoleão, entre 2001/2002, e secretário de Finanças da prefeitura de Teresina, na gestão de Silvio Mendes, entre 2005/2010. Zé Filho garante manter o ritmo administrativo da gestão de Wilson. Ele diz que vai continuar as obras em andamento, concluí-las e inaugurá-las.

PROJETOS DE INFRAESTRUTURA SERÃO MANTIDOS
Não deve descuidar dos grandes projetos de infraestrutura, como energia, saneamento e abastecimento de água. A Associação Industrial do Piauí, por meio do seu presidente, Joaquim Costa Filho, mandou recentemente expediente ao vice-governador no sentido de que ele dê atenção ao problema da energia. O estado tem perdido muitos investimentos por causa das constantes oscilações. A Eletrobrás Distribuição Piauí tem feito promessas que não vêm se cumprindo ao longo do tempo. O papel do vice enquanto governador será fazer pressão junto ao Ministério das Minas e Energia para que os recursos sejam efetivamente liberados. Ele sabe que tem pouco tempo e assume num momento difícil, exatamente no período eleitoral. No setor de abastecimento d'água, as reclamações são constantes. Em grandes cidades, como Teresina e Parnaíba, em algumas comunidades, costuma faltar água por dias seguidos. O mesmo se pode falar sobre esgotamento sanitário. Apenas cerca de 20% da população recebe esse tipo de atendimento. Vai também participar de eventos políticos com um agendamento que não prejudique a rotina do administrador. Mantém uma sintonia com o prefeito de Teresina, Firmino Filho, dando assim prioridade para ações de mobilidade urbana na capital. Em sua cidade, Parnaíba, vai trabalhar em consonância com as prioridades da população, não levando em conta o fato de que tem um adversário na prefeitura, o petista Florentino Neto. Florentino, é bom que se diga, é um prefeito que valoriza muito mais a parte técnica da gestão e não tem se identificado com os propósitos do seu próprio partido nos últimos tempos.

TRANSIÇÃO EM ANDAMENTO E GOVERNO PARADO
"A transição está em pleno andamento. Faremos um governo de continuidade da gestão do governador Wilson Martins. Iremos também onde for necessário para levar a mensagem do nosso candidato", enfatiza. Ele afirma que dará atenção especial ao setor de saúde. O Hospital Getúlio Vargas, em sua administração, voltará a funcionar como Pronto Socorro, mas apenas em parte, para casos mais graves, como emergências cardíacas, por exemplo. O vice também assegura que vai melhorar a infraestrutura urbana de Parnaíba e, se possível, construir uma ponte ligando a zona urbana a praia de Pedra do Sal, o que reduziria consideravelmente a distância e colocaria uma praia praticamente na porta do parnaibano. A ponte será construída na altura do aeroporto internacional "João Silva Filho", que entrará em funcionamento em abril, coincidindo com a posse de Zé Filho no governo. Vices que assumiram o poder e não foram candidatos, ao longo da história recente do Piauí, não tiveram êxito no apoio aos seus candidatos. Pode-se mencionar os casos de José Raimundo Bona Medeiros, que fez mandato-tampão entre abril e dezembro de 1986. Na época, o candidato governista era o então deputado federal Freitas Neto, que foi derrotado pelo senador Alberto Silva. A diferença foi de apenas 1,4% dos votos, mesmo assim uma derrota. Há quem responsabilize em parte o vice-governador por não ter se empenhado o suficiente na campanha do seu partidário. O mesmo aconteceu com Guilherme Melo em 94.

ESPERA-SE QUE OS ACORDOS SEJAM CUMPRIDOS
Formou-se uma super estrutura de apoio à candidatura do deputado federal Átila Lira, que terminou sendo derrotado por Mão Santa. Guilherme Melo, ainda hoje, é acusado de ter dado pouca atenção ao pleito. Nos bastidores da administração, atualmente, reclama-se de que está tudo parado. Praticamente nada funciona. Credores não conseguem empenhar. Licitações estariam paralisadas, em andamento apenas aquelas que foram deflagradas duas semanas atrás. Receber pagamento, então, nem pensar. Tudo por conta da transição. O governo atual quer repassar ao sucessor uma estrutura organizada. O sucessor quer receber a gestão sem grandes problemas imediatos para resolver. Em 3 de fevereiro, numa entrevista a emissora de TV da capital, ele disse alto e bom som: "O que for combinado, tem que ser honrado." E arremata: "Meu pai me ensinou muita coisa boa, principalmente honrar compromissos assumidos." Wilson Martins, Marcelo Castro, Silvio Mendes e companhia limitada assim esperam.

Fonte: None

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